O PERISCÓPIO – MURILO CORRÊA DA COSTA
Pois é moçada, veio o Encontrão, viu e venceu. Sinceramente não esperava que a iniciativa tivesse tanto êxito. Foi um domingo maravilhoso aquele quando pudemos ter uma idéia de nosso potencial artístico e cultural e estamos orgulhosos e felizes com a quantidade e com a qualidade de nossos artistas. Cantores, músicos, artesões, pintores, desenhistas e permitam que, por um momento, seja um pai coruja já que minha filha Cristina apresentou desenhos admiráveis. E não foi só ela pois a Amelinha também está no mesmo plano. A todos que participaram do Encontrão o meu abraço e meus votos para que marquem outro logo encontro que seja um verdadeiro Trombadão.
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COMUNICANDO – JOSÉ AFONSO
O dia 19 de abril de 1981, um domingo de Páscoa, ficará na história da arte de Patos de Minas, graças à realização do 1.º Encontrão-Cantar na Praça. Não só foi um encontro das fontes artísticas de nossa cidade e mais alguns convidados de fora, mas também um encontro da arte com o povo patense.
As emoções começaram logo cedo com o encontro, no centro da Praça, das duas bandas musicais da cidade: a do 15º Batalhão da Polícia Militar e a tradicional Lira Mariana Patense. Já naquele momento a Rádio Clube de Patos estava transmitindo. Eu, que ouvia, fiquei emocionado. Quem já estava na praça chorou. Começa bem o “Encontrão”.
Depois vieram as atrações para crianças, com palhaços, encenações (ressalte-se aqui a notável performance da paraibana Geyse Helena) com “Sonhos de um palhaço”, apresentações de grupos musicais com música própria para a garotada.
Já de manhã, estava organizada a Feira de Arte e Artesanato, com grande visitação. Lá se viam, por exemplo, exposição de arquivos do Cine-Clube, mostra de fotografias, livros de autores patenses, arquivo de discos e troféus da dupla sertaneja Osmano e Manito, e inúmeros trabalhos de artesanato. Realmente, uma beleza!
Na parte da tarde, já com grande movimento de pessoas, apesar do forte sol, houve a abertura oficial da 2.ª Semana do Índio em Patos de Minas, numa promoção da Casa do Estudante Patense. Novamente a presença das bandas e também, do Grupo Banda.
Em seguida começou a última parte do “Encontrão”, o Show Poético-Musical com a presença de mais de 40 participantes, entre grupos, poetas e artistas que se apresentaram individualmente. As apresentações se prolongaram até 1h e 15m da madrugada do dia 20.
O “Show Poético-Musical”, foi, sem dúvida, o ponto alto do acontecimento. Foi um verdadeiro desfile de artistas autênticos, com um recado a dar e uma proposta de trabalho. Havia originalidade e autenticidade nas apresentações. Começou com novo show das bandas do 15.º BPM e Lira Mariana e terminou com o Clubinho Carnavalesco do Povo
Na opinião, dois objetivos dos promotores do 1.º Encontrão-Cantar na Praça, realizado na Praça Dom Eduardo, junto ao antigo cruzeiro (o que ficou bastante original), foram atingidos: a demonstração da grande capacidade profissional dos elementos da chamada “Comissão Pró-Casa da Cultura”, e a reunião de todas as manifestações artístico-culturais da cidade e da região, pelo menos a maioria. Isso foi inegável. Quanto ao terceiro objetivo da promoção, sensibilizar as autoridades para a necessidade da Casa da Cultura, isso veremos agora, quando surgir alguma ação prática ou não.
Logicamente, estou me referindo ao “Encontrão”, resumidamente. Vale ressaltar que a promoção se constituiu no maior sucesso artístico dos últimos tempos em nossa cidade. Gostaria de registrar também que o patrocínio do 1.º Encontrão-Cantar na Praça, foi da Empresa Gontijo e da Fosfértil, o que contou com a ajuda sempre oportuna do jornalista Oswaldo Amorim.
Num dos textos apresentados lá no palco, pela promoção, ouvi uma frase que me tocou pelo seu conteúdo definitivo, de garra pelo ideal: “O 1.º Encontrão pode não ficar na história de Patos de Minas, mas certamente ficará na história daqueles que o promoveram”. Beleza, siô!
