Dizem que pimenta nos olhos dos outros é colírio. Ou será pimenta nos olhos dos outros é refresco? Ora, pra mim tanto faz ou tanto fez, pois quero salientar que quando demoliram uma casa simples como essa aqui ao lado para me construírem eu nem liguei para o acontecido, pois pra mim o que importava naquela época era comemorar o meu nascimento, de ter surgida como uma casa muito melhor que aquela, portanto, pra mim, ela que se danasse. Orgulho, prepotência, arrogância, soberba? Eu estava me lixando. Então, com o passar do não muito tempo, pois não sou antiga como essa velharia que tem por aqui¹, assim como que de repente, num estalo, é que comecei a reparar nas bruscas transformações que estavam ocorrendo ao meu redor e se espalhando pra tudo quanto era lado. Tudo começou quando a outra vizinha aqui ao lado foi demolida. A partir daí, sorumbaticamente, passei a perceber muitas outras casas sendo demolidas para a construção de edifícios. Passou mesmo aquele tempo de demolir uma casa e construir no lugar outra melhor. Agora o negócio é demolir a casa e construir um edifício no seu lugar, Credo em Cruz, Ave Maria, Nossa Senhora da Abadia! Será que meus proprietários, mesmo com essa minha elegância, me pouparão desse desfecho infeliz? Ó, meus donos, o que passa pelas suas mentes a meu respeito? Será que vocês vão sucumbir ao progresso e simplesmente me enviarem para o além? Ó, História de Patos de Minas, eu que faço parte de você, se um dia isso acontecer, pelo menos deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Professora Guiomar Ferreira Maia, entre suas colegas Ouro Preto e Vereador João Pacheco, no Bairro Lagoa Grande.
* Texto e foto (08/06/2023): Eitel Teixeira Dannemann.