Estou aqui manjando uma movimentação em minhas dependências. Colocaram brita e areia no passeio. Reforma? Estão me reformando? Parece até que vão construir um sei lá o que aí na frente do meu lado esquerdo. O que será? Nem minhas telhas têm ideia do que vão fazer aqui em mim. Reforma? Estão me reformando? Minhas paredes perguntam: – reforma pra que? Minhas janelas afirmam a quem interessar possa: – repare aí atrás de mim e perceba o que brevemente estará ocupando tudo aqui em volta¹. Percebeu? Meu muro que dá pro vizinho da esquerda ouviu que ele, o vizinho, já foi sondado pela especulação imobiliária. É óbvio, mais do que óbvio, que eu não terei muito tempo por aqui. Então, por que a reforma? Faço a pergunta porque quando um imóvel é vendido no intuito de no espaço ser construído um edifício, o imóvel vendido é imediatamente demolido. Então, por que estão me reformando se meu futuro não é nada promissor? A não ser, só pode ser isso, que as almas que eu aconchego pretendem ser uma das últimas a ceder espaço para a especulação imobiliária. Então é por isso que estou passando por essa reforma. Bacaninha, né. Será mesmo? Eis minhas portas me cutucando: – deixa de ser bobinha, sá, caia na real. Essa eu não entendi das minhas janelas. Cair na real de que? Que trem esquisito, sô, que já está me deixando com os rebocos em pé. O negócio é o seguinte, com reforma ou sem reforma, com especulação imobiliária ou não, vou continuar quietinha aqui no meu canto pronta para o que der e vier, eu, com muito orgulho fazendo parte da História de Patos de Minas e no meu adeus, que demore muito ainda, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua Padre Alaor (é aquela detrás do Hospital Vera Cruz) entre suas colegas Maranhão e Pará.
* Texto e foto (06/10/2024): Eitel Teixeira Dannemann.