DEIXAREI SAUDADE – 51

Postado por e arquivado em 2018, DÉCADA DE 2010, FOTOS.

Na década de 1960 funcionava nesse meu pequeno espaço comercial uma vendinha característica daqueles idos. Certo dia adentrou-me um garoto aparentando 10 anos de idade, por aí, e pediu ao balconista uma garrafinha de guaraná Zago. Quando o garoto começou a sorver o refrigerante, entrou outro e também pediu uma garrafinha, só que da marca Artemis. De repente, os dois começaram a dizer um ao outro que o seu guaraná era melhor. Enquanto eles, divertidamente se digladiavam, entrou um terceiro e pediu um Grapette, o do famoso “quem bebe, repete”. E também entrou na discussão, cada um defendendo o seu líquido favorito. Mas a coisa não foi longe, pois tão logo as três garrafas ficaram vazias, cada um pagou o seu e se mandaram como bons amigos de infância. Assim, enquanto as almas que me ocupavam naquela época se mantinham apegadas às suas tarefas diárias, a imagem dos três garotos e seus refrigerantes preferidos ficou gravada, ecoada em minhas paredes e até no telhado.

Áureos tempos de uma cidade tranquila onde três garotos de dez anos zanzavam para tudo quanto era lado na maior tranquilidade. Não tenho a mínima ideia sobre o paradeiro daqueles três garotos. De lá para cá as mudanças foram drásticas, marcantes. Aqui no meu entorno acredito que sou um dos pouquíssimos imóveis daquele tempo que continua de pé¹. Nunca deixei de reparar no que estava acontecendo em volta. As mudanças estruturais começaram a se intensificar com a chegada do prédio do INPS. Minhas irmãs foram paulatinamente sumindo. Eu sou como aquele guaraná que ainda sobrevive. Não sei até quando. Olho para a casa em frente e a solidão me dói, como já está doendo nela². Olho para o prédio em construção ao lado dela e a solidão me dói mais ainda. Pressentimentos, maus pressentimentos. Não há saída para o antigo. Como diz a música, “morre o velho, fica o novo, o que é verde amadurece e o que é velho se renova”. Avante, velho imóvel, aguarde enfim o seu fim, eu que faço parte da História de Patos de Minas. Um dia, com certeza, deixarei Saudade!

* 1: Esse imóvel se localiza na esquina da Rua Olegário Maciel com Rua Tiradentes.

* 2: Leia “Deixarei Saudade – 49”.

* Texto e foto (20/05/2018): Eitel Teixeira Dannemann.

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