DEIXAREI SAUDADE − 72

Postado por e arquivado em 2019, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Em meio ao rebuliço do surgimento de edifícios no meu entorno, e isso é deveras preocupante − e não vai demorar muito não se verá mais verde ao meu lado − porque esses dois aí são só o começo, certo dia ouvi uns comentários a respeito dessa minha rua, a Cesário Alvim¹. Pelo que falaram, antigamente ela se chamava 38 e foi em 1957 que mudaram o nome. Enquanto casas que nem eu estão sendo derrubadas, fico me perguntando, baseado no que ouvi, por que Cesário Alvim? Falaram que ele foi um advogado e político no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Distrito Federal e não tem nada a ver com Patos de Minas. Ora bolas, já naquele tempo tinha um mundaréu de patenses natos que mereciam um nome de rua, mas preferiram um estrangeiro? Não tem sentido, assim como tem sentido a transformação estrutural porque passa a Cidade às custas do progresso e de sua famigerada sócia, a especulação imobiliária.

Veja só como estou arrumadinha. Mas não foi sempre assim. Sou uma das primeiras casas construídas aqui, no tempo do brejo, quando qualquer chuvinha alagava tudo. Lembro muito das reclamações do José Maria Vaz Borges², que morava logo ali à frente, pertinho da hoje Praça Vovó Neném. Depois melhorou, mas não definitivamente, e eu ainda tremo com as chuvas fortes, assim como tremem todos os meus tijolos quando percebo o barulho de construção civil: lá se foi mais uma colega para ceder lugar a um novo edifício e sem querer, chego a ranger portas e janelas. E nisso, me pergunto: até quando meus donos vão rejeitar as propostas dos construtores de edifícios? Pelo que percebo em volta, não vai demorar muito. E assim, eu serei apenas, unicamente apenas, uma casa que faz parte da História de Patos de Minas a se transformar em entulhos. Mas deixarei saudade!

* 1: O imóvel localiza-se à Rua Cesário Alvim, quase esquina com a Rua Major Carlos Soares.

* 2: Leia “Rua Cesário Alvim em 1969: Alagamentos”.

* Texto e foto (19/01/2019): Eitel Teixeira Dannemann.

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