João Marcos Pacheco, presidente do Centro de Estudos Teatrais é casado com Maria Suely de Souza Pacheco, tendo dois filhos: Betânia e André.
Líder por natureza, João Marcos, desde o início das atividades do CET, vem demonstrando uma força e um dinamismo que assusta a muitos, pois mesmo diante de tantas barreiras que existem e sempre existirão, ele se manteve firme e fiel à arte.
Graças à garra com que vem lutando durante todos esses anos, é que ainda sobrevive o Centro de Estudos Teatrais.
É esse artista João Marcos, que será entrevistado por nós.
O que é João Marcos Pacheco dentro do CET?
Creio que eu seja o presidente do Grupo que mais tempo tenha permanecido na presidência (o que não é bom e nem me ufano disto). Quando disponho de tempo, desafio qualquer um a trabalhar mais do que eu pelo CET e pelo teatro amador em nossa cidade (disto me orgulho). Sou também “para-raios” do Centro de Estudos. Todas as “bombas” têm estourado nas minhas mãos. Ganhei muitas antipatias por exercer o meu trabalho. Errei muito, principalmente quando mais moço. Infelizmente, hoje não posso fazer aquilo que gostaria, por falta de tempo, principalmente.
Quais os elementos que marcaram época no CET?
Obedecendo o critério da memória: Romero Nepomuceno, Valério Nepomuceno, Consuelo Nepomuceno, José Francisco Sobrinho (Chicão), Wilson Morais, Nilson Ferreira, (Capotão ou Fon-Fon), Rogério Lino Andalécio, Magna Campos, Maria Aparecida de Paula (Paula), Aparecida Cândido do Vale (Cidinha), Elizabeth Santana, Júlio César Nepomuceno, Luiz Carlos Moreira de Carvalho, Heitor Rocha de Mendonça Pinheiro; principalmente estes deixaram algum trabalho de grande importância para o nosso grupo.
Qual a peça que tem “muita história para contar”?
Todas têm a sua história. “Cidade do Absurdo” pelas dificuldades enfrentadas. “O Milagre de Anne Sullivan” pela interpretação extraordinária do elenco, especialmente de minha esposa (Suely), no papel de “Helen Keller”. “Édipo Rei” pela grandiosidade do espetáculo. “Confusões de Um Natal Feliz”, “O Rapto das Cebolinhas”, “Chapeuzinho Vermelho”, “Eu Chovo, Tu Choves, Ele Chove” peças infantis que sempre colocaram no rosto das crianças uma cor de alegria e felicidade. “Quarto de Empregada” pela coragem do Grupo em vencer certos “tabus” e mostrar um teatro considerado por alguns como “pesado”. É por isto que digo, cada peça tem a sua história para mim e para cada um dos integrantes do CET.
Qual o motivo da inatividade tão longa do Centro de Estudos Teatrais?
Faria a pergunta de outra maneira: Por que o CET tem períodos de inatividade? Porque um grupo amador depende muito dos elementos que o integram e dos compromissos destes integrantes. Explicando: em sete anos de existência já apresentamos mais de 15 espetáculos, o que significa dizer que foram em média, mais de dois por ano. Isto é muito bom, poucos grupos conseguem índice igual. Quanto aos períodos inativos, a razão principal ou os principais motivos seriam: falta de elementos com tempo disponível, falta textos compatíveis com nossas possibilidades (elenco, cenário, figurino, etc.). Além destes os imprevistos, como foi o caso recente da fratura de tornozelo do nosso José Malheiro, que integrava o elenco (que só fez a apresentação de estréia) da peça “O Genro que era Nora”.
Exige-se algum requisito especial para que algum elemento seja membro do CET?
Não. Apenas que seja seu desejo participar do Grupo. Agora, é importante que venha a gostar do CET de maneira especial. Que seja capaz de “brigar” pelo Grupo. Não é possível que alguém fique com “um pé de dentro e outro lá fora”. Tanto não existem requisitos especiais, que o elemento que entra é quem diz: “EU SOU DO CET”. No entanto, todo mundo tem que passar pelo teste de “carregar táboa”! (Conceito que vem desde a época em que montávamos e desmontávamos um tablado lá no Cine Riviera, para apresentarmos as nossas peças).
Há algum elemento que já fez parte do CET e que hoje faz carreira fora?
Sim. A Paula faz teatro e escola de teatro no Rio. O Wilson Morais faz teatro em Brasília. A Marlene Pinheiro (atriz convidada, pois nunca quis pertencer ao CET) faz teatro em Belo Horizonte. O Rogério também trabalha e estuda teatro em BH.
O CET recebe verba de algum órgão?
Da Prefeitura Municipal de Patos de Minas, anualmente. Já recebemos verbas especiais do Conselho Federal de Cultura, do Serviço Nacional de Teatro, da Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais e temos ainda hoje recebido inúmeras doações de firmas ou pessoas físicas.
Todo o trabalho do CET, até hoje, foi bastante aceito pelo público, a que fator você atribuiria este sucesso?
