JOÃO DUARTE CAMPOS (ZICO CAMPOS) FALA DE MÚSICA EM 1988

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DSC02150 - CópiaJoão Duarte Campos, conhecido como Zico Campos, completou neste último dia 8, 80 anos, dos quais mais de 70 foram dedicados à música em Patos de Minas e toda a região. É casado com Elisa Borges Nogueira Campos e tem 6 filhos. Nesta entrevista, o professor e maestro fala ao companheiro Heitor Mendonça de suas atividades, aconselha aos músicos mais jovens e faz algumas considerações sobre a música de um modo geral. Colaborou Agostinho Morais, músico patense.

Como é que surgiu seu interesse pela música?

Foi de nascença. Quando eu nasci, já nasci escutando som de música. No dia do meu nascimento, a banda de meu pai estava formada para fazer ensaios, e eu nasci justamente na hora de um ensaio, no dia 8 de fevereiro de 1908, às 7 horas da noite.

Qual é a sensação de se chegar aos 80 anos de vida, com mais de 70 dedicados à música?

Bom, isto é um fator interessante, porque eu não fui só músico, eu trabalhei no comércio muitos anos, trabalhei em repartições públicas, mas desde 1943, eu abracei totalmente a profissão de músico, não só para o sustento, como por amor à arte. E iniciei a lecionar música já nesta época e já criei a primeira banda lá em Presidente Olegário, que eu comecei em 1943, de onde veio o meu interesse e meu amor à arte.

No seu tempo, tocava-se valsa, marchas e outros tipos de música. Hoje, a música do momento tem sido o rock. Se o senhor fosse iniciar sua carreira hoje, o senhor tocaria rock?

Eu acompanharia a evolução da música, porque no meu tempo, quando eu comecei a tocar, tocava-se valsa e outras, na orquestrinha do meu pai, com a tempo que a gente foi crescendo, só foi evoluindo, já começaram a aparecer as marchas carnavalescas, os sambas, depois vieram aquelas músicas americanas, hoje é rock. Isto tudo foi modernizando, e nós fomos abraçando esta evolução. E eu adoto e abraçaria este gênero de música se eu fosse começar novamente com a música, porque tudo é música.

O senhor poderia nos falar sobre algum fato que tenha marcado sua vida, nesses quase 70 anos de música?

Bom, são diversos fatos que aconteceram na vida da gente mas acontece, por exemplo, dentro de uma semana, sem exagero, meu pai me fez pistonista, de maneira que para mim foi a maior alegria, a maior satisfação quando eu estreei, com oito dias de estudo de pistom, como primeiro pistonista da banda de meu pai. Pra mim foi um fato muito importante, eu com a idade de 11 anos. Isso foi em 1919. Agora, tem outro fato muito importante também, na minha vida de música, foi quando eu fui para Belo Horizonte e ingressei na sinfônica municipal, fiz testes, fui aprovado. De maneira que uma das maiores emoções foi quando entrei no teatro Francisco Nunes, com 60 professores, 60 músicos, eu era um deles, o Teatro estava repleto. Agora, minha maior satisfação foi ver nas primeiras fileiras, conterrâneos meus, porque “correu” a notícia que eu ia estrear naquele dia na sinfônica.

Com sua experiência, o senhor teria algo a aconselhar para os músicos mais jovens, que estão iniciando agora?

Uai, o que eu poderia dizer a essa gente é isso, estudar música, mas se estudar a música perfeita. Não é pegar hoje um instrumento qualquer e amanhã ele já estar lá… no conjunto, tocando sem saber o que é, aereamente. Eu aconselharia então que o músico, que estuda música, futuramente será um, músico perfeito, eu digo por experiência com meus próprios alunos. Estudem música, porque a música é arte, é um remédio para a doença, é alegria, é o que faz a festa, como dizia Dom José André Coimbra, festa sem música e sem foguetes não é festa.

Como é que o senhor vê a música hoje em Patos de Minas? O senhor acha que as coisas tem sido favoráveis aos músicos e sua arte?

Bom, neste ponto, me parece que eu estou assim um pouco fora porque eu não tenho frequentado festas, não tenho visto muito bem estes conjuntos, mas, afinal de contas, se existe música, se existe melodia, a música será aceita. Só que o que a gente não concorda hoje é com o barulho máximo que eles fazem para encobrir a verdadeira música. Se eles diminuíssem mais o som para deixar aparecer a voz do cantor mais pura, o solo de um instrumento, seria mais interessante, seria mais bonito. Mas eu aprovo de qualquer maneira, é a evolução, eu procuro evoluir. Eu gosto da juventude, gosto destes rapazes que pegam uma guitarra e amanhã ou depois já estão tocando, é sinal de inteligência, é sinal que ele tem dom para a arte musical. Eu quero te dizer que até hoje eu ainda tenho físico para fazer até o carnaval, não fiz contrato mas farei um carnaval com meus alunos, com meus colegas para dizer que Zico Campos, com 80 anos de idade ainda fez um carnaval.

Há alguma consideração que o senhor gostaria de fazer?

Eu gostaria de fazer um agradecimento, porque por meio deste jornal muita gente ficará sabendo quem é João Duarte Campos, o Zico Campos, professor de música, maestro e talvez meu nome ficará conhecido na cidade e na região, depois já de 80 anos, e 70 de música.

* Fonte e foto: Edição de 02 de março de 1988 do Vox Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

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