MARVADO ÁLCOOL

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Duas horas. Foi esse o tempo consumido pelo Gérson para convencer a esposa Catarina que a confraternização de despedida de solteiro do primo Lúcio era só para homens e que, em hipótese alguma, estaria presente uma única mulher. A festa seria de manhã num sítio próximo à Fazenda Várzea Bonita, e a Catarina não se conformava com isso, questionando o porquê não na casa dos pais dele no Bairro Morada do Sol e que por isso na volta ele teria que passar pelo posto da PRF depois de muitos goles. O Gérson garantiu que ia beber pouco, que voltaria antes das três da tarde e que não teria problemas. Ufa, enfim a patroa aceitou, mesmo a contragosto.

O trem lá no sítio pegou fogo, literalmente fogo alcoólico. Tanto que, dos vinte e dois presentes, somente três resolveram voltar e os outros por lá ficaram. Gérson foi um dos três, já naquela base de confundir focinho de porco com tomada. Ainda com um restinho de consciência, passando pelo posto da PRF, ó azar, foi parado. O policial chegou e, já reparando no estado do motorista, pediu-lhe que o acompanhasse para o teste do bafômetro. Nesse exato momento, aconteceu algo nebuloso. Um caminhão que havia entrado numa estrada rural bem em frente ao posto policial, poucos metros depois começou a pegar fogo. O policial, correndo com mais três colegas em direção ao caminhão, ordenou ao Gérson que aguardasse. O trânsito na BR-352 continuou sem interrupção, mas ficou lento, por causa dos curiosos que paravam para registrar o fogaréu.

E lá ficou o Gérson aguardando sentado num banco ao lado da guarita, já se imaginando no pau da goiaba e ainda a bronca que receberia da mulher. Pouco mais de dez minutos, chegou a equipe do Corpo de Bombeiros, com dois carros-pipa e todos os militares se concentraram no acidente, esquecendo momentaneamente o Gérson. Mais uns minutos, estacionou bem ao seu lado uma camionete dos bombeiros e seus quatro ocupantes correram para se somar aos outros no combate ao fogo.

Tadinho do Gérson, sentado e num lapso já nem sabia onde estava. Olhou em volta, ouviu um rumor de vozes acolá, parece que percebeu fogo em alguma coisa e não notou ninguém perto dele. Resolveu se levantar, deu uma respirada forte, sentiu um tremor nas pernas, estufou o peito, mais outra respirada forte, entrou no carro e foi embora. Sabe-se lá como chegou em casa, mas, graças, chegou ileso.

O relógio marcava pouco mais de sete horas da noite quando a Catarina, que estava na casa de uma irmã, chegou em casa. Assustada com a presença de alguns vizinhos curiosos perguntando sobre o porquê daquilo, correu ao quarto do casal, encontrando o Gérson deitado na cama com a boca aberta, roncando e babando. Sacolejou o marido com força perguntando mais nervosa que caninana injuriada:

– Cadê o nosso carro e como aquela camionete do Corpo de Bombeiros veio parar na nossa garagem, pois eu e os vizinhos queremos saber?

Marvado álcool!

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

Compartilhe