PAZOLIANA − CAPÍTULO 13: OS PRIMEIROS SINAIS DA NOVA ERA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

“A mudança é a lei da vida. E aqueles que confiam somente no passado ou no presente estão destinados a perder o futuro”. (John Fitzgerald Kennedy − 1917-1963)

Mês de junho do ano de 1979. O Presidente João Batista Figueiredo encaminhou ao Congresso o projeto de lei nº 6.683, a Lei da Anistia, uma luta dos opositores da ditadura que havia começado em 1968, protagonizada por estudantes, jornalistas e políticos de oposição ao regime. Em Los Angeles, morreu o eterno cowboy John Wayne e aqui o prestigiado empresário teatral Procópio Ferreira.

Sued e sua trupe estavam ligados na movimentação do espaço em volta da Terra. Tinham catalogados todos os satélites e cada uma de suas funções. Questão de segurança. Eles não presenciaram o lançamento da americana Voyager 1 em 5 de setembro de 1977, chegando a Júpiter em março de 1979. Mas presenciaram quando ela descobriu os anéis e os satélites daquele planeta. Quase morreram de rir quando o russo Cosmos 954, militar, contendo um pequeno reator nuclear, caiu numa área desabitada do Canadá. O mais engraçado para os Deuses foi a reação americana, que chegou a lançar um alarme atômico para os países ocidentais. Mas ficou nisso. Enquanto o russo caiu, o americano Skylab continuava dependurado no vácuo já apresentando sinais de fadiga.

Na realidade, o que mais despertava a curiosidade dos Deuses era a Área 51, uma área militar restrita, com aeroporto, ultra secreta e ultra vigiada, no deserto de Nevada, próxima ao Groom Lak, Estados Unidos, mas que não aparece em nenhum mapa. É como se não existisse. Dizem que é utilizada para testes de tecnologia secreta de novas espaçonaves militares. Alguns acreditam que é uma base de testes secretos. Dizem ainda que é para lá que são levados Óvnis e seus ocupantes que caíram na Terra para serem examinados. Obviamente, o governo americano nega veementemente a existência da Área 51. Há muito tempo Sued acompanha a movimentação por lá. E foi lá que aconteceram inúmeras reuniões entre os homens de divisas para deliberarem ações contra eles, os Deuses. Por causa de algumas destas reuniões, eles, os Deuses, foram obrigados a se ausentarem da Terra durante cinco anos. Agora, na volta, a Área 51 continuava sendo monitorada. Agora era diferente, pois Sued e sua gente estavam equipados para não serem vistos.

Enquanto mais um mundaréu de coisas acontecia ao redor do planeta naquele mês de junho de 1979, num domingo, dia 17 de um sol radiante em Vila do Córrego Dobrado, oito horas da manhã. Igreja lotada, todos de ouvidos atentos às palavras litúrgicas de Padre Alaor. Em tempos passados, era comum o padre convocar o falecido Arnaldo, que proferia salutares sermões em prol da religiosidade. Num instinto sem explicações, Januário foi chamado. Pedido atendido, o rapaz causou furor àqueles cristãos presentes.

