Eu não tenho a mínima ideia de quando fui construída, mas tenho ciência de que já faz um tempinho razoável. Desde que fui inaugurada eu aprecio o meu estilo, que também sei lá o que é isso, mas gosto do meu semblante. Tá na cara que é diferente, né. Venho sempre sendo bem cuidada pelos meus donos desde o início e, como muito seres humanos fazem, passei por algumas plásticas que me rejuvenesceram. Certo dia levei um susto tremendo. Estacionou bem à minha frente uma camionete. Legal foi o meu reflexo no vidro da porta da camionete. E foi justamente aí que eu levei o baita susto: – Será que estou ficando vesga? Eu encarei aquelas duas coluninhas brancas tortas e de repente reparei que duas paredes eram inclinadas. Será que foi falha do construtor ou é do projeto? Aquilo ficou muito tempo na minha cabeça, mas, aos poucos, fui esquecendo. De repente, não mais que de repente, surgiu esse monstro aí atrás de mim. Esqueci por completo as coluninhas brancas tortas e passei a me concentrar no surgimento dos monstros. Implorei à nossa protetora, Santa Efigênia, que me explicasse aquilo. Vocês podem não acreditar, mas ela me explicou mais ou menos com essas palavras: – Chegará o dia, muito breve, que não restará uma única casa nessa região¹ e tudo será ocupado por edifícios. Que baque! Gente do céu, são palavras da Santa Efigênia, e sendo palavras da nossa Santa protetora, está mais do que decretado o meu futuro e fim de papo. O que me resta agora? Simplesmente gozar a minha condição de fazer parte da História de Patos de Minas. E também tendo a certeza absoluta de que quando eu partir, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Amazonas entre suas colegas Dona Luiza e Padre Alaor, no Bairro Lagoa Grande.
* Texto e foto (06/10/2024): Eitel Teixeira Dannemann.