Mote de noticia nacional, o processo de casamento simulado do empresário Adirom Antônio da Silva, 64 anos, com a modelo Alessandra Paula de Andrade, sacudiu Patos de Minas. Com destaque no “Estado de Minas”, “Folha de São Paulo” e outros órgãos de imprensa, o assunto continua na boca do povo, instigado pela popularidade que o acusado desfruta na cidade. Constrangido com o estardalhaço do caso, ele se dispôs a conceder entrevista à “Diga”, tendo como porta-voz o seu advogado Március Wagner da Fonseca, perito em causas criminais, que rebate com veemência todas as notícias divulgadas na imprensa. O advogado conta que o empresário conheceu a modelo em 1993, quando ela participava da filmagem de um comercial da Auto Patos, produzido pelo colega Paulo Eugênio da Silva. Nesta ocasião, ela ficou sabendo da boa condição financeira do empresário, homem de sólidos negócios, e facilitou o relacionamento entre os dois. Adirom, que é casado oficialmente, mas separado de fato da esposa, nutriu um curto namoro com Alessandra, em outubro daquele ano, atraído pela bela morena, de espírito extrovertido e independente.
Segundo Paulo Eugênio, que também participou da entrevista, o casal recebeu a primeira restrição da sociedade numa visita ao Zap Leilões. Era um dia de casa cheia e ambos decidiram assumir publicamente o namoro, apesar de já terem sido vistos juntos em outros locais. Alessandra era cobiçada por muitos homens considerados de bom conceito, que estavam no Zap Leilões, ambiente frequentado por uma significativa parcela da elite local. Surgiu daí uma aposta de alta cotação, noticiado como sendo de 2 mil dólares, feita por elementos que duvidavam da hipótese do empresário ter um caso com a modelo. Os jornais, conforme o advogado, distorceram os fatos ao noticiar que a aposta teria sido feita pelo empresário. “Ele não sabia de nada do que estava acontecendo”, afirma. O próprio empresário admite que manteve relações sexuais com Alessandra, mas ressalva que ela não era adolescente na época. “Deveria ter entre 18 e 19 anos”, calcula o advogado. Já a modelo, confessou em juízo que não era mais virgem quando se entregou ao empresário.
CASAMENTO – Sem trabalho, após a gravação comercial, Alessandra recorreu a Paulo Eugênio para obter emprego com Adirom. Trabalhou pouco tempo no Posto Patão, do qual o empresário é sócio. Neste período, ficou sabendo que o namorado tinha uma doença grave e poderia falecer num prazo de quatro a seis meses. A falsa informação, já que o acusado goza de boa saúde, foi obtida através de uma ex- doméstica do empresário, que responde pela alcunha de “India”. Ciente do estado civil do amante, Alessandra urdiu uma trama para dar conotação de legalidade ao caso. Seus pais não poderiam saber que Adirom era casado, porque não aceitariam sua condição de amásia. “Ela não queria dar satisfação à sociedade, apenas à sua família”, analisa Március Wagner.
Instruída e ardilosa, Alessandra propôs a simulação do casamento ao amante. Assim, ela encontrou uma solução pessoal para superar problemas financeiros enfrentados por sua família, que refletiam no seu conceito de vida. “Meu cliente deixou-se induzir pela idéia”, defende o advogado. Ele rebate também os comentários de que houve falsificação de uma certidão de casamento. “Todo mundo fala nisso, mas este documento ainda não apareceu nos autos dos processos”, recrimina. O advogado afirma que o ato foi feito apenas com um papel em branco numa pasta preta, contendo simplesmente as rubricas das pessoas presentes. Outro fato esclarecido pelo advogado é em relação a mulher que se faz passar por juíza no “casamento”, que na verdade não se trata de Rosanil Lélis, ex-funcionária da Rádio Princesa. A mulher em questão foi indicada pela própria Alessandra, é de Lagoa Grande, sendo apresentada aos “convidados” como “Dra. Cláudia”. Ela vestia uma bata escura, que não caracterizava uma beca ou toga, conforme noticiou a imprensa. Para o advogado, a “juíza” pode ter agido como comparsa da “noiva”, tendo, inclusive, ficado com os “documentos” do “casamento” e as fotos da “cerimônia”. Realizado na chácara de João de Lima, popular João da Recreativa, que aluga o local para eventos, o “casamento” contou com a presença restrita dos pais e familiares da “noiva”. Não houve festa, apenas uma modesta recepção para os “convidados”. Pela vivacidade da modelo, o advogado acredita que seus pais realmente não sabiam da trama.
