TRÊS AMIGAS, AS

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Desde a época da criação da Diocese¹ as três não se desgrudavam. Tinham a mesma idade e eram tão amigas que resolveram se casar na Catedral de Santo Antônio no mesmo mês, uma a cada semana. E ainda moravam na mesma avenida, a Getúlio Vargas. Criaram os filhos com dignidade, cada um deles sendo alguém na vida. A amizade não se desgastou com o tempo, mas chegando ao século 21 os cérebros já não eram os mesmos. E até nisso eram unidas: começaram a apresentar os sintomas de Alzheimer quase que conjuntamente. Mesmo assim, mantinham um hábito semanal, do qual não arredavam pé: encontro aos sábados à tarde para um café, num esquema de revezamento. O progresso da doença mostrou suas garras poderosas na última reunião, quando a anfitriã da vez perguntou:

– Vamos arrumar a mesa para o café?

Como não houve resposta, as três continuaram conversando. Uns quinze minutos depois, a anfitriã voltou a perguntar:

– Vamos arrumar a mesa para o café?

E novamente continuaram a conversar. E assim continuaram até que as duas convidadas levantaram para se despedir. Já no passeio, uma delas lamentou:

– A Carlúcia está ficando muito desleixada, desta vez nem umazinha xícara de café teve.

De longe, o filho da anfitriã viu as duas amigas de sua mãe se retirando rumo ao antigo Fórum. Quando entrou, foi logo inquirindo:

– E aí, mãe, mais uma reunião de arromba de muito conversa com as suas duas amigas e com a mesa farta de quitutes?

A mãe, com olhos tristes, depois de uma puxada de ar, choramingou:

– Filho, estou tão triste pelo que elas fizeram. Como estavam demorando, fiquei na janela esperando e foi quando vi as duas passando e não entraram, passaram direto.

* 1: Leia “A Criação da Diocese” e “Criada a Diocese”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

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