– Meus amigos de Vila do Córrego Dobrado, que a paz esteja convosco. Quantas vezes meu honrado pai aqui esteve de pé com a única missão de transmitir a vocês a verdade de Deus. Sim, Deus, o criador do céu e da terra. O criador da fauna e da flora. O criador do homem e da mulher. Vocês, meus irmãos, estão aqui hoje porque Deus, num momento de rara felicidade, assim o quis. Você, prezado Doutor Mangabeira, quantas vidas curou? Aqueles que foram salvos por você, que agradeçam a Deus acima de tudo, pois sem Ele, estariam hoje ardendo nas chamas do inferno. A senhora, Dona Maristela, suas mãos estão ungidas com o suor da face do Todo Poderoso. Através de suas mãos, quantas ervas foram transformadas em salvação? O suor da face de Deus ungiu as suas mãos para que transformassem ervas em salvação. O senhor, seu Bartolomeu, aprendeu o seu ofício com quem? Louve a Deus ainda por se manter próspero. Todos vocês, ouçam-me com atenção. Recebemos diariamente graças de Deus. Quase ninguém repara nestas graças. E os poucos que reparam, se aproveitam destas graças em benéfico próprio. Ninguém se lembra de agradecer a Deus. Veem aqui aos domingos, poucos durante a semana, com as melhores roupas e até de carro. Por um acaso a igreja é local de desfile de roupas? Por um acaso a distância é tão grande que justifique a necessidade de carro? Irmãos, prestem atenção. Deus está desgostoso, choramingando pelos cantos celestiais ante a presença de tanta picuinha e tanta falsidade. De que adiantou o sacrifício de Jesus Cristo? Para que alguém aqui na calada da noite se encontre furtivamente com outra pessoa desonrando dois lares? Para que uma balança de mercearia marque novecentas gramas quando deveria marcar mil? Para que uma placa de farmácia anuncie um remédio em promoção quando o preço real é aquele mesmo? Para que um pão fique enorme e pesando mais por causa da presença de aditivo químico? Para que uma consulta dure cinco minutos porque o honorário é pouco e por isso há a necessidade de muitas consultas num dia para compensar? Meus irmãos, qual o objetivo da vida de vocês? Trocarem sorrisos aqui dentro e mal se darem as costas palavras venenosas direcionadas ao outro serem ditas em silêncio? Mostrar que pagou mil reais por um vestido, mas não ter dinheiro para acertar a conta da mercearia? Mostrar o carro novo com quatro prestações atrasadas? Deus está furioso com todos nós. Jesus Cristo está furioso com todos nós. Para Pai e Filho, tudo leva crer que foi em vão seus sacrifícios. A humanidade foi salva? Olhem-se num espelho. Perguntem a vocês mesmos se estão fazendo a sua parte para tornar o mundo harmonioso. Por que, nos bailes de forró, bebe-se tanto? Por que, tonto, o sujeito mexe com mulher alheia? Por que o ofendido às vezes se vinga derramando o sangue do irmão? Por que, mesmo a Vila sendo uma cidade pequena, um irmão ofende o outro por uma simples fechada de carro? Irmãos, vocês que são pais, eduquem melhor os seus filhos. Por que estes jovens saem desembestados pela Vila montados numa lambreta? Querem se vangloriar de que? Enquanto os jovens se perdem na ociosidade, os pais se perdem em casa com hostilidades mútuas. Irmãos, atentem para os novos tempos que estão chegando. Deus está irado. Jesus Cristo está irado. Enquanto há tempo, olhem para dentro de si. Preparem-se o mais rápido possível, pois uma nova era está próxima a se iniciar. Está no Livro. Ajustem-se enquanto é tempo. Ajuízem-se antes que Deus perca a paciência e nos deixe. Está próxima a nova era. Aí daquele que não se adaptar aos novos parâmetros. Ouçam-me, irmãos, atentem-se para o sinal que está prestes a chegar. Assim seja. Que a paz divina esteja convosco.

Silêncio geral. Januário chegou ao banco comprido onde estava sentada sua família. Mãe e filhas se levantaram. De mãos dadas, caminharam lentamente pelo corredor entre os bancos. Ninguém se atreveu a acompanhá-los. Somente os olhos seguiam os passos, até que transpuseram a porta principal. De repente, ouviram lá de fora a voz de Mabélia. Não era a voz de uma mulher viúva e ressentida. Era incisiva e pronunciava palavras de ordem. Deixando o estupor de lado, todos se levantaram, empurrando uns aos outros, à procura das portas. Depararam-se com a figura da mulher em cima de um banco da praça. Boquiabertos, ninguém acreditava no que estavam presenciando. Totalmente séria, a viúva falava alto, mas serenamente.

– Irmãos, espero que tenham ouvido com atenção as palavras de Januário. Atentem com tudo. Uma nova era está chegando. A nossa Vila será o berço de uma nova humanidade. Vocês podem participar, desde que tenham coração e vontade. Deixem as picuinhas de lado, abandonem a ostentação, vistam-se somente de honra e paz. Transformem-se, irmãos, somente com a vestimenta da honra e da paz é que vocês serão salvos.

– Todos aqueles que estavam presentes à missa ouviam as palavras, e mais outros, muitos outros, que foram aos poucos chegando. Padre Alaor conseguiu vencer a multidão e ficou de frente à mulher

– Dona Mabélia, o que é isso?

– Padre Alaor, atente-se para a nova era, talvez o senhor nem seja um dos escolhidos.

– Que é isso, senhora, que papo é esse de nova era? O que está fazendo em cima deste banco?

– Padre, ouviu bem as palavras de Januário?

– Ouvi e até agora não estou acreditando no que ouvi, tanto quanto não estou acreditando que uma mulher tão respeitada como a senhora esteja em cima de um banco de praça.

