Gostar ou não gostar de determinado tipo de alimento é caso pessoal. Tem gente que não come jiló de maneira alguma; outro não consegue nem olhar para um quiabo temperado no capricho pela mamãe. Tem ainda quem não suporta o cheiro de sorvete de coco com nozes e rum. Assim é, cada um na sua não comendo o que não gosta e a vida segue. Com a Maria José, esposa de um veterano cardiologista, o problema é a tal da língua bovina, especiaria apreciadíssima pelo esposo que vire e mexe convida alguns amigos mais chegados para uma linguarada em sua confortável residência. É o momento dela se mandar, pois não suporta nem o cheiro daquilo.
Maria José e o marido têm por costume jantar todas as quintas-feiras, regularmente às oito horas, em um dos restaurantes da Rua Major Gote, onde os dois adotam o sistema do rodízio de pratos, isto é, seguem o cardápio por ordem alfabética. Como já tinham saboreado todas as ofertas do local, ela sempre perguntava ao garçom por uma novidade. Mas estava demorando a novidade, e o garçom já estava fulo da vida com aquela ladainha. Ora, ela que fosse reclamar com o dono, resmungou consigo mesmo.
O tempo foi passando e a Maria José começou a implicar com o restaurante, cobrando do marido mudança já. Certa ocasião, para surpresa da mulher, o garçom, com ar sisudo, falou:
– Enfim, temos novidade, Dona Maria José.
E a Maria José, com um sorriso de orelha a orelha, ironicamente lascou a inevitável pergunta:
– Qual é a novidade?
– Língua bovina a parmegiana.
A Maria José não vomitou por pouco e não perdeu tempo em declarar o seu asco:
– Eca, coisa nojenta, não como absolutamente nada que sai da boca de boi, vaca ou qualquer bicho.
Com um sorriso para lá de vingativo, o garçom, propositadamente, provocou:
– Então, Dona Maria José, se a senhora não come nada que é de boca de animal, que tal um omelete?
O casal nunca mais frequentou aquele restaurante.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.