LEISHMANIOSE VISCERAL FELINA

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LEISCHMANIOSEInduzida pelo protozoário parasita do gênero Leishmania, a Leishmaniose é uma zoonose que necessita de um hospedeiro vertebrado e um invertebrado para completar seu ciclo biológico. Nas Américas o parasito é transmitido por fêmeas do mosquito Lutzomyia, que se infectam com Leishmania chagasi durante o repasto sanguíneo. Com distribuição mundial, estima-se que 350 milhões de pessoas vivam em regiões endêmicas e correm o risco de contrair a infecção. Cerca de 12 milhões de pessoas estão infectadas no mundo inteiro e por volta de dois milhões se infectam por ano. Contudo a maioria dos casos não é declarada, principalmente devido ao fato de que a comunicação é obrigatória em apenas 33 países, permanecendo como uma das doenças mais negligenciadas do planeta.

Os mosquitos processam quatro fases do seu ciclo biológico no ambiente terrestre: ovo, larva (com quatro estádios), pupa e adulto. Os ambientes favoráveis ao seu desenvolvimento são úmidos, sombreados e ricos em matéria orgânica. Do ovo à fase adulta o ciclo tem uma duração média de 30 dias. As fêmeas são hematófagas obrigatórias, necessitando de sangue para o desenvolvimento dos ovos, sugando um grande leque de animais vertebrados de sangue quente. A Leishmania sp. é introduzida no tubo intestinal dos insetos vetores quando os mesmos alimentam-se de um  hospedeiro vertebrado infectado.

Os mamíferos, principalmente canídeos, ressaltando-se ainda a raposa e o cão, são os principais reservatórios do parasito. A transmissão transplacentária tem sido documentada em cães e roedores, e a transmissão venérea foi vista em cães experimentalmente infectados. Leishmanias podem também ser adquiridas nas transfusões de sangue. Relatos de casos sugerem que é rara a transmissão do parasito durante as brigas de cães, mas podem acontecer durante outras formas de contato, possivelmente quando um cachorro lambeu feridas de outro cão ou sangue ingerido durante hemorragias. Todavia o risco de transmissão horizontal entre cães e homens é desconhecido. Outros artrópodes, incluindo carrapatos e pulgas caninas podem também atuar como vetores mecânicos.

O tratamento da Leishmaniose Visceral em animais oferece risco à saúde da população. O tratamento não promove a cura da doença e o animal contaminado continua sendo hospedeiro e fonte de contaminação por meio do mosquito transmissor. Somente a adoção de medidas integradas, como o uso de inseticidas e a eutanásia dos animais contaminados, é que poderá garantir a segurança da população e da saúde humana. Portanto, até que a cura para a doença seja cientificamente comprovada, o posicionamento institucional do CFMV e dos Conselhos Regionais é pelo não tratamento da doença, garantindo assim a segurança e proteção à saúde pública, em conformidade com a legislação federal.

Em gatos, a Leishmaniose teve seu primeiro diagnóstico confirmado nas Américas no município de Cotia-SP. Vale ressaltar que os períodos de maior atividade das fêmeas do hospedeiro intermediário do parasito são o crepuscular e noturno, coincidindo com os hábitos noturnos dos felinos domésticos. Nestes, os casos clínicos são raros, assim como lesões e sinais viscerais. Casos sistêmicos têm envolvido o baço, fígado, rins e linfonodos. Os principais sinais clínicos: linfadenopatia, perda de peso, alopecia, secreção ocular mucopurulenta bilateral, desidratação, mudanças no estado de consciência, hepatomegalia, descarga nasal mucopurulenta, úlceras com crostas hemorrágicas, diarreia e dispneia. Contudo, as características clínicas dos gatos domésticos associadas à infecção por Leishmania podem ser confundidas com muitas outras doenças, o que pode levar a uma subestimação considerável desta enfermidade.

Finalizando, o gato pode ser um hospedeiro acidental da leishmaniose (ou não desenvolver resposta imune humoral importante), acarretando com isso sérios danos para a saúde pública e animal. Contudo, por ser uma zoonose com distribuição mundial, faz-se necessário uma triagem maior do clínico no consultório e dos governos mundiais frente a OMS, assim como o estudo dos casos e protocolos de tratamento e prevenção eficientes. Apesar da possibilidade do uso de várias técnicas diagnósticas, o PCR aparenta ser o teste com maior sensibilidade para o diagnóstico de animais positivos quando da infecção por Leishmania.

* Fonte: Leishmaniose Felina: Revisão de Literatura, de Carla Sofia de Melo Morais (2014). Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Pós-Graduação, Especialização em Clínica Médica de Felinos, do Centro de Estudos Superiores de Maceió da Fundação Educacional Jayme de Altavila, orientada pelo Prof. Dr. Diogo Ribeiro Câmara.

* Foto: Fêmea do mosquito Lutzomyia.

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