Não tenho muitas lembranças dos idos tempos desse beco. Já ouvi muito que aí do meu lado era o terreno do campo do Mamoré. Quem sabia muito sobre isso era aquela que estava aqui antes de mim. Sim, infelizmente, ela se foi e eu fui construída no seu lugar, ou, quem sabe, tudo é possível, eu sou a antiga que sofreu uma remodelação drástica. Sou o último imóvel do beco e agora só sei que depois do muro é parte do terreno do Hospital Nossa Senhora de Fátima. As almas que eu aconchego comentaram e assim fiquei sabendo que esse beco recebeu o nome de um fazendeiro que negociava regularmente gado em Goiás¹. Não sei se ele morava aqui ou seu foi apenas uma graça de um político, o que é muito frequente. E de político não espero muita coisa. Igualmente não espero muita coisa do voraz progresso, este que vai consumindo pela Cidade os antigos imóveis para a construção de edifícios. Sei lá, não entendo nada disso, mas acredito que construir edifícios por aqui vai ser um pouquinho complicado. Ah, esqueci de dizer que depois que colocaram o nome, ele virou travessa. Beco, travessa, que diferença faz? E colocando o nome do tal fazendeiro faz também alguma diferença? Beco, travessa, com nome ou sem nome, é beco e travessa, pronto. Rimando com beco, falando seco, e falando de travessa, digo que vou esquecer isso muito depressa. Arre égua, como dizem os cearenses, tô aqui no meu cantinho fazendo parte da História de Patos de Minas pronto pra dizer quando a afiada espada do destino me adentrar: deixarei saudade!

* 1: Leia “Travessa Adolfo de Souza”.
* Texto e foto (18/01/2025): Eitel Teixeira Dannemann.
