TEXTO: JORNAL O COMMÉRCIO (1911)
Razão de sobra tinha um publicista norte-americano, quando dizia a respeito do jornal: − “Não ha coisa mais difficil do que dirigir um jornal. Se si dedica á politica, os assignantes devolvem-no, porque estão fartos de politica. Si não se trata de politica, despedem-se, porque é um jornal semsaborão. Sem não dà noticias, aqui d’el-rei, porque não diz a verdade ao publico. − Se apoia ao governo, dizem que quer comer. Si o ataca, é porque é um traidor, um inimigo da ordem e do progresso. − Si aplaude um acto, é adulador. Si o censura é um malcriadão; etc., etc.”.
E é a pura verdade.
O pobre director de um jornal, principalmente de um jornal editado em uma Cidade como Patos, a cada passo vê-se a braços com serias difficuldades, e até mesmo sob ameaças; mas, cumprindo fielmente o dever de noticiarista imparcial, não póde elle deixar de dar á publicidade de todos os actos, dignos ou indignos, praticados por esse ou aquelle individuo, quer elle seja grande ou pequeno, rico ou pobre, contando que os narre imparcialmente, sem se desviar da verdade.
E é assim que, obedecendo ao nosso programma, temos procurado fazer, sem querer melindrar susceptibilidades, sem querer offender a pessôa alguma.
Mesmo antes de iniciarmos a publicação do “O Commercio”, jà conheciamos aquella verdade, já sabiamos que muitos espinhos haviamos de encontrar em o nosso caminho, mas, esperavamos que Patos fosse progredindo sempre, tornando mais suave a nossa lucta.
Triste illusão!
De tempos a esta parte, temos presenciado aqui bastante coisas, que depõem immensamente contra os nossos creditos de civilisados.
Com effeito, Patos tem se retrogradado tanto moralmente, que hoje somos forçados a protestar energicamente contra actos de selvageria, ultimamente praticados contra a sociedade, e até mesmo no coração da Cidade, por aquelles mesmos que deviam ser os primeiros a dar o exemplo de civilidade, de patriotismo e de amor do proximo.
Sim, apezar da falta de garantias em que se acham os habitantes do Municipio de Patos, d’este logar que os altos poderes parece ter riscado do mappa do Brasil; apezar de tudo o que nos possa acontecer, pugnaremos sempre, na medida de nossas forças, em prol do saneamento moral de nossa querida terra, em prol de todos os seus melhoramentos; louvando e não pouppando aplausos a todos aquelles que cooperarem para o nosso bem estar moral e material, e censurando e não poupando a todos aquelles que forem relapsos no cumprimento de seus deveres.
E para conseguirmos alcançar o fim a que nos propomos, appellamos para os corações bem formados, para os bons cidadãos, a fim de trabalharmos juntos por Deus e pela Patria.
Si − não ha coisa tão difficil do que dirigir jornal − não ha tambem coisa tão facil do que melhorar uma Cidade, quando existe verdadeiros patriotas, e quando existe bôa vontade.
* Fonte: Texto publicado com o título “Protesto e appello” na edição de 07 de maio de 1911 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.