Pois, meus senhores, estamos de emboras.
Approximam-se as novenas e festa do Divino Espirito Santo em este nosso arraial de Santa’Anna de Patos; e, na verdade, que parece vão ser surprehendentes, grandiosas, estupendas, cheias d’um enthusiasmo e regosijo indescriptiveis.
E o caso de dizermos: étà festinha bonita! A de Santa’Anna de Patos! O programma não pode ser mais satisfactorio!… Haverá ladainhas cantadas desde o dia 25 do presente mez… Haverá musica, foguetes, leitões, etc. etc. E parece terminar de um modo digno, para corôar satisfactoriamente tão sagradas solemnidades, haverá nos dias 2 e 3 de junho, um novo Carnaval, (risum teneatis amici?… plorate, catholici…) sim, um novo carnaval com o seu séquito de mascaras fantastica e caprichosamente disfarçadas que, percorrendo as ruas em estrepitosa, ao passo que monotona, contra-dança, reavivarão os animos, alegrarão os corações e provocarão a hilaridade e regosijo dos espectadores.
Santo Deus!!! Quonam gentibus sunus? Onde se viu jamais semelhante aberração? Em que annaes da historia ecclesiastica registrou-se jamais profanação tão cynica e satanica?
Ah! Nas pálidas folhas da minha escura intelligencia eu não acho phrases, não descubro termos adequados para qualificar devidamente tamanho absurdo. Christãos, catholicos, reunidos no Templo para pedir ao Pae das Luzes os raios da sua misericórdia e bondade, cantando a córos: Vinde Santo Espirito, Dos céus ajudai-nos e de vossa luz um raio mandai-nos… e, logo depois, accendendo uma vella ao diabo com danças mascaradas, com bailes disfarçados!!! Isto é horrivel, inqualificavel e tristissimo para o coração catholico.
Não subas, novo Moisés, sacerdote catholico, não subas ao Sagrado monte da Cathedra do Espirito Santo para fallar em nome de Deus e explicar o Decalogo a teu povo, porque os teus fieis, qual novos Israellitas, sentaram-se ja na terra arida do indifferentismo, formaram o dourado beserro da desobediencia e colocando-o sobre o manchado altar dos seus corações, honram-no, adoram-no e rendem-lhe humilde vassallagem entre festas semipagãs, indignas de um povo catholico e vergonhosas para todos os christãos: Sedit populus manducare, et tibere, et surrexerunt ludere. (Exod. 32. 6)
Ó Catholicos! Conver-ter-se-ha este novo Carnaval em a espantosa tragédia em que converteu-se a apostasia do povo hebreu, castigado e degollado tão severa e horrivelmente, pela tribu de Levi? Deus o não permitta antes se apiede de nós. Misegere nostri, Domine; migerere nostri.
Santa’Anna de Patos, 15-V-1906.
* Fonte: Texto publicado com o título “Um Novo Carnaval” na edição de 27 de maio de 1906 do jornal O Trabalho, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Profanandashultz.blogspot.com.