CASO DA PEDRA, O

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Dizem que o Brasil é o país dos espertos. Isso veio com os portugueses, mais precisamente quando, em dezembro de 1498, o nauta Duarte Pacheco Pereira chegou ao litoral dos atuais Estados do Pará e do Maranhão. Essa descoberta do Brasil foi mantida no mais profundo segredo, para evitar que a Espanha, adversário de explorações, tomasse conhecimento. Somente dois anos após é que o Cabral veio para oficializar a descoberta. O resto é História, e sabe-se lá o quanto de História tem por trás disso. O que importa é que com Cabral veio a esperteza dos portugueses. Como incialmente os primeiros portugueses que foram jogados aqui para o início de uma colonização não eram adeptos da probidade, vai daí que, talvez, tenha nascido assim a esperteza brasileira, às avessas. E desde então, a coisa disseminou-se de tal maneira que até um jovem de nome Pedro de Alcântara, que viria a ser o famoso Dom Pedro I, participou de uma quadrilha que marcava pangarés com os ferros da Coroa para vendê-los a preços exorbitantes.

Avançando e muito no tempo, chegamos em 1911 ao distrito de Areado, que é denominado de Chumbo desde 1923, mas o nome não pegou e todo mundo se refere ao Chumbo como Areado. Naquele ano, o comerciante local Bernardino Corrêa Borges foi procurado pelo cidadão Olympio Paim Pamplona. O objetivo é que o primeiro avaliasse o valor de uma pedra verde-claro de propriedade do segundo. Ao fazer a avaliação, o Bernardino resolveu fazer uma brincadeira com o Olympio. O que ocorreu depois disso foi uma série de aborrecimentos ao avaliador, não por causa do Olympio, mas porque os tradicionais espertos brasileiros entraram em ação. Os aborrecimentos foram tantos que o Bernardino publicou uma nota na edição de 15 de janeiro do jornal O Commercio:

Tendo, em dias do anno passado, recebido do sr. Olympio Paim Pamplona uma pedra verde-claro, para verificar se a mesma tinha algum valor, disse-lhe, por brincadeira, que era uma esmeralda e que valia vinte contos de réis. Correndo essa noticia, appareceram logo novos donos da dita pedra, os quaes, augmentando-lhe muito o valor, ameaçaram-me seriamente para que eu a entregasse a elles. A fim de verificar qual era o verdadeiro dono, fiz que a tinha perdido, e declarei a quem a reclamava que a pedra não tinha valor algum, e que, se a avaliei em 20:000$000, foi unicamente para brincar com o Olympio, que já tinha me offerecido a mesma a troco de uma barrigueira de cabello, que vendo apenas por 2$000, sem comtudo eu ter querido fazer o negocio. Suspeitaram, porèm, não ser exacta esta minha declaração. A viagem que, ha pouco, fiz ao Rio e á S. Paulo, augmentou-lhes a suspeita; e como, até hoje, nenhum dos improvisados donos da dita pedra, tratou de provar o direito que tem sobre a mesma, declaro a todos elles que ella se acha bem guardada, em meu poder, á disposição do verdadeiro dono. Espero, pois, que com isso desappareça a suspeita de retive uma pedra alheia, de grande valor.

A imprensa escrita da época não registrou a elucidação desse Caso da Pedra. Mas fica o registro de que, em qualquer lugar do país do pau brasil, seja lá onde for, sempre haverá o famigerado esperto brasileiro.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Fonte: Jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Pt.wikipedia.org, meramente ilustrativa.

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