Resultados encontrados: 2021

DEIXAREI SAUDADE − 152

Postado por e arquivado em 2021, DÉCADA DE 2020, FOTOS.

Quem me viu antes se espanta com meu aspecto de hoje. Fui pintada e, sem convencimento, estou irresistivelmente bonitinha. Eu até estranhei, porque imaginava acontecer comigo o que está acontecendo com as casas: derrubadas para serem ocupadas por edifícios. Ó um aqui ao meu lado, na esquina com a Rua Gabriel Pereira. Essa minha rua¹ […]

DEIXAREI SAUDADE − 153

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A sensação de abandono é horrível, não desejo isso para a minha pior inimiga entre os imóveis, que é essa sirigaita aqui ao lado que, simplesinha de tudo, nem chega a meus pés, fica zombando da minha situação. Não dá para entender é que não faz muito tempo, não tem nem dois anos, chegaram a […]

DEIXAREI SAUDADE − 154

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Mas o que é isso, alguém me fotografando? Deixa eu sacudir a sujeira do meu telhado e ranger as minhas rachaduras para tentar acreditar nisso. Alguém me fotografando? Uai, será por quê? Que prazer tem esse sujeito de perder tempo comigo, tão maltrapilha e abandonada como estou? E por que ele está de máscara, é […]

DEIXAREI SAUDADE − 155

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Eu era branquinha como a neve. Todas as minhas paredes externas eram brancas como o mais puro dos leites. De repente, sei lá o que aconteceu com essas almas que me habitam, resolveram me pintar de azul. Interessante, só a mim, e não se preocuparam com o meu muro. Enquanto aqui em volta de mim […]

DEIXAREI SAUDADE − 156

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Fui uma casa como outra qualquer, nascida nos idos tempos da construção de um mercado municipal logo adiante e de um hospital aqui em frente¹. Belos e idos tempos em que um tal qualquer deixava sua bicicleta escorada no meio-fio por horas e ninguém mexia nela. Belos e idos tempos em que nem me lembro […]

DEIXAREI SAUDADE − 157

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A maioria das pessoas que passam em frente a minha humilde estrutura mal percebe que eu existo. Os olhos dos humanos estão treinados para apreciarem o belo. Como as pessoas não encontram em mim o belo, de soslaio me encaram com desdém, como se eu significasse unicamente uma pobre residência que hoje não tem mais […]

DEIXAREI SAUDADE − 158

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Lá nos idos da lamparina, sabe-se lá quem ou quais tiveram a magnífica ideia dessa baita distância da casa de um lado para a casa do outro lado. Assim, entre as fileiras de casas de cada lado formou-se um considerável espaço, que naquele tempo era na verdade um longo descampado entre as construções. Característica: poeira […]

DEIXAREI SAUDADE − 159

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Eu olhava para a esquerda e via uma semelhante e um lote com mato. Olhava para a direita e via outra semelhante e outro lote com mato. Olhava para a frente e via mais uma semelhante e mais um lote com mato. Não perdi tempo em olhar para trás. Era assim esse nosso ambiente¹: poucas […]

DEIXAREI SAUDADE − 160

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Passa boi, passa boiada. Assim era, e logo ali tinha um descampado onde muitas tropas descansavam o gado e se descansavam antes da entrega das vítimas para o abate¹. Daqui pra cima era a saída para o hoje município de Presidente Olegário, passando pelo curral de tábuas da Augusta Gomes Ferreira, terrenos do Otávio Magalhães, […]

DEIXAREI SAUDADE − 161

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Não estou mais suportando a presença desse edifício aí atrás de mim. Não estou mais suportando a presença de edifícios à minha esquerda, à minha direita e à minha frente. Enfim, estou por aqui com edifícios em qualquer lugar. Por quê? Ora prezado, o pipocar de edifícios em qualquer lugar ocupado por casas significa justamente […]

DEIXAREI SAUDADE − 162

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Salve-se quem puder! Eis um grito meu de desabafo, totalmente inútil. Ora, se não. Para os humanos é muito fácil sair correndo quando ouve aquele apelo. E quanto a nós, imóveis? Por isso afirmei que era inútil o meu grito de desespero, visto que não podemos nos desgarrar do local onde fomos construídas. Simplesinho assim. […]

DEIXAREI SAUDADE − 163

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Eu poderia me vangloriar, mas não vou me vangloriar. Tenho muitos motivos para me vangloriar, mas não vou me vangloriar porque quem eu aconcheguei tinha tudo para se vangloriar e nunca se vangloriou. Aqui dentro de mim reinou a quietude de um ego que nunca se submeteu a fantasias excêntricas. Minhas paredes estão impregnadas de […]