Ninguém, em sã consciência, poderia imaginar Antônio do Valle Ramos (PMDB) derrotado nas eleições municipais de 1988. Se não por outros motivos, a vitória era “fava contada” pelo incontestável prestígio do padrinho político, Arlindo Porto Neto. Foi a primeira vez que o apoio e a liderança do prefeito a ser sucedido contaram votos numa eleição municipal. A campanha, por isso mesmo, foi tranquila. Uma espécie de “jogo para cumprir tabela”.
Antônio do Valle passou pela convenção do PMDB sem qualquer problema. Os convencionais apenas homologaram o seu nome, escolhido pelo partido em reuniões preliminares de cúpula e lideranças. Jarbas Cambraia – na época Secretário Municipal de Governo – também foi sondado, mas não quis concorrer. O presidente do Patos Tênis Clube, João Batista Dias “Macarrão”, foi o candidato a vice-prefeito. Ele representava a ala progressista (ou mais à esquerda) dos peemedebistas patenses.
O contabilista Antônio do Valle Ramos disputou a eleição de 88 com Carlos Martins Neto (Oswaldo Amorim como vice), da coligação PL/PFL, e Marcos Antônio Cunha/Wilson Severo, do PT. Do Valle havia se destacado na administração de Arlindo Porto Neto, onde ocupava a Secretaria Municipal da Fazenda. Competente, ele deu jeito nas finanças do município e ganhou a confiança dos líderes do PMDB para ser candidato do partido. Dono de pouca popularidade, mas bem amparado pelas realizações da administração anterior, Antônio do Valle não enfrentou dificuldades para se eleger.
Enquanto o PMDB aproveitava o sucesso do Governo de Arlindo Porto Neto para fazer seu sucessor, o PFL, do deputado estadual Elmiro Alves do Nascimento, optava por fazer coligação com o PL, partido nascido de suas fileiras, aceitando o cargo de vice-prefeito. Antes de decidir pela coligação, no entanto, o PFL viveu contrastantes momentos de euforia e apreensão. A euforia vinha do proprietário da Rádio Princesa, Rui de Paula Medeiros, confesso candidato a candidato. A apreensão ficava com a cúpula do partido, que não queria a candidatura do empresário.
Não fosse a intervenção de Ricardo Marques, presidente do partido, Elmiro Nascimento e até Alysson Paulinelli (que teria vindo a Patos, numa quarta-feira, em “missão especial”, para convencer Rui de Paula a desistir da candidatura) o entusiasmo do empresário passaria pela convenção. A maior parte dos convencionais estava com ele. Sua popularidade era insofismável, principalmente porque fizera o trabalho corajoso e de bons resultados como presidente da URT. Mas, por que o PFL não queria Rui de Paula? Até hoje, ninguém respondeu essa pergunta com todas as palavras.
O partido temia pela vulnerabilidade do candidato. Mas há quem diga que a cúpula pefelista receava mesmo era o crescimento daquela liderança emergente. Parecia um beco sem saída. Tanto Rui de Paula poderia fracassar e levar o PFL à derrota, como poderia se destacar durante a campanha, ameaçando a liderança de Elmiro Nascimento. Como nenhuma das opções servia para a cúpula do PFL, a alternativa foi apoiar Carlos Martins (PL), consciente de que seria derrotado, e evitar Rui de Paula.
O médico Carlos Martins Neto (PL/PFL) aproveitou o enfraquecimento dos pefelistas para ser o cabeça da chapa que a coligação lançou em 1988. Mas isso não foi suficiente para torná-lo um candidato forte, com chances de vitória. A campanha monótona da coligação PL/PFL, sem atrativos para o eleitor, e um Antônio do Valle fortalecido pela boa administração de Arlindo Porto Neto impediram que a candidatura de Carlos Martins decolasse. O mesmo aconteceu com o Advogado Marcos Antônio Cunha (o “Chicletes”), candidato pelo PT. Seu desempenho foi fraco. Ao PT restou a vitória de Salvador Rodrigues, primeiro vereador petista eleito em Patos de Minas.
Favorecido pelas circunstâncias, sustentado pelo prestígio do padrinho e credenciado pelo bom trabalho na Secretaria da Fazenda, Antônio do Valle Ramos não se fez de rogado, nem se acomodou durante os meses que antecederam sua eleição. O candidato começou a campanha de forma tímida, mas aos poucos foi se soltando. Diariamente fazia visitas a lideranças políticas, famílias, localidades rurais, empresas e escolas, acompanhado quase sempre do vereador e candidato à reeleição Romero Santos (o mesmo que se tornaria um de seus mais ferrenhos adversários durantes os quatro anos de governo).
Além do prestígio de Arlindo Porto Neto e do trabalho de corpo a corpo, Antônio do Valle contou com o apoio sempre decisivo do esquema eleitoral comandado por Pedro Pereira dos Santos, e teve todo o PMDB ao seu lado. Nos bastidores da campanha trabalharam vários companheiros de partido, como o ex-prefeito Waldemar da Rocha Filho, Manoel Mendes do Nascimento (Pompéia) e Donaldo Amaro Teixeira. A campanha também foi marcada pelos tradicionais comícios nos bairros e na zona rural.
Outro fator que favoreceu Antônio do Valle na eleição de 1988 foi a forte chapa de candidatos a vereador, lançada pelo PMDB. Como o partido trabalhou unido durante a campanha, praticamente todos os candidatos a uma vaga na Câmara ajudaram a engordar a votação da dupla Do Valle e Macarrão. Desde o início da disputa, a vitória peemedebista era previsível, mas, no final, ela acabou sendo maior do que o próprio PMDB esperava. No dia da eleição, o contabilista sem popularidade de quatro meses atrás obteve uma grande aceitação popular: 30.797 votos ou 71,25% dos sufrágios dados aos três candidatos.
RESULTADO DA ELEIÇÃO DE 1988
Antônio do Valle/Macarrão – 30.797 votos.
Carlos Martins/Oswaldo Amorim – 10.149 votos.
Marcos Cunha/Wilson Severo – 2.277 votos.
Brancos – 6.465 votos.
Aptos a Votar – 56.106 eleitores.
Total de Votantes – 51.457 eleitores.
Abstenção – 9,03%.
* Fonte e foto: Texto publicado na coluna Histórias das Sucessões com o título “Com a Força do Padrinho” e subtítulo “Lançado por Arlindo Porto em 1988, Antônio do Valle obteve mais de 71% dos votos” na edição de fevereiro de 1996 da revista Phatos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.