Bons tempos aqueles em que eu tinha muro baixo e todos que passavam aqui me viam como que afundada. Se minhas paredes não se enganam, foi quando instalaram naquela praça logo ali o cruzeiro¹. Bons tempos, de gente humilde que habitava essa porção da Cidade, porém trabalhadores e do bem. Óbvio, como em qualquer época, sempre tinha um mais escalafobético que destoava do geral. E assim os dias foram passando. Certa vez, sei lá porque, resolveram aumentar um pouco o muro para cima. Será por quê? Logo imaginei que estavam querendo me esconder. Meus rebocos murmuraram dizendo que não era nada disso. Mais um tempo depois, aumentaram mais um pouco o muro. Aí já imaginei um monte de bobeiras. Mas minhas janelas me disseram que é assim mesmo, para deixar de pensar em coisas ruins. Legal, tudo bem, fui levando a minha existência até que percebi que muitas semelhantes a mim estavam sendo demolidas para a construção de edifícios. Cruel, comecei a pirar. E pirei de vez quando esse troço aí ao meu lado substituiu uma de minhas semelhantes. Acabou para mim. Agora tenho certeza que serei uma das próximas, serei arrancada desse buraco para a eternidade da História de Patos de Minas. Ora, não tenho dúvida que deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se à Rua Tonho do Nico a poucos metros da Praça do Cruzeiro, no Bairro Nossa Senhora das Graças. Leia “Praça do Cruzeiro”.
* Texto e foto (19/11/2020): Eitel Teixeira Dannemann.