E, prá finalizar, fica aqui o registro do grande sucesso que alcançou junto ao povo, a escolha do já saudoso Joaquim do Fubá, grande poeta popular, para as homenagens do “Encontrão”. Que fotografias, heim Wilson Morais? Heim, Xaulim?
A Rádio Clube de Patos teve a felicidade de acompanhar na totalidade, de cedo até a madrugada de segunda-feira, todas as atrações do 1.º Encontrão-Cantar na Praça. E que o próximo venha rápido e possa contar com muita ajuda de todos os patenses.
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TRIBUNA ESTUDANTIL
Patos de Minas parou para ver a movimentação cultural e artística gigante, acontecida no dia 19 de abril passado, quando dezenas de artistas patenses e convidados, foram cantar na praça, falar seus versos, entoar seus dobrados e canções como as Bandas do 15.º BPM e a nossa tradicional e querida Lyra Mariana Patense. Vários artistas da pintura, escultura, artesanato, também foram para a praça mostrar seus trabalhos, que no silêncio do anonimato foram executados, e esperavam como que uma oportunidade para virem a público mostrar a pujança de nossa arte.
E o primeiro Encontrão marcou para os artistas, literatos, músicos, cantores, compositores, pintores, escultores, foliões e congados, e o mais importante, para o povo em geral, a oportunidade de darem-se as mãos num movimento uníssimo da nossa cultura.
E o povo foi para a praça, vibrar com o entusiasmo e com a alegria da liberdade de cantar, de sorrir, de viver. O primeiro Encontrão deixou de ser um sonho suspirado pelas entidades culturais e pessoas interessadas no desenvolvimento cultural e artístico de nossa terra, para ser uma realidade concreta, que veio mais uma vez presentear a existência de uma pujança artística e cultural de nossa gente. A Comissão Pró-Casa de Cultura encabeçou a promoção, e teve a seu lado toda a imprensa falada e escrita, os poderes públicos, o comércio em geral, as pessoas interessadas em nosso crescimento no setor artístico-cultural. Isso, a nível de organização, pois o povo foi a peça fundamental para o êxito indubitável do primeiro ENCONTRÃO. Desde a manhãzinha do dia 19 de abril até a madrugada do dia seguinte o povo esteve presente, em número invejável, prestigiando a promoção que visava, na verdade, dar ao povo, o direito livre de cantar na praça.
Em síntese, o primeiro Encontrão veio mostrar de público a grandeza de nossa arte e de nossa cultura, valorizar nosso folclore, reunir em praça pública povo e arte, liberdade e seriedade cultural, e sobretudo, veio confirmar a necessidade de um local adequado para que possam frutificar as capacidades de nossa gente – NOSSA CASA DE CULTURA. Aos olhos do povo saltou a verdade de que a Casa de Cultura, é relamente uma reivindicação mais que justa. Esperamos que as autoridades tenham sentido esta ealidade, e que as mãos se dêem para que ela, como o Primeiro Encontrão, deixe de ser um sonho suspirado por todos, para se tornar uma realidade concreta para benefício de todos nós.
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SEM FRONTEIRAS – VICENTE DE PAULO RODRIGUES
É como diz o ditado popular: “um dia a verdade virá à tona e então os pobres de espírito reconhecerão que precisam enriquecer-se espiritualmente, para não se desesperarem diante de sua própria ignorância”. E Patos de Minas viveu dia 19 de abril, o momento marcante e histórico de uma realização gigante, concreta e mais ainda objetiva.
O Encontrão veio nos provar que temos um grande potencial artístico-cultural, assim como toda a região, pois aqui compareceram vários artesãos expondo seus trabalhos abrilhantando ainda mais nossa festa. O fruto desse trabalho, vale-nos reconhecer, foi altamente qualificado. Vimos todos como que providos de um mesmo ideal de luta, provando também que o que se necessita é apenas um apoio mais intenso, não da Comissão Pró-Casa de Cultura, mas sim das autoridades locais.
Quando na manhã do dia 19, a Banda do 15.º Batalhão e a nossa mui querida Lira Mariana fizeram o 1.º Encontro, ou seja, a abertura com uma alvorada festiva se encontrando (pois uma saiu do Bairro do Brasil e outra do Bairro do Rosário) uma na parte de cima e outra na parte de baixo da Praça Dom Eduardo, foi como se um jato de fogo nos aflorasse e sentimo-nos crianças novamente, daquelas que saem correndo atrás da Banda fazendo mil e uma traquinices. E com isso a Praça, ali pelas 8:00 horas, já estava tomada pelas crianças. Em suas faces o brilho, a vivacidade e a ansiedade para constatarem, logo após com uma certeza de que a praça mais do que nunca lhes pertencia, e aí se sentiram donas do mundo. A Comissão acertou em cheio quando da preocupação com as crianças. Elas fizeram da manhã do domingo, sua própria festa, sem se preocuparem com nada, cantando, brincando de roda, pintando os braços, pernas, cabelos e o corpo todo.
