MICOPLASMOSE FELINA

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2A Micoplasmose Felina é causada pelo Mycoplasma sp, uma bactéria pequena de 0,3 a 0,8 μm (micrômetro: milésima parte do milímetro). Os machos parecem ser mais predispostos do que as fêmeas, talvez pelo seu comportamento. O risco se acentua na primavera e verão, quando existe maior incidência de artrópodes hematófagos. Os mais jovens são mais acometidos do que os idosos. Gatos positivos para FELV (Leucemia Felina) aparentam ter maior risco de desenvolver os sinais clínicos, por serem imunossupremidos (com o sistema imunológico em baixa atividade).

Acredita-se que o Mycoplasma sp seja um patógeno oportunista, que em situações de estresse ou enfermidade culminam com sua manifestação, no entanto em estudos que avaliaram grande número de gatos doentes, não foi possível identificar o fator desencadeador, e nestes casos a Micoplasmose é considerada uma doença primária. A transmissão através do contato social é pouco provável, mas interações agressivas, como brigas, podem resultar na transmissão, já que nesta situação o gato é exposto ao sangue infectado e não apenas à saliva.

No organismo, o parasita se adere, porém não penetra na superfície da hemácia. A fixação do Mycoplasma sp nos eritrócitos resulta em danos na membrana eritrocitária, diminuindo sua meia vida e causando hemólise (dissolução). A hemólise eritrocitária pode ser intravascular, demonstrando uma resposta autoimune do organismo e pelo aumento da fragilidade osmótica na célula. A hemólise extra vascular ocorre no baço, fígado, pulmões e medula óssea. Macrófagos podem realizar um processo denominado “esburacamento”, onde ocorre a retirada dos microrganismos dos eritrócitos, retornando eritrócitos não parasitados à circulação.

A infecção ocorre em quatro fases:

PRÉ-PARASITÁRIA – Ocorre após o organismo do animal já ter sido exposto ao microrganismo, mas antes que este comece a se reproduzir. Esta fase pode durar de duas a três semanas. Os sinais clínicos podem começar logo após esse período, no entanto, alguns animais podem ser assintomáticos ou demorar até seis semanas para apresentar algum sinal clínico.
AGUDA – Compreende o período em que os sinais clínicos são evidenciados. A gravidade e intensidade dos sinais dependem da presença dos fatores de risco e também se o animal é esplenectomisado (teve retirado cirurgicamente o baço ou parte dele) ou não. Pode variar de uma anemia não significativa até uma anemia hemolítica grave com os parasitas presentes no sangue circulante.
RECUPERAÇÃO – O volume globular volta à normalidade, ou fica bem próximo, e os microrganismos tendem a não ser mais vistos em esfregaços sanguíneos.
ASSINTOMÁTICA – Não apresentam sinais clínicos, mas são portadores do microrganismo, podendo permanecer neste estado por meses ou anos após o fim do tratamento. Nesta fase a relação parasito-hospedeiro parece estar em equilíbrio, onde a replicação do microrganismo é equilibrada por sua fagocitose (processo de ingestão e destruição de partículas sólidas pelas células) e eliminação do organismo. Embora seja rara, a recidiva da doença pode ocorrer em situações estressantes. Ainda não se sabe se nesta fase os gatos podem transmitir a doença ou se a transmissão só ocorre na fase aguda.

A infecção pode ser assintomática, com uma discreta anemia, ou ter os seguintes sinais clínicos observados: depressão, fraqueza, anorexia, perda de peso, palidez de mucosas, esplenomegalia (aumento anormal do volume do baço) e, em alguns casos, icterícia. A febre também pode estar presente.

O diagnóstico não deve basear-se somente na pesquisa do microrganismo, mas levar em conta os sinais clínicos apresentados, o histórico, o estilo de vida do animal e a presença de pulgas. O hemograma deve ser visto como um exame de triagem, demonstrando se há infecções e anemia. Para visualizar o microrganismo, utiliza-se como diagnóstico o esfregaço sanguíneo com colheita de sangue de ponta de orelha e/ou através da técnica da PCR para diferenciação entre as espécies, além de testes para as retroviroses (Imunodeficiência e Leucemia). Doenças que devem ser diferenciadas por terem sinais clínicos parecidos: Babesiose, intoxicação por diferentes agentes ou drogas e Peritonite Infecciosa Felina (PIF). Todo o processo de diagnóstico com seu consequente processo de tratamento devem ser sempre orientados por um Médico Veterinário.

O combate de ectoparasitas, como pulga e carrapato, é importante para um programa de prevenção a Micoplasmose, trazendo melhor qualidade de vida e menores riscos ao animal. Estudos mostram que gatos FELV (Leucemia) positivo são mais predispostos a desenvolver a doença, desta forma, a prevenção inclui também sorologia para esta doença, além da vacinação dos animais não infectados. A castração nestes animais é indicada, visto que diminui a agressividade, evitando-se brigas e diminui as saídas a rua.

Concluindo, a Micoplasmose é uma doença que necessita de maiores estudos, principalmente no que se refere à patogenicidade, tratamento e prevenção. Em virtude de o diagnóstico confirmatório ser difícil, uma vez que a técnica de PCR não está amplamente disponível e o esfregaço sanguíneo ser pouco sensível, os casos podem facilmente passar despercebidos. A educação do proprietário em relação a um efetivo controle de ectoparasitas e um esquema adequado de vacinação se faz necessário, visto que uma possível forma de transmissão é através de artrópodes hematófagos, e pela predisposição de animais FELV positivos desenvolverem a doença.

* Fonte: Micoplasmose em Felinos Domésticos: Revisão de Literatura, de Daniel de Souza Ramos Angrimani (Departamento de Patologia Geral – Universidade Estadual do Norte do Paraná. Campus Luíz Meneghel. UENP/CLM. Bandeirantes – Paraná), Ellen de Souza Marques (Professora do Departamento de Patologia Geral – Universidade Estadual do Norte do Paraná. Campus Luíz Meneghel. UENP/CLM. Bandeirantes – Paraná) e Pollyana Christina Machado da Silveira Coelho (Departamento de Patologia Geral – Universidade Estadual do Norte do Paraná. Campus Luíz Meneghel. UENP/CLM. Bandeirantes – Paraná). Publicado na edição n.º 16 de janeiro de 2011 da Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679-7353.

* Foto: Mycoplasma sp, de Allposters.com.

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