COMO FOI A ELEIÇÃO DE ARLINDO PORTO NETO

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

AEm 1982 um quase desconhecido administrador de empresas surpreendeu a todos praticamente, ao disputar a eleição para prefeito e obter uma votação superior à de todos os seus cinco adversários de campanha. Arlindo Porto Neto foi a opção escolhida pelo povo como a mudança desejada. A campanha que começara sem prognósticos confiáveis, acabou para os demais candidatos cerca de 30 dias antes, uma vez que todo mundo já sabia o nome do vencedor. Para o Arlindo, no entanto, a busca por votos foi uma obstinação até a véspera da eleição, relembra Manoel Mendes do Nascimento (Pompéia) – que ajudou na coordenação da campanha.

Conta a história que Arlindo Porto Neto, apesar da militância do avô – um dos principais líderes políticos nos anos 60 e 70 – entrou na “área” meio por acaso. Ele era apenas um competente e respeitado administrador de empresas, sócio da Copave/Fiat, quando a história começou a ser escrita. Arlindo teria atendido um telefonema que seria para Zizico Maia (em viagem naquele dia) e recebera, na ausência dele, a incumbência de convocar uma reunião do grupo político de Pedro Pereira dos Santos. Até então, Arlindo participava pouco da política, conta o ex-prefeito Waldemar da Rocha Filho.

Mas o carisma e a identificação de Arlindo com o povo só ficou evidente mesmo quando a campanha entrou na fase decisiva. Segundo Pompéia, já havia um certo consenso dentro do PMDB de que ele seria um bom nome para disputar a sucessão do Dácio Pereira da Fonseca, mas ninguém, com exceção do Dílson Pacheco (coordenador político da campanha), conseguiu prever o estrondoso sucesso eleitoral que estava surgindo. Pompéia conta que o coordenador queria que Arlindo começasse seu primeiro discurso num comício com a frase: “Estou iniciando hoje a minha caminhada rumo ao Palácio da Liberdade” (sede do Executivo Estadual). A frase proposta por Dílson não foi incluída no primeiro discurso, mas ficou nos bastidores da política local como uma premonição.

A escolha de Arlindo Porto como candidato pelo PMDB não foi tão simples. Alguns meses antes da convenção existiam cerca de cinco outros postulantes dentro do partido – o PMDB nascera da fusão do oposicionista MDB de José Maria Vaz Borges com o situacionista PP de Pedro Pereira dos Santos. Estrategicamente nas primeiras reuniões para escolha de nomes, Pedro Santos participava pouco e quando estava presente evitava demonstrar preferencia por alguém. “Inteligente, ele poupava o futuro candidato ou candidatos e impedia um esfacelamento do partido”, avalia Pompéia.

Depois de várias reuniões foram definidos os nomes, homologados pelas convenções dos partidos existentes na época. Pelo PMDB, além de Arlindo, que teve Aldo Lino Silva como vice-prefeito, também concorreu José Paschoal Borges de Andrade e Clênio Pereira (vice). Chiquinho Campos e Terezinha de Deus Fonseca formavam uma chapa, que serviu apenas para legitimar a chapa de vereadores. Pelo PDS, disputaram Oswaldo Amorim/Wulfrano Patrício, Sebastião Versiani/Valdir Peres e Antônio Libânio da Rocha/Pedro Maciel. O PT lançou Salvador Rodrigues/Antônio Mendonça Pinheiro.

Feitas as escolhas, era chegada a hora de moldar os candidatos. No caso de Arlindo Porto Neto, a originalidade falou mais alto. Apesar das inovações no marketing político – fruto de um estágio dos coordenadores na Setembro Propaganda, em Belo Horizonte, e das ideias de Dílson Pacheco e Pompéia – foi a objetividade do candidato o que mais cativou os eleitores, sequiosos por mudança na política local, estadual e nacional. “Arlindo ganhou a confiança do povo com um discurso objetivo, franco e sem subterfúgios, uma novidade naquela época”, explica Pompéia.

Antes de se tornar candidato Arlindo era presidente do Lions Clube Centro e trabalhou ativamente no Conselho Patense de Defesa da Comunidade, onde começou a se revelar para o povo. Segundo Dirceu Deocleciano Pacheco, que na época presidia a Loja Maçônica e participava do CPDC, foi numa campanha pela criação e instalação da Escola Agrícola em Patos que Arlindo começou a se destacar. “Na campanha para prefeito o início foi tímido, mas aos poucos ele se soltou”.

O lema da campanha – que depois virou slogan da Administração Municipal – era “Atender o povo e servir o município” e foi criado por Rafael Gomes de Almeida. Também era usada a frase “Com o povo na oposição”. Pela primeira vez os comícios (os da chapa vitoriosa) se transformaram em shows, com a presença de conjuntos musicais e equipamentos de som próprios para uma festa pública ao ar livre. Com isso, os comícios viraram atração popular e cada vez mais gente comparecia para ouvir os candidatos.

Na época, o nome de maior popularidade ainda era o do ex-vereador Sebastiao Versiani (PDS), que tinha disputado a eleição anterior. Mas foi Oswaldo Amorim (também do PDS) que foi o segundo mais votado. Salvador Rodrigues (PT), Paschoal Borges (PMDB) e Antônio Libânio (PDS) tiveram pequena votação. Com três candidatos, o PDS esperava vencer na soma da legenda, mas a votação de Arlindo Porto Neto foi tão expressiva que ele teve 509 votos a mais que a soma de todos os demais postulantes.

Não foi só com o discurso objetivo do candidato a prefeito que o PMDB ganhou a eleição de 1982. A eleição municipal coincidiu com a disputa para governador, senador e deputados. “O palanque da campanha era muito forte e contava com o então brilhante José Mendonça de Morais (eleito deputado federal), José Maria Vaz Borges (eleito deputado estadual) e uma forte chapa de vereadores”, ressalta Pompéia. Também compunham a lista de candidatos nada menos que Tancredo Neves (para governador) e Itamar Franco (para senador).

Depois dos primeiros comícios, a campanha pegou fogo e ganhou em entusiasmo à medida em que os coordenadores e pessoal de apoio criavam frases e situações para conquistar o eleitor. Dílson Pacheco nominou a chapa de candidatos como sendo o “Pacotão da Vitória”. O nome era uma alusão aos pacotes de medidas econômicas do governo federal, que nunca resolviam os problemas cruciais do povo. O apelido caiu na simpatia até mesmo dos eleitores e contribuiu para a vitória de Arlindo Porto Neto.

RESULTADOS DA ELEIÇÃO

Arlindo Porto Neto/Aldo Lino Silva – 17.637 votos.

Oswaldo Amorim/Wulfrânio Patrício – 6.274 votos.

Sebastião Versiani/Valdir Peres – 3.873 votos.

Antônio Libânio/Pedro Maciel – 3.317 – votos.

Paschoal Borges/Clênio Pereira – 2.990 votos.

Salvador Rodrigues/Antônio Pinheiro – 674 votos.

Votos em Branco – 1.626.

Votos Nulo – 798.

* Fonte: Artigo publicado na coluna História das Sucessões com o título “Como Rolo Compressor” e subtítulo “Arlindo Porto se elegeu prefeito superando votação de cinco adversários em 1982” na edição de dezembro de 1995 da revista Phatos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Prominasmg.com.

Compartilhe