TEXTO: JORNAL O PATENSE (1950)
Faço uso do titulo acima não para exaltar o sentido entusiasta que sempre tem o Carnaval e sim mostrar àqueles que não tiveram a desventura de apreciá-lo nos salões de nossa terra, o que foi ele na realidade. Se tivesse sido realizado como das vezes anteriores, critica-lo-ia como um divertimento para a nossa sociedade. E, esta mesma sociedade viu-se insegura nas quatro noites carnavalescas. E por que? Ora, a resposta somente os que assistiram aos bailes podem da-la satisfatoriamente. Acho-me credenciada para tal, pois a minha pena expressa condoidas palavras, brotadas de um cérebro que jamais imaginou as cenas que meus olhos viram.
É verdade que não foi um Carnaval promovido por um clube social, e teve um carater puramente comercial. Quando se visa dinheiro, não ha seleção.
Desde que se tenha para adquirir entradas, qualquer um está autorizado a participar dos festejos. Mas este não foi o único motivo que deturpou o Carnaval patense. Um fator, aliás observado em carnavais anteriores, foi o de se tolerar b ou c por ser parente de d ou e.
Tivemos nosso coração oprimido ao ver as senhoritas e damas do nosso escol serem mimoseadas com pisadelas e falta de modo de rapazes não cônscios dos deveres sociais. Portaram-se assim porque pensaram que em troca do dinheiro desembolsado poderiam fazer o que bem entendessem. Esqueceram-se entretanto que muitos desembolsaram-no a fim de se divertirem decentemente e que o respeito humano deve ser observado em toda circunstancia. Qualquer um – contribuindo monetariamente ou não – tem por dever de civilidade, quando diverte-se respeitar as familias.
Aqueles que foram “barrados” e alguns “penetras” inconvenientes terão por certo seus defensores que argumentarão: se fossem ricos seriam aceitos de braços abertos. Interessante, não procedem como deveria ser e querem que lhes sejam dispensadas as mesmas considerações que em outros calham tão acertadamente.
O nosso Carnaval poderia ter tido um carater democratico, sem refutar quem quer que seja, se certos elementos não ultrapassassem os limites.
Urge, portanto, a necessidade da organização de um Clube social – aliás é a aspiração das senhoras e moças patenses – para que lhes seja proporcionado um ambiente seguro, de prazer e despreocupação.
Finalizando, na minha opinião, o fracasso do Carnaval patense foi somente por se ter realizado durante a Ano Santo.
Jacqueline.
* Fonte: Texto publicado com o título “O Carnaval em Nossa Cidade” na edição de 26 de fevereiro de 1950 do jornal O Patense, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Cleofas.com.br, meramente ilustrativa.