Primeiramente reconhecemos que quem tem um VICENTE NEPOMUCENO (assim mesmo, com letras maiúsculas), dificilmente apresenta um trabalho ruim. Em segundo lugar a nossa preocupação constante de só levarmos em cena uma montagem, depois que ela realmente esteja bem acabada. No CET exigimos muito dos atores, da sonoplastia, da iluminação, do cenário, do figurino e é claro, do texto a ser montado pelo Grupo. E finalmente, o nosso respeito pelo público (infantil ou adulto) é muito grande. Quem sai de casa e paga um ingresso, não quer perder seu tempo e tão pouco voltar contrariado. Acho que estes três fatores é que nos têm garantido a posição que gozamos em Patos de Minas e na região.
Como que o CET veio a adquirir o TEATRO TELHADO?
Pela grandeza de coração do meu pai! Para aqueles que o conheceram esta afirmativa nunca irá parecer uma “bajulação” ou uma “vaidade” da nossa parte. JOÃO PACHECO FILHO, realmente foi, enquanto viveu, um homem bom. Ele em 1978 assinou conosco CONTRATO DE COMODATO, nos cedendo o terreno e o “esqueleto” de barracão que lá existia, para construirmos o nosso teatro. Com a ajuda substancial do Dr. Dácio Pereira da Fonseca, Prefeito Municipal, de inúmeras firmas comerciais e muitos amigos que nos fizeram doações em dinheiro ou materiais e com o esforço coletivo dos integrantes do CET, construímos o Telhado e no dia 24 de maio de 1976¹ (aniversário da cidade), o dia amanheceu com a placa do Teatro Telhado dependurada na faixada daquele espaço cultural patense. (Lembramos aqui, que este fato foi comunicado, no mesmo dia, ao historiador Prof. Antônio de Oliveira Mello.)
Em geral o que você acha da arte cênica em nossa cidade?
Acho que temos feito um bom trabalho no CET. Afirmamos que nenhum de nossos espetáculos, infantis ou para adultos, foi fraco. Quem viu gostou. Por outro lado, os outros espetáculos aqui mostrados por todos os que fizeram ou ainda fazem teatro, também agradaram aos espectadores. Acho que a arte cênica em Patos, vai bem, obrigado!
Qual a sua opinião sobre a cultura em Patos?
Sobre quem promove a cultura podemos dizer que todos se empenham muito no que fazem. E para provar isto, citaríamos os “shows” musicais que têm sido mostrados aqui. Antes ninguém se preocupava muito com uma montagem musical. Hoje não, fazem cenário, usam iluminação e tudo o mais que compõe um espetáculo. Os músicos ensaiam bastante e se preocupam com a escolha do repertório. Nos outros aspectos artístico-culturais verificamos o mesmo esmero e cuidado. O que está faltando é uma maior participação e valorização por parte daqueles que poderiam se beneficiar com o movimento cultural.
O CET tem alguma peça a ser montada?
No momento, não. Mas há de ser, podem ficar tranquilos…
Além do CET, você é ligado a algum outro movimento artístico cultural em Patos?
Poderia dizer que sim. Sou muito amigo da Escola de Música Carlos Gomes e do Studio Ballet. Por falar em Escola de Música, iniciamos dia 5 p.p. um trabalho com um grupo de 13 alunos daquela Escola, no setor de Artes Dramáticas. Desejo passar para eles, um pouco de minha vivência teatral, espero que dê certo.
E a Festa do Milho, quais as sugestões e modificações que, a seu ver, poderiam melhorar aquela programação?
De Festa do Milho eu gosto pouco. É uma festa para quem gosta de “farra”, principalmente. Acho que no aspecto ruralista ela está bem (disso quase não entendo). Parece que o “povão” gosta de ir ao Parque de Exposições. Cerveja e “tira gosto” é uma pedida que tem caído bem, durante a festa. Desfiles, shows e bailes completam o quadro geral. Acho que é isso mesmo. No fundo o povo critica muito, mas vai. Eu prefiro quase não falar, mas também não vou.
Você se sente recompensado em deixar “um pouco”, as atividades artísticas por qualquer outra atividade como vem acontecendo atualmente?
Recompensado, nem tanto. Mas tenho que defender “o leite” das crianças e tem tanta “boca chupando” que não está fácil! Mas sempre sobra um “tempinho” e aí a gente se realiza, por completo!
O que é o Centro de Estudos Teatrais para você: João Marcos?
Representa um bom pedaço da minha juventude. Eu gosto muito do CET. Os elementos com quem já trabalhamos e ainda trabalhamos hoje são ótimos amigos. Foi no CET que iniciei minha carreira na arte dramática. Aprendi muito. Doei bastante de mim mesmo ao nosso Grupo. Como eu sei que todos se doaram também. Agora, acima do CET está o teatro em si, e o teatro, como disse há alguns dias, depois de minha família, talvez seja aquilo que mais gosto. Terminando, gostaria de dizer que se ofendi alguém não foi propositadamente; se puderem perdoar fico grato pela compreensão. Faço agora um apelo:
Não deixem o Centro de Estudos Teatrais inativo, venham trabalhar, tomar a frente, quebrar as lanças e nós ajudaremos no que pudermos. O meu lugar hoje é na “reserva” e a música popular já dizia: “Não acredito em quem tem mais de trinta”!…
* 1: Há uma divergência de datas. Se o terreno para o teatro foi adquirido em 1978 como pôde ser inaugurado em 1976?
* Fonte: Entrevista publicada na coluna Sem Fronteiras do n.º 43 da revista A Debulha de 15 de março de 1982, realizada por Vicente Paulo Rodrigues e Mônica Barbosa Borges, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.