A Pseudogestação Fisiológica, Pseudociese, Pseudoprenhez, Falsa Gestação, Falsa Prenhez, Gestação Psicológica ou Lactação Nervosa, pode ser definida como uma síndrome observada em cadelas não gestantes, seis a quatorze semanas após o cio, caracterizada por sinais clínicos e mimetização dos comportamentos pré, durante e pós-parto motivado por desarranjo hormonal na fase de diestro (intervalo entre os cios) hoje muito estudado, mas ainda não completamente elucidado.
É de ocorrência comum, embora de incidência e distribuição desconhecidas. Estima-se em 50 a 70% a frequência dessa síndrome nas cadelas; não apresenta predisposição entre faixas etárias, raças ou entre portes físicos; também não há interferência ao se tratar de fêmea que já pariu ou não. Fatores ambientais e nutricionais ainda estão sob investigação. O aparecimento dessa síndrome não apresenta relação com taxas de fertilidade ou ocorrência de doenças reprodutivas. Acredita-se que todas as cadelas desenvolvam Pseudogestação Fisiológica, embora somente algumas manifestem sinais clínicos. Especula-se que sua manifestação seja uma característica evolutiva herdada pelo cão doméstico, que em matilha mostrava-se vantajosa, permitindo que a fêmea dominante fosse capaz de caçar enquanto seus filhotes eram amamentados por outras fêmeas do grupo.
Os sinais clínicos mais comuns são: comportamentos pré, durante e pós-parto; comportamento de “ninho”; adoção de objetos inanimados ou de filhotes de outras fêmeas, com excessivo carinho, atenção, proteção e defesa; lambedura do abdômen; agressividade; distensão mamária; produção e secreção láctea; ganho de peso e ou anorexia (falta de apetite). Os sinais menos comuns incluem êmese (vômito), distensão e contrações abdominais, diarreia, poliúria (eliminação de grande volume de urina num dado período), polidipsia (sede excessiva) e polifagia (fome excessiva). O diagnóstico baseia-se na história, nos sinais clínicos e comportamentais e na fase do ciclo estral em que essa fêmea se encontra. Deve-se atentar que esta condição pode coexistir com situações fisiológicas e outras doenças inerentes ao diestro (intervalo entre cios).
Por se tratar de uma condição autolimitante muitas vezes a Pseudogestação não requer tratamento, ou o tratamento pode ser apenas conservativo fazendo uso de um colar elizabetano para evitar que o animal estimule a secreção láctea pela lambedura das mamas ou pela restrição da ingestão hídrica por 5 a 7 noites, devendo-se avaliar a função renal previamente. Nos casos de comportamentos maternos exacerbados, a atenção do animal deve ser desviada com estímulo à atividade física. Nas situações em que os animais se mostrem agressivos, deve-se realizar tranquilização. Atualmente, o tratamento dos casos leves é recomendado, devido à sua relação com o aparecimento de tumor de mama em fêmeas que apresentam a condição depois de repetidos ciclos. Todo tratamento disponível deve ser feito por um Médico Veterinário. Quando não houver interesse em usar as fêmeas para reprodução, é indicado instruir os proprietários que no sentido de tanto a prevenção quanto o tratamento definitivo dessa doença consistem na realização da ovariohisterectomia (cirurgia para retirada de ovários e útero) ou ovariectomia (cirurgia para retirada dos ovários).
Destacam-se como complicações decorrentes dessa síndrome a distensão mamária e retenção láctea, a ocorrência de dermatite mamária, mastites e tumor de mama. Caso a fêmea seja castrada durante um episódio de Pseudogestação, a condição pode se prolongar ou tornar-se permanente. Ressalta-se que é prudente fazer o diagnóstico diferencial com gestação, parto recente e Piometra (infecção da parede uterina com acúmulo de pus) e outros, e que este diagnóstico diferencial só é feito por um Médico veterinário.
Finalizando, a diversidade e a incongruência nas causas dessa síndrome apresentada em diversas pesquisas mostram o quanto esta ainda necessita ser estudada. Mesmo considerando que os sinais clínicos sejam de fácil reconhecimento e, atualmente, disponha-se de tratamentos eficazes e praticamente desprovidos de efeitos colaterais, a continuação do processo investigativo resultará na divulgação de novos protocolos de tratamento, como ainda auxiliará a desvendar os enigmas que envolvem a fisiologia reprodutiva da espécie canina.
* Fonte: Pseudociese Canina, de Lílian Rigatto Martins (Doutoranda em Reprodução Animal, FMVZ/UNESP/Botucatu-SP) e Maria Denise Lopes (Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária, FMVZ/UNESP/Botucatu-SP), publicado no v.29, n.3/4, p.137-141, jul./dez. 2005 da Revista Brasileira de Reprodução Animal (Belo Horizonte).
* Foto: Palmapereira.blogspot.com.