– Meça as palavras, meu bom Padre, não é desonra para nenhuma mulher considerada de respeito subir a um banco de praça com o intuito de proferir verdades. Ouçam todos vocês, irmãos – gritou Mabélia. Atentem para as palavras de Januário. Abandonem as…

– Mabélia, o que é isso? Desça daí – gritou uma amiga do meio do povo.

– Vocês estão cegos, vocês…

– Dona Mabélia, por favor, seja sensata e desça daí – insistiu o padre.

– De acordo com a constituição brasileira eu sei que não me é permitido subir em um banco e proferir palavras em praça pública a quem quer que seja. Para eles, os ditadores, nós não somos ninguém. Mas será por pouco tempo, muito pouco tempo, vocês verão. Estou me lixando para eles. Se não querem ouvir, que se retirem. Quem quiser ouvir as novas verdades, que fique.

A situação caminhou para o caos. Nem o Padre conseguia mais ser ouvido. Mabélia continuou o seu discurso em meio a um vozerio tremendo. Aos poucos, um a um, a turba foi se afastando, até restar um único presente, o Padre Alaor. Nem assim a mulher se calou. Ao contrário, aumentou ainda mais o tom da voz, para aqueles que se iam ao longe lhes ouvisse. Até que, demonstrando cansaço, calou-se. Sentada, respirou fundo e encarou o Padre, que sentara ao lado. Este falou:

– Dona Mabélia, por favor, me explique tudo isso, o que deu na senhora? Jamais eu esperava uma reação deste tipo partindo justamente da viúva do Arnaldo.

– Padre, é muito simples. Estão acontecendo coisas que lhe são totalmente estranhas. Talvez o senhor não tenha capacidade de entendê-las, ou melhor, de assimilá-las.

– Por mais que eu tente entender, jamais conseguirei assimilar a ideia de uma mulher como a senhora tendo tal atitude. Conheço-a há muito tempo. És até tímida. Desde a morte do Arnaldo está serena e praticamente não sai de casa. De repente, a senhora está tendo praticamente um acesso de loucura. Aquele discurso totalmente fora de propósito do Januário já foi um acesso de loucura. Agora, eis a senhora proferindo estas palavras. Diga-me, por favor, que coisas estranhas estão acontecendo?

– Por que o senhor considera o discurso do Januário totalmente fora de propósito?

– A senhora deve se lembrar que eu tinha o hábito de convidar o seu falecido marido a falar aos presentes. Todos gostavam de seus discursos. Hoje, até agora não sei o motivo que me levou a isso, convidei o Januário para fazer o que o pai fazia. Depois de ouvir, fiquei estupefato.

– Mas, Padre, por que a estupefação?

– Ele ofendeu um monte de gente com acusações sem provas e…

– Peraí, peraí, Padre, por acaso ele citou o nome de alguém?

– Na realidade, não.

– Eis aí a questão, ele falou em generalidades, em situações que ocorrem todos os dias aqui na Vila.

– Não é bem assim. Ele falou em mercearia, farmácia, padaria e médico. É evidente que todos que ouviram vão relacionar os comércios citados aos respectivos donos, não acredita?

– Que seja, então, Padre, mas por trás de cada palavra não se esconde a verdade?

– É, sou obrigado a concordar contigo. Em todo o caso, ele conseguiu irritar aquelas pessoas, podem ser futuros inimigos.

– Januário não está nem um pouco preocupado com futuros inimigos, a intenção dele é justamente separar o joio do trigo para que a nova era se instale.

– Isso, isso aí, afinal de contas, que nova era é essa?

– Padre, isso é uma coisa minha e dos meus filhos. Talvez, como o senhor mesmo disse, tenha sido um ataque de loucura. Será que depois de tanto tempo após a morte do Arnaldo só agora começo a delirar?

– Não sei, talvez tenha sido apenas uma histeria passageira. Por favor, não faça mais isso. Sendo ou não histeria, alarmou o povo. O que eles vão pensar sobre uma tal nova era? Vamos, Dona Mabélia, vou acompanhá-la até sua casa.

No caminho até a casa, vários daqueles que presenciaram a cena olharam desconfiados para Mabélia. O que teria acontecido àquela mulher tão séria? Ao mesmo tempo, refletiam sobre tudo o que dissera Januário. Teria razão de ser todas aquelas palavras? Chegando ao destino, a mulher fez menção de se despedir do Padre, mas este queria entrar para conversar com os filhos. Com muito custo Mabélia o convenceu que não seria o momento adequado.

