A Toxoplasmose é uma zoonose de grande importância para a saúde pública. O gato, hospedeiro definitivo do Toxoplasma gondii, é o principal disseminador deste protozoário. Além do contato direto com as fezes infectadas do gato ou outros felinos, contendo oocistos esporulados (formas infectantes) no ambiente, o homem pode contrair o parasita através de alimentos contaminados ingeridos crus ou mal cozidos (carnes, embutidos, etc.), hortaliças, leite não pasteurizado, ovos, além da contaminação por transplantes e transfusão sanguínea. Existe uma grande preocupação com o fato das gestantes transmitirem toxoplasmose para o feto, pois o parasita infecta a placenta e, posteriormente, o feto pode apresentar lesões severas como hidrocefalia, calcificações cerebrais, retinocoroidite e desordens convulsivas. Quando do nascimento, crianças aparentemente normais podem futuramente apresentar alterações de retardamento mental, psicomotoras e outras, por cistos latentes reativados devido às alterações hormonais na adolescência.
O Toxoplasma gondii foi descrito em 1908 em um roedor (Ctenodactylus gundi) na África do Sul, sendo denominado de Leshmania gondii e, posteriormente Toxoplasma gondii. No mesmo ano, no Brasil, o parasita foi isolado em um coelho de laboratório em São Paulo. Na década de 70 é que foi descrita a sua natureza coccidiana, bem como seus hospedeiros definitivos e intermediários.
Os sinais clínicos são determinados principalmente pelo local e pela extensão dos danos ao órgão envolvido. Podem ocorrer na fase aguda – início da infecção – e na crônica, quando há reativação dos parasitos encistados causados por imunossupressão (ato de reduzir a atividade ou eficiência do sistema imunológico). Fatores iatrogênicos (acidentes ou doenças provocadas por medicamento ou tratamento médico) ou naturais que promovem alterações dos mecanismos de defesa, como a administração de altas doses de corticosteroides e a infecção pelo vírus da Imunodeficiência dos Felinos (FIV), vírus da Leucemia Felina e pelo vírus da Peritonite Infecciosa Felina, podem reativar a infecção latente resultando em quadros sintomáticos de Toxoplasmose. Os sintomas mais frequentes da doença no gato incluem a depressão, falta de apetite, febre seguida por baixa temperatura, efusão peritoneal, icterícia e dificuldade respiratória. Pode causar uveíte (infecção no olho) anterior ou posterior, hiperestesia muscular (contrações musculares prolongadas), perda de peso, convulsões, ataxia (falta de coordenação), diarreia, sinais neurológicos como convulsões, tremores, paresia/paralisia e déficits de nervos cranianos.
O diagnóstico, baseado nos sintomas, só pode ser considerado definitivo através de exames de laboratório.
O tratamento para Toxoplasmose em gatos é a administração de clindamicina na dose de 25mg/Kg por via oral a cada 12 horas durante 2 a 3 semanas. O prognóstico é bom, se o diagnóstico e o tratamento forem feitos no início da doença. Gatos em que a doença não se manifesta no globo ocular, sistema nervoso central ou neuromuscular respondem ao tratamento em 2 a 4 dias.
Gatos são essenciais para a disseminação do Toxoplasma gondii na natureza. O gato e outros felídeos, por serem os hospedeiros definitivos, ou seja, os únicos a realizar a fase enteroepitelial eliminam para o ambiente cerca de 100.000 oocistos por grama de fezes. Esses oocistos são excretados por uma ou duas semanas, mas podem permanecer viáveis por até dois anos. Os oocistos para tornarem-se infectantes devem esporular e este processo leva de um a cinco dias após a excreção. A esporulação ocorre no ambiente e é dependente da temperatura e umidade. Os gatos defecam e enterram suas fezes consistentes em terra fofa ou areia, por isso podem permanecer no local por meses. Por sua vez, em razão de seus cuidadosos hábitos de limpeza, matéria fecal não é encontrada na pelagem de gatos clinicamente normais, reduzindo minimamente a possibilidade de transmissão para seres humanos pelo ato de tocar ou acariciar o animal. A administração de doses clínicas de coritcoesteróides ou a co-infecção com o vírus da Imunodeficiência Felina (FIV) ou o vírus da Leucemia Felina (VLF) não provocam a eliminação do oocisto em gatos cronicamente infectados.
Pessoas que tenham contato com gatos não apresentam risco elevado de adquirir Toxoplasmose; o ato específico de tocar os gatos é um modo raro de contrair a doença. Mordidas e arranhões são improváveis vias de transmissão, pois as formas infectantes dificilmente estarão presentes na cavidade oral, saliva e unhas de gatos com infecção ativa ou infecção crônica. O homem e os animais, incluindo os gatos (carnívoros e onívoros), podem adquirir a toxoplasmose após o nascimento, via transplacentária, pelo consumo de carnes ou seus derivados contendo cistos nas fibras musculares, hortaliças, frutas, águas, mãos contaminadas pelos oocistos, transfusões sanguíneas e transplante de órgãos.
Na prevenção da Toxoplasmose em gatos deve-se não alimentá-los com produtos cárneos e principalmente mal cozidos, somente oferecer alimentos secos ou enlatados. Recomenda- se fazer o controle de moscas, baratas e de outros animais que possam servir como hospedeiros intermediários do Toxoplasma gondii. Em relação aos humanos que manipulam com gatos, devem evitar o contato com solo e areia que possam estar contaminados com fezes do gato. A caixa de areia deve ser limpa diariamente e na troca da areia imergir a bandeja em água fervente. Utilizar luvas para manipulação de terra de jardins ou areia sanitária do gato.
A Toxoplasmose é uma protozoonose de distribuição mundial. Estima-se que um terço da população humana global é cronicamente infectado pelo parasita. A importância da toxoplasmose em termos de saúde pública reside no fato desta zoonose representar uma causa importante nas alterações neonatais. A Toxoplasmose Congênita é a principal forma da doença em humanos. É a forma de manifestação mais grave do Toxoplasma gondii, ocorrendo em mulheres não imunes que se infectam durante a gestação, podendo o feto apresentar lesões severas, como a hidrocefalia, microcefalia e calcificações cerebrais. Os recém-nascidos podem não apresentar sinais clínicos e posteriormente manifestar alterações como corioretinites, retardamento mental ou distúrbios psicomotores. Nas pessoas com Aids, a Toxoplasmose é a infecção oportunista mais comum do Sistema Nervoso Central. No Brasil, 50-80% da população adulta possui anticorpos para Toxoplasma. gondii. Este é considerado o terceiro patógeno mais comum relacionado a complicações em pacientes imunodeprimidos. A cidade de Erechim, no Rio Grande do Sul, possui uma alta frequência de toxoplasmose ocular em humanos. É considerada a cidade de maior prevalência de toxoplasmose ocular no mundo.
* Fonte: Toxoplasmose Felina – Revisão de Literatura, de Vanessa Perlin Ferraro de Ávila. Relatório apresentado à Universidade Federal Rural do Semi Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Animais, para obtenção do título Especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientadora: M.Sc Pof Cristina Germani Fialho. Porto Alegre-RS, 2009.
* Foto 1: Brasilescola.com.
* Foto 2: Lar.notavel,pt.