Rua Dr. Marcolino, quase em frente à sua colega Silva Guerra. Este é o local onde me construíram. Pouco importa quando foi para quem já está condenado. As lembranças mais fortes ainda enraizadas em meus tijolos estão concentradas na alegria de meus primeiros moradores. Como eu, gente simples que não ligava para a poeira ou o barro que nos assolavam constantemente. E muito menos com o movimento que descia a Rua Silva Guerra. Era um movimento que tinha suas nuances. Muitos apenas se dirigiam rumo ao antigo Bairro Brasil, saída da cidade pela antiga Ponte do Rio Paranaíba. Outros, tinham outras intenções: Rua Padre Brito e imediações. O que buscavam era a lascívia da carne. Problema deles.
Agora, com a celeridade do tempo, o problema é meu. Foram-se os anos, foi-se a minha vida. O cerco se fechou, os prédios tomam conta da paisagem. O movimento de pessoas e automóveis é intenso. Já notei que praticamente ninguém olha mais pra mim. Aliás, se olham, é com desprezo por causa de meu péssimo aspecto. Um dia, um senhor de lá seus 90 anos, custando a se sustentar numa bengala, pensou alto quando cruzava minha calçada: – Ô casa horrorosa, por que não a derrubam de uma vez! Aquilo doeu, porque aquele ser humano esqueceu que já fui nova, esbelta e linda, assim como ele já foi jovem e formoso. Se eu pudesse falar lhe diria na lata: – Seu caquético, ingrato, vê se enxerga!
Estou contando os dias para o meu fim. A única certeza que ficará para sempre guardada em minhas entranhas é que, doa a quem doer, desde o primeiro tijolo assentado passei a fazer parte da História de Patos de Minas. Brevemente irei em paz, mente serena por ter amparado tantas consciências. E irei lembrando do tempo passado em que fui feliz. Aí vou sentir saudade, mas tenho certeza que também deixarei saudade.
* Texto e foto (19/02/2017): Eitel Teixeira Dannemann.