Corria o ano de 1970. Numa noite garoenta de um sábado de janeiro, na Rua Padre Brito, reduto tradicional da boêmia sexual que naquele tempo ainda gerava bons lucros e a presença de pessoas influentes pouquinha coisa não era rara, numa das casas, dois amigos, enquanto bebericavam uma cerveja, observavam com muita atenção os produtos expostos para não errarem na escolha, quando um deles teve uma leve sensação de ouvir ao longe um gemido abafado de uma criança. No primeiro instante, não deu muita atenção, imaginando que fora mesma apenas uma sensação provocada pelo som alto do ambiente ou gemidos naturais característicos no ramo de negócio.
E no dito ambiente, moçoilas e não tão moçoilas assim, desfilavam seus chamarizes de trabalho zanzando para todo lado do pequeno salão e corredor, ora sentando ao lado de um cliente em potencial e também até sentando no colo de um daqueles que elas tinham certeza de que naqueles bolsos tinha dinheiro. Justamente quando uma delas estava puxando papo com aquele que teve a sensação de ter ouvido um gemido de criança, ele se levantou e dessa vez afirmou que tinha ouvido um grito abafado, como se alguém estivesse tapando à força a boca de uma pessoa com as mãos. Ele se levantou, o amigo se levantou e disse que também havia ouvido o gemido. Pararam a música, fizeram silêncio. Sim, havia ali perto uma criança gemendo, querendo gritar.
Imediatamente, se dirigiram até os fundos da casa, onde algumas profissionais do sexo que não eram daqui tinham seus aposentos. Estancaram-se diante de uma porta e os gemidos abafados se fizeram ouvir vindo daquele quarto. Tentaram abrir a porta, mas estava trancada. Os gemidos sumiram e em seu lugar surgiram sons parecidos com alguém batendo os calcanhares no colchão. Veio a ocupante do quarto com os cabelos arrepiados dizendo que a chave não estava com ela e que lá dentro estava sua filha. Arrombaram a porta e os presentes se depararam com uma cena horripilante.
Estava um homem nu de uns trinta anos, amásio da mãe, tentando abrir a janela do quarto no intuito de fugir. Na cama, uma criança de sete anos de idade, com a região genital sangrando, inerte. Desesperada, a mãe, aos prontos, enrolou a filhinha num lençol e imediatamente um cliente as levou ao Hospital Regional. Mas já era tarde, estava sem vida. Os homens agarraram o sujeito e deram-lhe tanta pancada que o criminoso só não se transformou em reboco de parede porque chegou um camburão da polícia − que hoje é viatura.
Elucidação do fato: o sujeito estava estuprando a criança de quatro anos de idade enquanto tapava sua boca com uma mão. Com o barulho na porta, o ordinário esgoelou a menina e no desespero da falta de ar, ela batia os calcanhares do colchão.
O cruel assassino passou 15 dias no Hospital Regional e depois foi levado para a Cadeia. No outro dia, a amásia do infeliz apareceu por lá. Foi-lhe vetada a visita. Durante cinco dias ela apareceu na Cadeia, mas não conseguiu visitar o canalha que tirara a vida de sua filhinha. Até que no sexto dia, ela recebeu a informação:
– Não há como visitá-lo porque fugiu hoje de manhã por causa de um descuido do carcereiro na hora do banho de sol. Não temos a mínima ideia pra onde ele foi.
Até hoje não há um único indício do paradeiro do assassino e estuprador. Assim, inúmeros, centenas e milhares de criminosos e estupradores da pior espécie simplesmente recebiam gratuitamente uma passagem só de ida para lugares indefinidos. Naqueles idos era assim! Entrando na máquina do tempo e voltando ao hoje, qual seria o desfecho desse caso?
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: br.vexels.com, meramente ilustrativa.