E não foram só as crianças, havia muita gente que se entusiasmou e entrou na bagunça. O clima era o melhor possível. De parabéns a interpretação de Geyse Helena, com um show maravilhoso de mímica.
Desde a manhã e estendendo por todo o dia, já havia na Barraca da feira de Arte e Artesanato trabalhos expostos, muita pintura, trabalho manual, muito artesanato. Artistas patenses se revelaram, mostrando a arte acima de tudo. Cristina Corrêa da Costa, Amelinha, Adão Marins (que criou e pintou com uma perfeição incrível o quadro mais comentado do dia, o “Joaquim do Fubá”) e Edinho foram muito elogiados, justamente por nunca terem exposto seus trabalhos ao público patense.
A tarde continuando a programação, o pessoal ali presente provou que sabe valorizar, que sabe prestigiar (às vezes), uma valorosa promoção, apreciando, julgando e conhecendo.
O Torneio de Truco foi muito concorrido, com uma numerosa participação.
Às 15:00 horas foi aberta a 2.ª Semana do Índio. Onde os indígenas (natos) Álvaro e Marcos, falaram sobre mil problemas da invasão das multinacionais, inclusive o Projeto JARI (o filme sobre a verdadeira história deste Projeto será exibido dia 30 de maio no Cineclube) e todos os problemas que afligem o índio no Brasil. Foi bastante interessante e esclarecedor.
Começando às 18:00 horas o “show musical e poético” foi um dos pontos altos. Ficamos conhecendo trabalhos numerosos e bastante valiosos de muitos artistas e grupos musicais, dos quais já havíamos ouvido comentários elogiáveis, mas que ainda não conhecíamos. E realmente pudemos constatar que no Encontrão o saldo positivo foi muito alto e muito compensador.
Agora vejam, meus senhores, aqui se faz necessário urgentemente um local onde isto possa continuar, para que o nosso potencial artístico não morra, que haja a cada dia o surgimento de novos valores, desde que se conserve hoje, para que não desanimem ou que não saiam daqui em busca de apoio, ou busca de um reconhecimento, ou seja, que aqui plantem suas raízes e sinceramente não vemos o porque de não apoiá-los.
Já se passou quase um mês e não soubemos de nenhuma manifestação por parte das autoridades. Mas como aqui em Patos, o lema é ESPERAR, vamos ver se o “I ENCONTRÃO-CANTAR NA PRAÇA” sensibiliza os “homens da linha de frente”. Não queremos que este acontecimento tenha passado em brancas nuvens, que seja reconhecido como um bem pela arte e principalmente pela cidade em si.
UM SALDO NEGATIVO
A barraca da Feira de Arte e Artesanato que nos foi gentilmente cedida pelos membros da feira, na noite de segunda para terça-feira (20 e 21/04) foi ROUBADA uma lona de cobertura. A Comissão Pró-Casa de Cultura pede a quem souber de alguma pista ou indicação, que lhes informe através do telefone 821-2513 ou no Departamento de Educação e Cultura. Não se pode confiar mesmo. Este “roubo”, não foi nada agradável mesmo porque o pessoal da Feira precisa da barraca para armarem no Parque de Exposições onde deverá estar expondo, na Festa do Milho.
Queríamos agradecer ao jornalista Oswaldo Amorim, por ter intercedido junto às empresas Gontijo e Fosfértil para que patrocinassem uma parte do Encontrão, e também por ter incluído no programa “A VOZ DO BRASIL” notas referentes ao acontecimento. E também ao Grupo Brasileiro de Propaganda (GBP), na pessoa de João Batista Olivieri pelo belíssimo cartaz (que foi o mais bonito entre todos os que já foram feitos de programações de Patos). E finalmente ao público que compareceu em massa, dando prova de apoio, disciplina e bom gosto.
* Fonte: Edições n.º 23 e 24 da revista A Debulha de 30 de abril e 15 de maio de 1981, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.
* Foto: Arquivo de Gilmar Ribeiro de Castro.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.