MADAME – Poucos dias após ter “casado”, Adirom passou a viver uma verdadeira “lua de fel”. Alessandra adotou ares de madame, querendo usufruir da condição de “esposa” de milionário. Ambiciosa, ela foi a uma concessionária e comunicou ao “marido” que adorou o Logus 1.8, exigindo-lhe que ele lhe desse o carro de presente. O empresário se negou a atender o pedido e começou a refutar o grau de interesse da modelo pelo seu dinheiro. No dia do aniversário de Alessandra, o empresário lhe presenteou com um relógio de alto valor, adquirido na tradicional Relojoaria Marques. Ela disse que não aceitava aquele “lixo” e decidiu trocá-lo por outro modelo. Na manhã seguinte, Adirom foi comunicado pela balconista da relojoaria que a “esposa” havia escolhido um relógio de ouro maciço, incrustrado de brilhantes, com preço muito superior ao modelo anterior. Novamente o marido disse não. Depois disso, ela pediu-lhe um talão de cheque assinado, com as folhas em branco, para que pudesse fazer suas compras sem a interferência do amante. Obviamente, não conseguiu convencê-lo.
Antes de casar, Alessandra foi à Casa das Representações, onde comprou em nome do empresário a mobília de sua futura casa. Estava tão absorvida em sua trama que, no dia do “casamento”, telefonou para a verdadeira esposa do amante para anunciar o fato, de forma provocadora e debochada.
REALIDADE – O advogado Március Wagner acha que a própria Alessandra pode ter incentivado a mãe a requerer a Certidão de Casamento no cartório. “Sem conseguir explorar Adirom, ela foi desmascarada após uma semana de casamento forjado”, imagina ele. Quando a mãe percebeu o artifício da filha, a modelo ficou em situação difícil e jogou a culpa exclusiva sobre o empresário. “Sem o Lógus, o relógio de ouro e o talão de cheques, ela não tinha mais motivos para sustentar a farsa e se fez de vítima perante a família”, acusa o advogado. “Depois de jogar meus clientes num processo de simulação de matrimônio, Alessandra mudou-se para Goiânia e só reapareceu na audiência para depor, forçada por intimação judicial”, resume ele, que defende também Paulo Eugênio e Rosanil. Se houvesse uma certidão de casamento como prova, os acusados seriam julgados também por falsificação de documento público. “A mãe, por ser uma pessoa humilde e sem instrução, achou que poderia utilizar a certidão para, juntamente com a filha, efetuar compras no comércio da cidade em nome de Adirom”, concluiu Március Wagner. Ao descobrir a trama, decidiu denunciar o caso à polícia.
Passado mais de um ano, a modelo vive a crua realidade de seu ato, em Goiânia, onde acabou se engravidando. O pai da criança é outro namorado, com o qual manteve um caso nos últimos meses. Este fato não está incluso no processo, que deverá ser concluído em cerca de 60 dias.
AÇÕES – Há um detalhe neste caso que intriga o advogado Március Wagner. Ele não entende porque o assunto somente veio a público após 15 meses, já que o “casamento” ocorreu no dia 15 de outubro de 1993. A denúncia foi registrada no dia 21 do mesmo mês, mas só agora ganhou espaço na imprensa. O advogado não concorda com a forma como o caso chegou aos meios de comunicação, em tom melodramático de novela. Ele desconfia que as reportagens ora publicadas podem ser oriundas de notícias plantadas. Para embasar sua suspeita, o advogado se prende ao fato de Adirom ter ganhado recentemente uma causa arrastada contra seus sócios no Posto Patão. O processo é relativo a preferência na compra de ações da empresa, envolvendo algo em torno de R$ 3 milhões, e já foi definido a favor do empresário na primeira instância e no Tribunal de Justiça do Estado.
Nutrindo suas dúvidas, o advogado lembra que uma das reportagens publicadas pelo “Estado de Minas” foi circulada, caracterizando ser matéria paga. Com a decisão do Tribunal de Justiça, Adirom poderá ter prioridade nas ações do posto, aumentando sua participação na sociedade de 23% para 41%, o que lhe dará direito sobre o controle acionário da empresa¹. Outra cisma do advogado é com as declarações do aposentado Marco Aurélio Gomes, publicadas no “Estado de Minas”, na edição do último dia 15 de janeiro. Ele estranhou a iniciativa do aposentado, que além de admitir que encontrava-se em Belo Horizonte na data do “casamento”, não tem sequer o nome citado nos autos do processo. “Porque será que este cidadão não apareceu para depor?”, indaga o jurista.
Na reportagem, Marco Aurélio afirma que negou-se a colaborar com a farsa, se recusando a emprestar sua chácara para a realização do “casamento”. O advogado assegura que o aposentado jamais foi procurado por seu cliente, que desde o início já havia decidido alugar a chácara de João de Lima.
“Querem ofender moralmente o acusado para ofuscar sua condição de futuro diretor geral do Posto Patão”, desabafou ele, insinuando que Marco Aurélio agiu como testa de ferro de um golpe tramado para atingir o empresário Adirom Antônio da Silva.
* 1: Leia “Posto Patão Está à Venda Por 1,5 Milhão – 02/10/1999”.
* Fonte e fotos: Texto publicado com o título “Lua de Fel” e subtítulo “Modelo simula casamento para enganar os pais” na edição n.º 06 de janeiro/1995 da revista Diga, do arquivo de Luis Carlos Cardoso.