TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1908)
Correram bastante animados, nesta cidade, os três dias em que o povo em delirio entrega-se aos folguedos do deus Momo.
Verdade é que não tivemos Carnaval, que é um divertimento mais adequado ao grau de civilisação em que nos achamos; houve apenas muita agua, um verdadeiro diluvio de limões.
Passaram-se felizmente os três dias de susto, em que o collarinho alto e lustroso como o mimoso vestido branco não são respeitados; em que o lar não tem as garantias e prerogativas constitucionaes, sendo a qualquer hora invadido por numerosos grupos, armados de baldes, bacias, jarros, etc., cheios d’agua e centenas de limões, que são atirados n’um combate medonho, formidavel, tudo alagando, moveis, camas, escriptorios, etc.
Resta apenas para os amantes desse genero de diversão as saudades desses três dias que se escoaram na ampulheta do tempo!
Nós é que não temos saudades; decididamente detestamos esses banhos inesperados d’agua fria, que podem trazer funestas consequencias à saude e lucro aos medicos e pharmaceuticos e consequente esvasiamento da bolsa…
Não queremos com isso profligar esse divertimento, que para muitos é uma verdadeira delicia. São gostos…
Felizmente não houve nota dissonante que viesse perturbar a alegria dos que brincavam. E foi isso o melhor da festa.
* Fonte: Texto publicado na edição de 01 de março de 1908 do jornal O Trabalho, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Zelmar.blogspot.com, meramente ilustrativa.