O acontecimento da igreja foi o assunto principal na boca do povo em toda a Vila. O dia passou sem maiores transtornos. De interessante foi o Zé Limão, com os primeiros raios de sol, ter sido levado ao Hospital Regional por causa de um profundo corte na testa, fruto de um tombo alcoólico. Como passou a manhã toda em observação, ouviu o que as pessoas comentavam. Foi o bastante para danar a falar que a casa de Mabélia era constantemente iluminada por uma luz azul e outras extravagâncias. Ninguém lhe deu ouvidos. Disse um paciente que estava na espera: − o que o álcool faz, credo! Com isso o dia passou e a noite chegou. Era por volta das nove e meia. Na casa dos Mantiqueira, portas e janelas estavam cerradas. Não havia uma única luz acesa. Na sala, mãe e filhos estavam sentados no chão, formando um círculo. Os rostos eram iluminados pela tênue luz azul que se irradiava do colar. Mabélia tomou a palavra:

– Mara, está pronta para a concepção? Sabe perfeitamente como se comportar?

– Sim, mãe.

– Januário, convoque Etnaduja.

Alguns minutos após, o anjo de Sued se materializou perante os Mantiqueira acompanhado de dois médicos prateados. Primeiramente, parabenizou Januário pelo discurso que proferiu na missa da manhã. No quarto das meninas, o ambiente propício para o objetivo, isto é, a inseminação artificial com o sêmen de Sued, foi devidamente preparado. Mara foi conduzida ao cômodo. Entraram com ela os dois médicos alienígenas. Etnaduja ficou na sala com Mabélia, Januário e Sofia. A mãe estava ansiosa. O anjo de Sued tomou a palavra:

Minha boa Dona Mabélia, através daqueles dois anjos, lá dos Céus Sued conceberá Mara. Não podemos interferir no momento em que Sued esteja, com seu poder, concebendo a moça. Acalme-se que está acontecendo neste exato momento o primeiro real passo da Era Pazoliana. Precisamos discutir agora os procedimentos futuros.

– Louvado seja Sued, Etnaduja. Perdoa a ignorância desta humilde mãe. Vejo-me agora no lugar de Ana, mãe de Maria, a concebida por Deus. É uma emoção muito forte para mim, assim como será para Mara. Veja só, Etnaduja, veja como os nomes se parecem: Maria e Mara. Apenas um i de diferença. Será que minha filha terá estrutura psicológica para enfrentar esta gravidez assim como teve Maria? Oh nobre Etnaduja, no nosso caso não teremos um José. O que faremos para justificar a gravidez de Mara? E como faremos para justificar uma criança de seis dedos nos pés e nas mãos?

– Não, não será uma criança com seis dedos. A senhora deve ter esquecido o que disse Sued. Todos os nascimentos iniciais serão de crianças com cinco dedos¹, como qualquer criança terráquea. O poder de Sued não deixará se transparecer o aumento de volume do abdômen da moça.² É o que vocês chamam aqui de barriga. Não, ela não terá barriga. Nas mulheres terráqueas, o período de gravidez é em média de nove meses. Mas Sued ordenou que a gravidez de Mara fosse de seis meses³ para que o processo se acelere, pois logo depois será a vez da concepção de Sofia.

– Por que não fizeram o mesmo com Sofia agora? – perguntou Januário.

– Assim ordenou Sued.4

– Louvado seja Etnaduja – tomou a palavra Mabélia. Humildemente, eu fiz uma comparação entre Maria e Mara. No caso de Maria, ela teve José como companheiro. Mara é solteira. Como vamos justificar a sua gravidez?

– Sued é o Todo Poderoso, ele sabe perfeitamente o que faz, por isso programou a concepção divina de Mara para este mês de junho. Como a gestação será de seis meses e a moça não aparentará barriga, ninguém da Vila saberá que está grávida. Além do mais, ela não apresentará os sintomas de gravidez característicos das humanas. É mais uma bênção de Sued. O primeiro pazoliano do planeta Terra virá ao mundo no final de dezembro próximo, provavelmente depois das festas que vocês chamam de Natal. O parto será feito na morada celestial, e na morada celestial Mara ficará o equivalente a 60 dias terrestres, tempo para que a criança seja amamentada e cresça, quando terá a aparência de um ano. Nesta época, a moça estará em período de férias escolares. Para a população da Vila, Mara estará em Pico da Glória fazendo um curso qualquer de férias. Depois de transcorrido o período estabelecido, Mara descerá à Terra no último final de semana antes de reiniciarem as aulas. Toda a população da Vila terá a oportunidade de presenciar a moça como normalmente é na missa de domingo e nos três primeiros dias de aula. Asued ficará na morada celestial por cinco dias terrestres. Enquanto mãe e filha estiverem na morada celestial, Mabélia simulará os preparativos em Pico da Glória para a adoção de uma criança. Assim será, de acordo com o desejo de Sued. Para toda a população da Vila, Asued será uma criança de um ano adotada por Mabélia.

