CASA DA CULTURA SE REARTICULA EM 1995

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A reativação da Casa da Cultura de Patos de Minas deve marcar o resgate de um movimento que fragmentou-se nos últimos anos e hoje vive basicamente de ações isoladas no município. Como nova presidenta da entidade, a artista plástica Marialda Coury, eleita recentemente, terá pela frente a importante tarefa de concentrar as ações do setor cultural num projeto de ampla mobilização dos agentes responsáveis pelas mais diversas manifestações culturais do povo patense. Na década de 80, a Casa da Cultura agia como tutora de todos esses movimentos, sustentando, inclusive, as expressões do folclore e das artes populares, como grupos de fiandeiras, congados e moçambiques. Foi um período de alta efervescência cultural, quando a arte ganhou espaço em suas mais variadas formas, no campo da música, do teatro, da literatura, pintura, poesia, folclore e outras manifestações. Seminários, debates e espetáculos eram promovidos pela entidade, atraindo figuras de renomes e artistas conhecidos a nível nacional, sempre com a participação de um grande público cativo. O pico deste movimento era atingido com o “Encontrão – Cantar na Praça”, evento promovido anualmente pela Casa da Cultura.

Iniciado na Praça Dom Eduardo, localizada atrás da Matriz, o Encontrão, foi o palco máximo da cultura de Patos de Minas. Ele atraia especialmente o público jovem e as crianças, com suas barracas de artesanatos e comidas típicas, exposições de livros, pinturas e fotografias. Pela manhã, haviam apresentações de congadeiros e moçambiqueiros, atrações infantis e as saudosas retretas da Lira Mariana Patense. À tarde e à noite, aconteciam os shows musicais, números de dança e variados espetáculos artísticos. “O Encontrão, às vezes reunia 10 mil pessoas”, lembra um antigo membro da Casa da Cultura.

Em um de seus períodos mais movimentados, a entidade teve como presidente o ex-vereador Romero Santos, derrotado nas últimas eleições municipais, como candidato do PDT.

Elemento político de esquerda, há quem diga que a figura do ex-vereador, apesar de sua dinâmica no setor cultural, teria contribuído para afastar o Poder Público dos movimentos empreendidos pela Casa da Cultura.

Durante esta gestão, as ações da entidade passaram a sofrer pressões políticas, chegando a repercutir contra Romero Santos na Câmara Municipal. A realização do Encontrão, na Praça Dom Eduardo, sofreu restrições da Administração Municipal, sob alegações de que o local não se adequava ao evento.

Em 1990, sob a presidência do petista Marcinho Maciel, outro elemento político de esquerda, a entidade promoveu a última versão do Encontrão, na Praça Desembargador Frederico. Além de não atingir o mesmo brilho das versões anteriores, o evento gerou prejuízos financeiros à Casa da Cultura.

RESGATE – Uma assembléia realizada no último dia 13 marcou o primeiro passo da nova presidenta da Casa da Cultura no sentido de reestruturar as atividades da entidade. “O passado não será esquecido, mas a gente vai começar de novo”, diz um dos atuais membros da nova diretoria. Marialda Coury terá de agir como uma diplomata, na função de embaixatriz do movimento cultural junto ao poder público municipal.

Todos reconhecem na artista plástica sua capacidade de desempenhar esta função, razão pela qual, seu nome foi absorvido com naturalidade pelos agentes da cultura local. Para começar de novo, ela conta com o apoio de um Conselho Deliberativo formado por três representantes de cada uma das 14 entidades que, no momento, compõem a Casa da Cultura. Os membros do Conselho, eleitos juntamente com a nova presidenta, já trabalham na elaboração dos planos de atividades e diretrizes da entidade no fomento das expressões artísticas, folclóricas, literárias, plásticas, cinematográficas, musicais e teatrais no município.

No próximo dia 2 de abril, quando acontecerá a solenidade de posse da nova diretoria da Casa da Cultura, o embrião deste espírito de resgate do movimento cultural de Patos de Minas já estará sendo inseminado na programação definida para o evento. A solenidade terá ato formal no Teatro Municipal e atividades paralelas na Praça do Coreto, com espetáculos de dança e outras manifestações artísticas e folclóricas.

Espera-se que, a partir daí, o movimento encontre as condições necessárias para buscar sua origem, fortalecendo, principalmente, as mais puras tradições dos patenses no campo da cultura e das artes populares.

* Fonte e foto: Texto publicado com o título “De volta ao começo” e subtítulo “Movimento cultural busca sua origem” na edição de fevereiro-março/1995 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.

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