BATIZADO DO GUZERÁ, O

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Na década de 1940 o governo de Getúlio Vargas incentivou a criação de gado Zebu com fartos empréstimos aos pecuaristas. Quando uma agência do Banco do Brasil foi instalada em Patos sem ainda o “de Minas”, o Município se transformou com a dinheirama à disposição daqueles que atendiam às exigências burocráticas, os Coronéis de sempre. O então comercio decadente teve um surto de bons negócios e quanto mais gado indiano chegava mais o comércio se esbaldava.

Certa vez um dos grandes criadores patenses daquela época adquiriu um reprodutor da raça Guzerá. Religioso ao extremo, considerou que, pela importância genética e pelo alto valor comercial, o animal deveria ser batizado. Ele então procurou o padre da Matriz:

– Isso é pecado, Coronel, não pode não.

– Ora, padre, pensa bem no valor desse animal e o que ele representa para a nossa pecuária. Ele merece, sim, ser batizado.

– Mas, Coronel, isso é uma tremenda heresia, a Igreja não permite…

– Padre, presta atenção, se você batizar o boi eu pago a pintura do interior da Matriz e ainda a reforma do altar.

Com essa não teve como o padre recusar e o batismo animal ficou marcado para a missa matinal do domingo. Entretanto, o vigário responsável pela igreja não gostou nadinha da atitude herética do padre:

– Que é isso, padre, ficou louco, onde já se viu você se comprometer a praticar um ato que vai contra os princípios da Igreja?

– Pensa bem, vigário, o senhor sabe o tanto que o Coronel é respeitado por aqui e lembre-se que a Matriz está precisando urgente de reforma e pintura.

– E o que a reforma e a pintura da Matriz tem a ver com esse sacrilégio de batizar animal?

– É que Coronel vai pagar a pintura interna e a reforma do altar.

– Muito bem, padre, vamos batizar esse boi hoje mesmo e no domingo, se vier outro agrado, a gente crisma.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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