Um dos aviões da Campanha Nacional pela Aviação Civil já tem o nome de “Olegario Maciel”.¹
E acertadamente é o do aparelho que vai tocar ao Aero Clube da cidade de Patos, berço natal do grande brasileiro².
Já tardava esse nome na carlinga de um avião da Campanha Nacional, que é a mais ampla realização, de carater espontaneamente popular, que surgiu na era republicana.
Olegario Maciel, mais do que qualquer outro, é o nome para os altos, para os cimos, para as cumiadas. O avião, e, ainda mais, o avião que vai adestrar a mocidade para a defesa corajosa do Brasil, é o seu lugar proprio.
Todos os oradores da ceremonia do batismo do aparelho exaltaram admiravelmente a memoria de Olegario Maciel.
No Brasil só podem ainda conservar-se impermeaveis à compreensão da figura de Olegario Maciel, aqueles que entendem que era saudavel, que era digna, que era criadora a vida politica do país até outubro de 1930.
Os brasileiros, porem, que fizeram a Revolução, que, com ela, quiseram sepultar um passado de erros sucessivos, de fraudes acumuladas, de mentiras e traições, esses brasileiros, que, em 1930, se levantaram, de 3 a 24 de outubro em armas, saberão sempre venerar a memoria de Olegario Maciel.
A obra revolucionaria não está isenta de erros. Ela é humana, muito longe, portanto, da perfectilidade. Só porem, os cegos que não querem ver serão capazes de negar que a estruturação economica, social, intelectual e armada do Brasil se firmou mais − não obstante todos os erros − nestes doze anos, do que em todo periodo republicano, até 1930.
E a revolução só foi possivel porque Olegario Maciel foi revolucionario. Porque ele foi firme e foi leal. Basta lembrar que todos os reacionarios daqueles tempos respiraram desafogados, quando viram o Presidente Olegario Maciel entrar no Palacio da Liberdade, em 7 de setembro de 1930.
E por que? E’ que, desde o sr. Washington Luiz até o seu mais apagado correligionario, todos sabiam que só com Minas a revolução seria possivel e Minas estava nas mãos do homem que eles julgavam absolutamente incapaz de fazer uma revolução.
Entre os proprios aliancistas, que constituem a maior parte dos brasileiros, havia descrença e desapontamento. O sr. Olegario Maciel não faria a Revolução… A campanha da Aliança Liberal fôra apenas um sonho… Ficara a pregação… Voltariamos, entretanto, ao pantanal e então para sofrer mais…
A palavra do septuagenario de Patos era, entretanto, uma só: ele desencadeou a Revolução na hora exata. E só por isso ele foi triunfante. E não se limitou a faze-la. Exigiu que ela fosse completada tão estrita e exatamente como ele a combinara com os seus companheiros. A deposição de Washington Luiz não era a finalidade da Revolução, mas a colocação do sr. Getulio Vargas no poder, para que fôra eleito.
O telegrama dirigido pelo Presidente Olegario Maciel, em 24 de outubro de 1930, à Junta Governativa instalada no Rio, é um documento que honra o velho mineiro, mas honra, sobretudo, Minas.
Os mineiros não deixariam as armas, enquanto não tivessem certeza de que o sr. Getulio Vargas seria investido da direção suprema do país.
Foi o que disse à nação o velho Olegario Maciel. E foi o que se fez.
Olegario Maciel foi para a Revolução o mesmo que Deodoro foi para a Republica.
O seu nome está hoje no lugar exato: num avião para pairar bem alto sobre todo o Brasil.
* 1: Leia “O Batismo do Olegario Maciel”.
* 2: Na verdade, Olegário Dias Maciel nasceu em Bom Despacho-MG e veio com a família para a então Santo Antônio dos Patos quando tinha apenas 3 anos de idade.
* Fonte: Texto publicado com o título “Avião Olegário Maciel” (transcrição do “Diário da Tarde”, da seção “Bar do Ponto” de Gato Felix, do dia 01/10/1942) na edição de 11 de outubro de 1942 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
* Foto: Do Arquivo Público Mineiro.