LIPIDOSE HEPÁTICA FELINA

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lipose-hepaticaA Lipidose Hepática Felina (LHF) é uma doença muito comum e potencialmente fatal que acomete gatos domésticos caracterizada por extenso acúmulo de gordura no fígado, provocando aumento e insuficiência progressiva do órgão. Ainda que tenha sido inicialmente descrita como uma condição que se manifesta espontaneamente ou a partir de causas obscuras ou desconhecidas, em muitos dos animais acometidos existe uma doença ou uma circunstância influenciando diretamente, tais como diabetes mellitus, hipertireoidismo, pancreatite e falta de apetite. Má assimilação ou má digestão imposta por uma variedade de doenças ou desnutrição em gatos obesos usualmente precedem o desenvolvimento da síndrome, sendo, nestes casos, secundária a tais condições. Embora os fatores de predisposição permaneçam não esclarecidos, é fato que há um desbalanço entre a mobilização de gordura periférica pelo fígado, o uso de ácidos graxos como forma de energia e a dispersão hepática dos triglicerídeos.

A LHF afeta mais os gatos de meia idade, mas sua ocorrência pode variar entre 6 meses a quinze anos de idade, em gatos comumente obesos e/ou que sofreram há pouco evento estressante, em decorrência do qual tornaram-se sem apetite e perderam peso com rapidez. A susceptibilidade individual também pode ser importante, pois alguns gatos suportam um jejum prolongado sem desenvolver a doença, enquanto que outros sofrem recorrências em cada episódio de jejum prolongado. Não há predileção por raça ou sexo. Falta de apetite de duração de alguns dias a semanas é a manifestação clínica mais consistente. Em torno de 90% dos gatos são primariamente obesos no início da doença e apresentam perda de peso significativa (cerca de 25% a 50%). Episódios de estresse (como adição de um novo filhote ou membro à família, alteração brusca de dieta, doença crônica ou mudança de habitat) precedendo um período de inapetência foram identificados em 43% dos felinos. Letargia, depressão, perda de peso, vômitos ocasionais e icterícia constituem achados comuns. Em estágios posteriores, pode-se encontrar manifestações como demência, estupor, coma e pressão na cabeça. A perda de massa magra é um achado frequente no exame físico desses gatos, com uma paradoxal retenção de gordura intra-abdominal e inguinal. O aumento de volume do fígado pode ser detectado à palpação, sendo o órgão macio e indolor. O diagnóstico diferencial entre Lipidose Hepática e diversas doenças, hepáticas ou não, é de fundamental importância para o tratamento do animal.

Complicações, como vômitos, ocorrem durante a terapia nutricional, principalmente nas primeiras 72 horas do tratamento. Por essa razão, é recomendada monitoração hospitalar dos animais em tratamento essencialmente durante a fase de estabilização do paciente. O prognóstico é melhor o quanto antes a terapia de suporte nutricional é iniciada. Aproximadamente 65% dos gatos com Lipidose Hepática se recuperam entre 3 a 6 semanas de tratamento. Alguns gatos, entretanto, podem requerer suporte nutricional por mais de vinte semanas até a alimentação espontânea. Os parâmetros bioquímicos normalmente retornam à normalidade dentro de 4 a 6 semanas. Após a recuperação, usualmente não há evidências de danos hepáticos residuais e recorrências são raras. Prevenir a obesidade parece ser a melhor forma de evitar recidivas. Programas de redução de peso para gatos obesos podem ser formulados e realizados com cuidado, monitoração da ingestão de alimento e, talvez, da atividade enzimática hepática durante a redução de peso.

Concluindo, a Lipidose Hepática Felina (LHF) é uma doença caracterizada pela anorexia (falta de apedite), perda de peso e aumento sérico de enzimas hepáticas. A patogênese da doença é multifatorial e está relacionada ao acúmulo excessivo de gordura no fígado. Obesidade e estresse recente são considerados fatores de risco que predispõem ao desenvolvimento. O diagnóstico definitivo requer biópsia do tecido hepático, sendo a citologia de grande ajuda por ser um método menos invasivo. Doenças subjacentes, se presentes, devem ser diagnosticadas e tratadas concomitantemente. Felinos acometidos apresentando icterícia devem ser considerados como pacientes críticos. O tratamento deve ser dividido em fase de estabilização inicial, seguida por um longo período de manutenção. A recorrência da doença é rara. Os pacientes devem ser monitorados em gaiolas nas primeiras 72 horas por causa de complicações que podem acometer o animal no decorrer do tratamento. Sem suporte nutricional agressivo e monitoração intensiva a Lipidose Hepática pode ser fatal.

* Fonte: Lipidose Hepática Felina, de Tânia Maria de Andrade Rodrigues (2009). Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação apresentado à Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade “Júlio de Mesquita Filho”, Campus de Botucatu, SP, para obtenção do grau de Médico Veterinário. Preceptor: Prof. Ass. Dr. Simone Biagio Chiacchio. Co-orientador: Prof. Dr. Archivaldo Reche Júnior. Coordenador de Estágios: Prof. Ass. Dr. Francisco José Teixeira Neto.

* Foto: Amoremiados.blogspot.com.

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