O Prefeito Clarimundo José da Fonseca Sobrinho sentiu a necessidade de Patos de Minas prestar uma homenagem imorredoura a Olegário Dias Maciel, falecido em 05 de setembro de 1933, levantando-lhe um monumento em praça pública. Depois de encetada campanha em todo o Município, que foi bem recebida pela população, pôde concretizar o seu trabalho com a inauguração do monumento (meia figura), quase em frente à então residência do homenageado, na Avenida Municipal (depois Benedito Valadares e hoje Getúlio Vargas), em 30 de julho de 1936, às 19 horas. Foi um dia de festa, com grande parte da população presente prestigiando ao ato, que contou com a presença de autoridades estaduais, de municípios vizinhos e locais¹.
Apesar de ser uma meia-estátua, da cintura para cima, foi o primeiro monumento do tipo fincado em terras patenses “fora dos interiores das igrejas”. Para o nosso sertanejo daqueles tempos, estátua, sendo inteira ou não, peremptoriamente representava a imagem de algum santo ou santa. Alguns deles, fazendeiros de posses que frequentemente mantinham contato com a elite, e que tinham um pouco de instrução, sabiam quem era e o que representava a personalidade do homenageado. A maioria, porém, que vivia modestamente no campo e pouco sabia o que acontecia entre os poderosos na sede, quando se depararam com aquela estátua logo imaginaram que a Igreja estava expondo naquele local a imagem de algum santo. Num primeiro instante, tímidos e desconfiados, passavam por ela, olhavam, muitos tiravam o chapéu e faziam o sinal da cruz. Do outro lado, o lado de quem sabia o significado de Olegário, a visão daqueles caipiras reverenciando a estátua era por demais engraçada. Por isso, davam de ombros e deixavam os coitados cumprindo o seu ritual.
Como em todo lugar do mundo, independente da época, sempre há os espertinhos. E teve um deles que vislumbrou a possibilidade de ganhar alguns trocados na maior moleza com a ilusão dos simplórios sertanejos. Antes do amanhecer, ninguém à vista, o tal fulano colocou aos pés do monumento uma pequena cuia com algumas moedas. E por lá ficou, entrincheirado num local estratégico. O dia amanheceu serenamente obrigando os autênticos trabalhadores à labuta. Os da cidade que passavam e viam aquela cuia não davam importância. Mas, quando os primeiros roceiros chegaram, não deu outra: moedinha no vasilhame acompanhada de orações ao São Olegário. E o espertinho lá, de olho. Quando não tinha ninguém perto do monumento, ele, como quem não queria nada, chegava, ajoelhava, fazia o sinal da cruz, encetava uma oração e, vapt-vupt, as moedas estavam no bolso.
Três dias se passaram. Neste espaço de tempo, o pessoal da antiga Matriz, pois a Catedral de Santo Antônio ainda estava nos projetos, quando transitava pelas imediações do monumento reparava no pequeno grupo de sertanejos admirando-o, mas, à primeira vista, não suspeitaram de nada. Como a maioria da população, eles ficavam admirados pelo respeito do povo simples pela saudosa figura do Dr. Olegário.
Até que no quarto dia, alguém contou aos religiosos que os roceiros estavam jogando moedas numa cuia e que, de vez em quando, várias vezes ao dia, um desconhecido se apoderava do vil metal. Os religiosos, então, foram determinados a averiguar o que estava acontecendo. Foi aí que descobriram que aquele busto estava sendo reverenciado pelos humildes sertanejos como um santo.
Pois é, depois de quatro dias de ação gloriosa do espertinho os religiosos ficaram sabendo que o ilustre Olegário Dias Maciel, através de seu busto, estava sendo considerado um santo. Situação inusitada, mas o pessoal da Igreja acabou convencendo a todos os humildes sertanejos o que representava, realmente, aquela estátua. Quanto ao espertinho, unicamente perdeu uma boa oportunidade de ganhar dinheiro às custas da ignorância dos humildes. Sabe-se lá o que mais ele aprontou naqueles saudosos tempos.
* 1: Leia “Bustos de Olegário Dias Maciel”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fonte: Onesilton José Machado (Nazareno).
* Foto: Viagem.uol.com, meramente ilustrativa.