A eleição municipal de 1992 foi decidida nas últimas semanas. Jarbas Cambraia, candidato da coligação “Patos de Minas Acima de Tudo” (PMDB, PFL, PTB E PL), disputou o cargo com o deputado estadual Hely Tarquínio. Cambraia contou com o apoio e o trabalho de lideranças expressivas como Arlindo Porto Neto, Pedro Pereira dos Santos, Elmiro Alves do Nascimento e Antônio do Valle Ramos para virar o jogo eleitoral, cujo favorito há 15 dias da votação era o Dr. Hely.
Para evitar a vitória do deputado, os coordenadores e líderes da coligação promoveram “arrastões” pelos bairros da cidade e localidades rurais, pedindo votos para Jarbas Cambraia. Além das visitas, a coordenação da campanha intensificou os comícios, e fez multiplicar nas ruas os carros de som com jingle e mensagens do candidato.
Jarbas Cambraia venceu graças a essa arrancada no final da campanha, que começou devagar e foi acelerando até atingir grande velocidade e dinamismo nas duas últimas semanas. Foi uma surpresa para o Dr. Hely, seus coordenadores e aliados. Enquanto a campanha de Jarbas Cambraia “pegava fogo” na reta final da corrida pelos votos, a do deputado estadual apenas fumegava, como se todas as energias já tivessem sido gastas nos meses anteriores.
A escolha de Jarbas Cambraia para ser o candidato do grupo político comandado por Pedro Pereira dos Santos foi “espinhosa” e deixou estragos no PMDB. O mais cotado para o posto era o vereador Marcus Amorim Alves, que tinha o apoio político da Câmara Municipal. Além dele, o nome de Alírio Martins também era cogitado. Como sempre, nas reuniões de articulação as principais lideranças do partido apontariam o nome que seria homologado na convenção.
Na reunião decisiva, um dia antes da convenção, Jarbas Cambraia foi escolhido pela cúpula peemedebista, graças principalmente ao prestígio do então vice-governador Arlindo Porto Neto. Foi uma surpresa desagradável para o grupo que esperava a indicação de Marcus Alves. Alguns se conformaram. Outros ficaram revoltados e exigiram que o vereador enfrentasse Cambraia na convenção. Markim estava arredio, mas aceitou o desafio.
O que seria apenas uma homologação de candidatura virou uma guerra na convenção. Marcus Alves contava com a simpatia de grande parte dos convencionais. Para não correr maiores riscos, a cúpula peemedebista se viu obrigada a buscar de avião dois convencionais que estavam em Belo Horizonte e votariam em Jarbas cambraia. O resultado final foi 28 votos a 24 para Cambraia.
Os episódios que antecederam a indicação do candidato e a própria convenção provocaram feridas no PMDB, que só foram cicatrizadas com o tempo. Alguns vereadores adeptos da candidatura Marcus Alves chegaram a deixar o partido. Markim decidiu não disputar a reeleição para a Câmara e se aliou a Hely Tarquínio.
Trinta dias após o início da campanha eleitoral propriamente dita, Marcus Alves foi procurado por três importantes líderes do PMDB (dentre os quais Pedro Pereira dos Santos) para rever sua decisão e apoiar Jarbas cambraia. Os argumentos não foram convincentes. Markim se negou a “passar uma borracha” nos acontecimentos que culminaram com a indicação de Cambraia. E apoiou Hely Tarquínio.
Ultrapassados os obstáculos iniciais (inclusive a concorrência de Marcus Alves na convenção), Jarbas Cambraia teria ainda que vencer outras barreiras. Era preciso mudar o estilo do candidato, nada carismático e até então sem popularidade. Mesmo orientado por companheiros de campanha e amigos políticos Cambraia não mudou muito, mas conseguiu se tornar mais comunicativo com os eleitores.
O que contava pontos a favor do candidato era a experiência administrativa na própria Prefeitura de Patos, onde fora secretário de governo da gestão Arlindo Porto Neto e assessor jurídico no governo de Antônio do Valle. Mas o fundamental para a eleição de Jarbas Cambraia foi a aliança com o PFL de Elmiro Nascimento e o total empenho das lideranças que o apoiaram, especialmente na reta final da campanha.
“Patos de Minas Acima de Tudo” e “Jarbas Já” foram os principais slogans da campanha, que manteve o grupo situacionista no poder. Mais uma vez o prestígio político de Arlindo Porto Neto foi decisivo na eleição municipal. Durante a campanha foram distribuídos panfletos mostrando que o vice-governador (cargo que ocupava) votaria em Jarbas Cambraia.
E os coordenadores da coligação exploraram inteligentemente essa “mina de votos”. Durante todo o período que antecedeu a eleição foi amplamente divulgado o apoio do vice-governador ao seu pupilo. Quem optasse por Jarbas estaria votando como Arlindo Porto Neto. Mensagem entendida, vitória assegurada.
A popularidade do médico Hely Tarquínio foi o maior desafio enfrentado por Jarbas Cambraia e seus companheiros. O Dr. Hely já havia demonstrado ser bom de voto na eleição para deputado estadual, quando obteve a maior votação em Patos de Minas, surpreendendo os já deputados Elmiro Nascimento e Bernardo Rubinger.
Confiante no trabalho assistencial à população carente – com centenas de consultas gratuitas todo mês – Hely Tarquínio fez uma campanha com o slogan “O Amigo do Povo”. Tudo parecia ir muito bem até 15 ou 20 dias antes da votação. Mas, na reta final, faltaram fôlego e novidade para conquistar os “indecisos”, que só escolhem seu candidato às vésperas da eleição. O castigo foi a derrota. Além disso, a carreira política do Dr. Hely começara no PRN de Fernando Collor. Isso deixava dúvidas na cabeça dos eleitores e impediu adesões de partidos de esquerda.
RESULTADO DA ELEIÇÃO
Jarbas Cambraia – 29. 463 votos
Hely Tarquínio – 21.386 votos
Vianeck Silveira – 655 votos
Em Branco – 5.883 votos
Nulos – 2.408 votos
Abstenção – 8.104 (11,9%)
Total de Votantes: 59.795 eleitores
* Fonte: Texto publicado na coluna História das Sucessões com o título “Virada do Arrastão” e subtítulo “Trabalho de lideranças no final da campanha deu vitória a Jarbas Cambraia em 1992” na edição de maio de 1996 da revista Phatos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.