Lá para as bandas dos Vieiras, quando ainda não existia o Paraíso Camping Clube, o Raimundo e o Tonho do Zé Bento, dois peões que trabalhavam numa fazenda da região, caminhavam em direção aos seus lares, distante pouco mais de três quilômetros do trabalho. À beira da acanhada estrada havia uma casa há muito abandonada. Passando por ela, o Raimundo percebeu algo e comunicou ao amigo:
– Olha aquela cisterna aberta, ainda não tinha reparado nela. Será que é funda?
– É mesmo, quantas vezes já passamos por aqui e nunca reparamos nela. Vamos até lá.
E foram. Não dando para ver se era funda ou não, o Tonho do Zé Bento sugeriu:
– Vamos jogar uma pedra lá dentro, quanto ela bater no fundo a gente escuta o barulho e aí calcula.
Assim eles fizeram, mas não escutaram nada. Então jogaram uma pedra maior, mas de novo nada. Depois de umas dez tentativas e nenhum barulho, o Raimundo, olhando em volta, avistou do outro lado da estrada um tronco de árvore caído ao chão com uma corda presa a ele. Numa última tentativa, resolveram pegar o tronco, e não conseguindo desatar o nó da corda, com muita dificuldade jogaram a peça com a corda e ficaram esperando se, dessa vez, ouviriam algum barulho. De repente, uma cabra passou correndo por eles e, estranhamente, pulou dentro da cisterna. Os dois se entreolhavam assustados quando um homem apareceu e perguntou o que eles estavam reparando na cisterna. O Tonho do Zé Bento respondeu:
– A gente estava tentando calcular a fundura dessa cisterna quando, coisa mais esquisita do mundo, veio uma cabra quase que voando e se atirou dentro dela. Num tinha visto isso na minha vida. Acredite se quiser, ela passou por nós quase que voando e se atirou dentro da cisterna. Será que ela era louca e se suicidou? Meu senhor, a cabra é sua?
Já rodando nos calcanhares para se retirar, o homem falou:
– Não, essa cabra não é minha, eu tenho uma que está aqui pertinho amarrada com uma corda num tronco de árvore.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.