– Oh, Etnaduja, Mara ficará morando com vocês durante dois meses? Por que não poderia estar junto de minha filha?

– Assim determinou Sued, e se Sued determinou, temos que obedecer.

– Mas… mas… é.. é… muito importante a mãe estar ao lado da filha num…

– Assim determinou Sued e assim será. Vejam, os anjos de Sued terminaram a concepção, a primeira concepção pazoliana da nova era.

– Os médicos prateados chegaram à sala dizendo que tudo correra bem. Mabélia e Sofia imediatamente correram ao quarto. Mara disse que não viu nada e que, por isso mesmo, não se lembrava de nada, para ela era como nada tivesse acontecido. Na sala, ficou combinado que, chegado o momento de Asued descer à Terra, Januário simularia uma viagem a Pico da Glória para buscar a criança adotada. Esta se materializaria no colo de Mabélia, dentro do veículo. Com tudo combinado, Etnaduja e os médicos prateados se despediram. A vida seguiu seu curso normal, com cada um tentando ao máximo cumprir com seus deveres e suas obrigações. Alguns conseguindo, a maioria nem passando perto. Como já disse Sued, os humanos estavam a cada dia mais perdidos.

As tramas corriam por todos os poros de quem possuía poros. Quanto aos homens de divisas, aqueles que se consideravam os donos do mundo, nada se sabia sobre os seus planos. Quanto ao Vaticano, por lá as panelas estavam repletas de água em ebulição. O Papa João Paulo II estava programando uma viagem ao Brasil. Qual seria o motivo?

* 1 – A Engenharia Genética é um conjunto de técnicas que envolvem a manipulação de genes de um determinado organismo. Os Deuses, para variar, dominavam esta ciência em todas as suas nuanças. Bastava interferir nos cromossomos presentes nos genes responsáveis pela formação dos dedos das mãos e pés presentes nos espermatozoides e, eureca, ao invés de seis dedos a criança nascia com cinco dedos.

* 2 – O feto gerado pelas fêmeas dos Deuses é muito pequeno, para não dizer diminuto em comparação com o feto das terráqueas. Enquanto estes, na média geral, nascem medindo entre 48 a 52 cm e pesando cerca de três quilos, o feto divino mede por volta de 15 cm e pesa entre 600 a 800 gramas. Devido a este significativo fato, a distensão do abdômen é praticamente nula, não surgindo, portanto, a tão afamada barriguinha das grávidas humanas. As diferenças de metabolismo também são significativas. Mesmo nascendo diminuto, a divisão celular divina é muito acelerada. Em dois meses, o bebê divino cresce proporcionalmente a um bebê humano de um ano. Outra característica é que não há os sintomas fisiológicos, como enjoos, mal estar e obesidade.

* 3 – A gestação de uma mulher terráquea é em média nove meses. A gestação de uma fêmea divina é em média seis meses. Mesmo Mara tendo a função de barriga de aluguel, os gens de Sued comandarão o crescimento fetal, determinando eles os seis meses necessários.

* 4 – Sued assim determinou por dois fatores essenciais. O sexo do bebê é determinado por um cromossomo materno, que é sempre X, e um paterno, que pode ser X ou Y. Portanto, quem determina o sexo do bebê é o cromossomo do espermatozoide. Se o espermatozoide tiver o X, nascerá uma menina (XX) e se tiver o Y, um menino (XY). Na análise do sêmen de Sued, verificou-se que os espermatozoides X eram mais vigorosos. Daí, portanto, foram os selecionados para a inseminação artificial. O outro fator é que os Deuses não sabiam qual seria a resposta do óvulo terráqueo de Mara à fecundação do espermatozoide alienígena de Sued para a formação do ovo ou zigoto. Depois, teria que haver a perfeita nidação (que é a fixação do ovo ou zigoto à parede do útero) e a gestação convencional. Os Deuses precisavam esperar o nascimento do bebê para análises. Correndo tudo bem, assim então Sofia seria fecundada com o sêmen de Etnaduja.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Desenho e montagem de Eitel Teixeira Dannemann.

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