Raimundo completou os quatro anos do primário no Grupo Escolar Marcolino de Barros. Fez a Admissão para o primeiro ano ginasial no Colégio Marista. Lá completou o terceiro ano científico, pronto para enfrentar o Vestibular. Como era seu enorme desejo, formou-se na UFV em Economia. Filho de família tradicional, aqui montou um negócio de revenda de carros. Foi nesse período que ele se casou com sua namoradinha de infância, a Cacilda.
Mas eis que a empresa faliu. E nessa, a casa do casal doada pelos pais teve que ser vendida para pagar as dívidas, obrigando os dois a morar de aluguel. Foi duro, mas a Cacilda aguentou o baque ao lado do marido. Passado pouco tempo, o banco tomou deles o Opala que o Geraldo tanto amava, para amortizar um empréstimo. E a Cacilda, honrada esposa, serena, compreensiva das dores do marido, sempre a seu lado, aconchegando-lhe, dando-lhe o carinho necessário para o soerguimento que ela acreditava viria logo.
Veio uma oportunidade boa: trabalhar como assessor econômico de uma empresa agropecuária. A vida de Geraldo e Cacilda começou a melhorar, mas… a empresa faliu. Novamente o casal entrou em crise financeira. E a Cacilda sempre ao lado do marido, toda carinhosa, aguentando as barras sinistras da situação. Tinha como ficar pior? Tinha! O Geraldo, com apenas 67 anos, sofreu um AVC e foi internado no Hospital Regional. Passou quinze dias na UTI. Enquanto isso, a Cacilda não arredava o pé do hospital. Quando foi liberado para o quarto, a situação do Geraldo inspirava sérios cuidados. A seu lado, manhã, tarde, noite e madrugada, a Cacilda.
Certa noite, o Geraldo pediu para a Cacilda se aproximar. Com dificuldades, falou:
– Minha vida se transformou numa desgraça, e durante tudo o que aconteceu comigo você sempre esteve ao meu lado.
Cacilda caiu em prantos, e enquanto uma corrente de lágrimas escorria sobre a cama do marido, ela falou:
– Você é o amor da minha vida, sempre estarei ao seu lado, em qualquer situação.
O Geraldo arrematou:
– Pois é isso, mulher, a sua presença ao meu lado só me trouxe azar, sua disgranhenta, se continuar contigo vou é morrer. Tchau!
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.