Falar em Centro de Estudos Teatrais, é retirar de dentro do coração toda aquela alegria, toda aquela energia que fez brilhar, mesmo que arduamente, sete anos de vida, onde as glórias certamente se sobrepuseram às decepções, às tristezas e mesmo até à falta de apoio. Mas ele conseguiu sobreviver e aí está neste mês de março, completando mais um ano de vida, que certamente temos a certeza, não será o último. Estará ainda disposto a brilhar, a lutar pela cultura patense, em qualquer aspecto, não sendo apenas no sentido das artes cênicas, pois o CET expande seus trabalhos nas áreas da música, da dança, da literatura, dando apoio moral e resguardando a nossa perpetuação artística.
Não quero ser demagogo, pois para todos aqueles que por ali passaram, ou mesmo aqueles que ainda passam e outros que certamente passarão, poderão constatar que do CET sempre fica na alma um pouquinho de cada degrau que ali foi construído. Onde se tem sempre uma lembrança de que realmente valeu a pena.
Foram 17 (dezessete) peças apresentadas ao público patense e da região, sendo que cada uma tirou de cada elemento que delas participou, toda garra que se pode dar ao teatro amador do interior, numa exigência de direção, sonoplastia, iluminação, figurino e cenário, pois tenho a certeza que cada um deu tudo de si. E a resposta nos foi dada pelo público presente a cada espetáculo, através do estímulo, cumprimentos e aplausos, que sei, foram todos sinceros. Onde toda pessoa saia do teatro estampando no rosto a satisfação de saber que havia pago para ver uma coisa de real valor e mais ainda, sabiam que aquilo era fruto da terra.
Quantos foram aqueles que conseguiram se sensibilizar pelas interpretações de Suely Pacheco, no papel de “Helen Keller”, em “O Milagre de Anne Sullivan”; ou Marlene Pinheiro e Paula, como “Suely” e “Rosa”, no espetáculo “Quarto de Empregada”; ou João Marcos Pacheco e Márcia Spury como “Apolinário” e “Do Carmo” em “A Grande Estiagem”. Cada um desses atores foram capazes de arrancar do público toda a emoção, se sentindo recompensados após cada espetáculo com a certeza de que realmente tinham conseguido dar tudo de si, sem “autos estrelismos”, onde os outros atores também se sobressaiam de uma maneira brilhante.
O CET, ousou montar peças que seriam até um pouco pesadas, para grupos profissionais, onde os cenários e figurinos saíram caríssimos (ÉDIPO REI − O MILAGRE DE ANNE SULLIVAN), onde sabiam que as interpretações iriam exigir muito de cada ator. Mas isto não foi barreira, pois se saíram bastante bem, dando provas de que o grupo tem garra e mais ainda a coragem de “quebrar tabus”, pois a batalha do teatro de interior é bastante árdua, mas construtiva e recompensadora. Recompensadora financeiramente, todos sabem que não. Se fossem esperar resultados financeiros, ninguém faria nada. Confia-se apenas em dar “um tiro no escuro”, sabendo que os prejuízos poderão ser bastante onerosos.
Mas existem pessoas sensíveis à arte que ajudaram o CET a crescer. Pessoas estas que nos tornaram capazes de sair à luta, arregaçar as mangas, para que a batalha fosse vencida. Pessoas assim como o “velho” Vicente Nepomuceno, em quem a juventude, a alegria, a simplicidade, o amor à arte, o otimismo e como já ficou famoso, “o homem das mãos mágicas”, o transformaram num dos elementos mais queridos pelo CET, dedicando todo o seu valor à arte patense há vários anos e ao CET todos os sete anos de sua existência.
A “fera” João Marcos Pacheco, também se dedicou ao CET, todos estes sete anos (veja “Debulha” n.º 43¹). Poderíamos dizer que o CET só resiste, devido à organização e ao esforço pessoal, principalmente deste que é o ponto de apoio do grupo.
O saudoso João Pacheco Filho, que por bondade e sensibilidade para com as artes, cedeu ao Centro de Estudos Teatrais, mesmo que não seja eternamente, o local onde se situa o Teatro Telhado, onde o grupo pôde se desenvolver mais e mais suas atividades, servindo ainda como palco para espetáculos de diversos artistas patenses e outros que vieram de outras cidades e se apresentaram no Teatro Telhado, quase sempre, sem ônus nenhum para quem promovia os espetáculos. O CET lhe será eternamente grato e que Deus o tenha.
E existem ainda várias pessoas que de uma maneira ou de outra vêm trilhando junto com o CET, englobando cada vez mais e ampliando o círculo (que não é pequeno) de amigos e batalhadores pela implantação das artes cênicas em nossa cidade.
Quando no número anterior iniciamos um documentário, que concluímos agora (página 13²), tínhamos o objetivo de que todo aquele que se interesse, e talvez não soubesse da já tradicional história do CET, tomasse conhecimento. Já é bastante a sua bagagem promocional e esperamos não irá terminar aqui. Que o CET faça dezessete, vinte e sete anos…, sempre batalhando em prol do crescimento de nossa Patos de Minas, e que quando já não mais houver o Teatro Telhado, que por sinal está prestes a ser vendido (o terreno³), já tenhamos a tão esperada Casa de Cultura e que assim possamos perpetuar cada vez mais nosso trabalho.
Obrigado CET − Centro de Estudos Teatrais, por aquilo que nos ensinou e proporcionou nestes seus sete longos anos de existência. Estamos sempre ai para lutar pela sua continuação, com unhas e dentes, pois temos a certeza de que seremos recompensados.
* 1: Leia “João Marcos Pacheco Fala Sobre os Sete Anos do CET”.
* 2: Leia “Sete anos de CET − Peças Apresentadas”.
* 3: Leia “Fim do Teatro Telhado”.
* Fonte: Texto de Vicente de Paulo Rodrigues publicado com o título “Sete Anos de CET” na edição n.º 44 de 31 de março de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Edição n.º 43 de 15 de março de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.