DEIXAREI SAUDADE − 124

Postado por e arquivado em 2020, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Ó Rua Olegário Maciel, eu te vi nos idos tempos de poeira e barro, de raríssimos automóveis, pouca gente passando à minha frente e inumeráveis carros-de-bois, carroças, equinos, bovinos, suínos, caprinos, ovinos e caninos a perderem de vista. Enquanto eu abrigava a família do primeiro patense a se formar em Medicina¹, a cidade foi se desenvolvendo, a rua asfaltada, as antigas casas sendo substituídas por novas, a bicharada sumiu, o povo aumentou e agora, minha Nossa Senhora da Abadia, quantos automóveis, motos, caminhões, carretas, uma zoeira que abala minhas paredes. Depois que o doutor faleceu², a família continuou algum tempo dentro de mim. Após, abriguei outros, e as últimas vibrações humanas que eu senti foi no funcionamento de um restaurante. Certo dia pregaram uma placa de metal na minha fachada dando a entender que eu era importante para a Cidade. Mas quando veio o abandono total, comecei a crer que não era tão importante assim. Percebendo minhas semelhantes sendo derrubadas para a construção de edifícios, a ficha começou a cair. E quando tiraram da minha fachada a tal placa, aí a ficha completou a ligação com o além: é, não me querem mais. Estou tão abandonada que até um arbusto viceja com saúde no meu cocuruto. Pressinto sim, o meu fim. Pressinto não, a minha salvação. Alguém escreveu³: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher”. Pois é, a única coisa que vou colher depois dessa caminhada é fazer parte da História de Patos de Minas. Mas, ora, quando eu partir, deixarei saudade!

* 1: Leia “Casa Onde Morou Dr. Adélio Dias Maciel”.

* 2: Leia “Adélio Dias Maciel: Falecimento”.

* 3: Cora Coralina.

Texto e foto (31/05/2020): Eitel Teixeira Dannemann.

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