DEIXAREI SAUDADE – 11

Postado por e arquivado em 2016, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Estou triste, vivendo uma crise existencial que afeta todos os meus velhos tijolos. Sinto dores terríveis nas colunas, no meu telhado cheio de buracos e com suas bordas em frangalhos. Oh, vida, desde nova fui simples, humilde e aconcheguei inúmeras consciências. Sabe-se lá que consciências. Década de 40, 50, 60, sei lá, nem me lembro quando nasci, mas eu era parte de tudo e a movimentação por aqui era intensa. Quantas mulheres e quantos homens fugazes passaram por esta rua. Eu os via, ora alegres, ora medonhos, mas isso me confortava, me dava vida. Hoje, consola-me apenas saber que desde o primeiro tijolo assentado passei a pertencer à História de Patos de Minas. Doa a quem doer. Prestes a encerrar o meu ciclo de vida, quando eu for ninguém mais se lembrará de mim, a não ser as consciências que me habitaram. Vou em paz, e mesmo não sendo reverenciada como os casarões da elite, jamais deixarei de fazer parte da existência da cidade. Estou nas minhas últimas forças, mal me sustentando em pé, ali na Rua José de Santana, n.º 786, entre Dr. Marcolino e Padre Brito. É neste endereço onde eu humildemente espero o meu fim. Este verso da música “Peso dos Anos”, de Walter Rosa e Candeia, fala por mim: Sinto que o peso dos anos me invade, vejo o tempo entregar à distância minha mocidade. Oportunamente partirei abandonando as coisas naturais, mas deixarei saudade. Com certeza, e assim vou para a eternidade!

DSC02943* Texto e Foto (26/06/2016): Eitel Teixeira Dannemann.

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