A Banda de Música Santa Cecília, criada pelo Professor Modesto de Melo Ribeiro, está devidamente registrada na nossa História¹. Sobre ela, alguns passarinhos azuis contaram para outros passarinhos azuis e isso, após décadas, chegou aos ouvidos de um pardal que piou serenamente. Conta esse pardal que havia muita afinidade entre os componentes daquele grupo musical, mas dois trompetistas disputavam silenciosamente a primazia de ser o melhor da Cidade. Certa vez, numa grande roda de conversa no Bilhares Zequinha², um deles falou:
– No ano passado eu estava com a banda de Santa Rita³ na procissão de Nossa Senhora da Abadia, e toda vez que eu tocava era um espanto geral, a procissão até parava para me ouvir com atenção, pois até aquele presente momento nunca haviam escutado um trompete tão bem tocado. Assim foi até todos repararem que a Nossa Senhora da Abadia se mexeu no andor, extasiada com a maravilhosa música. Todos olharam para mim admirados com o milagre que acabara de ocorrer por causa do meu trompete. Ora, eu tive que parar de tocar para que a procissão continuasse e a Nossa Senhora da Abadia ficasse quietinha no andor.
Foi um bafafá danado no interior do bar, cada um opinava sobre o acontecimento, e o outro quietinho. Quando os ânimos se acalmaram, o rival deu o troco:
– Coincidência, uma semana depois da procissão eu estive em Santa Rita para tocar marchas fúnebres com a mesma banda num velório da família Motta. Foi muita emoção, a cada nota que eu tirava do meu trompete os presentes chegavam a chorar de tanta satisfação, com a certeza de que nunca na vida até então tinham ouvido um trompete tão melodioso, parecendo até vindo dos tocadores celestes. Ouvi murmúrios de todos e principalmente dos componentes da banda, impressionados com a minha técnica. Era tanto êxtase no ambiente que, de repente, a tampa do caixão começou a se abrir lentamente. Assustados, vimos o defunto se levantar e ficar de pé. Aí ele me encarou e disse:
– Vai tocar trompete bem assim nos quintos dos infernos!
Dito, o defunto deitou-se e fechou a tampa do caixão. Depois dessa o pardal arrematou que até hoje o povo está embasbacado com esses dois milagres… e não mais piou.
* 1: Leia “Banda de Música Santa Cecília”.
* 2: Leia “Bilhares Zequinha − 1916”.
* 3: Santa Rita de Patos foi nosso distrito até 17/12/1938, quando através do Decreto-Lei Estadual n.º 148 emancipou-se, tornando-se o Município de Presidente Olegário.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.