CRISE POLÍTICA NO CARNAVAL DE RUA EM 1988

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No ano que vem o (CCP) Clubinho Carnavalesco do Povo – trio elétrico que anima o Carnaval de Rua em Patos de Minas – completará 10 anos de existência. No carnaval deste ano, com a participação de 21 membros, o Clubinho, presidido pelo jovem Alberto Rassi, foi responsável mais uma vez pela animação da festa de Momo no centro da cidade. O trio se instalou na esquina da Major Gote com Olegário Maciel e varou todas as noites de folia tocando músicas do momento como Haja Amor, Brasileira, Dodô no Céu Osmar na Terra, A Roda; marchinhas tradicionais como Jardineira e Sassaricando e ainda composições do próprio Clubinho (Sacana Recuperado) e do popular Tonhão (Menininho da Mamãe).

Terminada a festa, um dos membros mais atuantes da entidade, Márcio Maciel, não se mostrava muito satisfeito. Procurado pela Debulha para falar sobre o Carnaval de Rua/88 e sobre o próprio clubinho, Marcinho “soltou os cachorros”, como se diz popularmente. Para ele, o ponto positivo do Carnaval/88 foi o envolvimento de um maior número de pessoas na animação de rua e, ainda, a formação de blocos oriundos de bairros, “com participação razoável”. O CCP, segundo Márcio Maciel, saiu do carnaval com uma dívida de Cz$ 20,8 mil que tentará cobrir com a exploração de um barzinho, num baile programado para o sábado de aleluia na Praça do Coreto.

Márcio Maciel se queixou muito da imprensa local e do poder público que, no seu entender, esqueceram totalmente o Clubinho no que se refere à participação da entidade no Carnaval de Rua/88. Segundo ele, “foi dada uma grande ênfase às escolas de samba”. Ele deixou claro que não é contrário às escolas, tendo participado da formação da Acadêmicos inclusive, e colaborado, através do CCP, com a Muda Brasil, quando a agremiação ainda era bloco. “Nos pronunciamentos feitos por diversas autoridades do Poder Público Municipal, por ocasião da apuração dos votos das escolas e blocos, em momento algum foi citada a participação do Clubinho na realização do Carnaval de Rua”, protestou.

Márcio Maciel, que é também Presidente do Conselho Municipal de Cultura, não encerrou por aí as suas críticas. “Sentimos, inclusive, um ar de desmobilização da entidade”, salientou ele, referindo-se ainda ao Poder Público local. Márcio Maciel deixou escapar que acredita em “razões políticas” – ele pertence ao PT e deve ser candidato a vereador este ano – no que tange ao desejo da desmobilização do Clubinho. Ao comentar sobre o carnaval como um todo, o membro do CCP não poupou a Comissão Julgadora, especialmente no que diz respeito ao julgamento dos blocos.

É preciso criticar com bastante ênfase os componentes da Comissão Julgadora que, não se sabe se propositalmente ou por conveniência, deu como ganhador o bloco Unidos do Alvorada”, disse Marcinho. Segundo ele, o bloco vencedor não obedeceu os critérios que deveriam ser observados – participação e animação –, uma vez que somente desfilou na sexta-feira, quando estavam previstos desfiles para aquele dia e para o domingo, 14 de fevereiro. “Recomendamos aos presidentes de Associações de Bairros uma organização independente e bastante antecipada na formação dos blocos para o carnaval do ano que vem”, espetou, sugerindo influência política no julgamento dos blocos.

Ao terminar sua conversa com a reportagem de A Debulha, Márcio Maciel deixou transparecer claramente que o Clubinho Carnavalesco do Povo não vai ser desativado. “Gostaria, neste momento, de informar a todos que os 10 anos do CCP serão comemorados ao longo de todo este ano e convidar a população a participar conosco”, finalizou.

* Fonte: Texto publicado com o título “Ar de Desmobilização” e subtítulo “Márcio Maciel critica comissão julgadora do Carnaval/88 e diz que sentiu ‘no ar’ um desejo de se acabar com o Clubinho” na edição n.º 181 de 15 de março de 1988 da revista A Debulha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Musica.terra.com.br.

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