Houve uma época em que eu me considerava a tal. Se eu tivesse nariz, com certeza ele estaria sempre empinadinho, como os de muitos almofadinhas dessa terra. Na verdade, uma leve soberba me dominava. Fui erguida aqui ao lado do Palacete do Amadeu Dias Maciel, num entorno que faz parte dos comandos que elevaram a Cidade a um desenvolvimento até que razoável. Como não se sentir importante com a quantidade de gente que direcionava os caminhos do povo paparicando em minha volta? Eu me deliciava com o que ouvia. Através de minhas paredes – lembre-se que as paredes têm ouvidos – captava tudo o que as almas que me habitavam transmitiam através das palavras ditas. Durante muitos anos me alimentei de sonhos grandiloquentes, crendo que viveria eternamente aqueles prazeres supérfluos e inorgânicos. Até que, pouco a pouco, fui percebendo que tanto os imóveis como os humanos têm um destino traçado: o fim!
Logo à frente, dói-me as entranhas perceber o abandono em que se encontra a antiga residência do grande Arthur Thomaz de Magalhães, responsável pela popularização do cinema em nossa cidade. Olha lá a casa do Zaminha¹, onde também funcionou seu comércio. Até quando resistirão à ganância da especulação imobiliária? Por que o progresso não consegue conviver pacificamente com o passado? Quantas de nós, tradicionalíssimas, foram ao chão para receber o progresso. Sim, somos nós, o passado, que alimentamos o futuro. Não é justo, pois se não fosse a nossa existência não existiria o hoje. Então, se somos responsáveis pelo hoje, porque temos que ceder espaço ao amanhã? Deixa estar, sei o meu destino. Sem soberba, tenho consciência que faço parte da História de Patos de Minas, e quando eu me transformar num monte de entulhos, deixarei saudade!
* 1: Leia “Casa da Família de Zama Alves Pereira”.
* Texto e foto (22/02/2018): Eitel Teixeira Dannemann.