IGREJA DOS CAPUCHINHOS: NOS TEMPOS DA CONSTRUÇÃO – 2

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Depoimentos de moradores do bairro ou da região que envolve hoje a Matriz Santa Terezinha e suas comunidades, ou seja, a Paróquia, dão conta da importância desse momento para a vida do povo de Patos de Minas. O envolvimento de todos foi intenso. Entre os depoimentos, alguns são bem pitorescos e chamam a atenção para a simplicidade do cotidiano dos frades e da população:

Quando me mudei para Patos de Minas em 1958, as missas eram celebradas na igrejinha, e a nova igreja estava ainda na base. Na época que Frei Davi era Superior (1960-1963), não existia festeiro para as festas. Ele, Frei Davi, pedia as coisas e distribuía entre algumas pessoas para fazerem os quitutes do primeiro dia da festa: ele ficava no churrasco, dona Francisca fazia os pastéis e Frei Geraldo, cozinheiro do convento, fazia o quentão. Tudo era vendido e, depois do primeiro dia, não precisava pedir mais coisas, o dinheiro ganho era usado para comprar os ingredientes para o dia seguinte. Quem servia as mesas era a Escolástica e a Vitória e, mais tarde, a Belchiolina. Outros benfeitores estiveram presentes nesse momento: meu marido, Lázaro Rosa, Sr. Otávio e Dona Francisca Cardarelle, Dona Vitória, Sr. Clovis Simão, Sr. José Gonçalves Pinheiro, primeiro festeiro de São José Operário, juntamente com ela, Dona Candinha, Belchiolina e muitos outros. (Cândida Alves Rosa)

Eu tinha 15 anos quando do lançamento da pedra fundamental, meu pai Joaquim Paulo da Silva, era muito atuante e muito contribuiu para a construção da nova igreja. (Lourivalda Paula Rodrigues)

Em minhas traquinagens de criança, pulava o muro do convento para apanhar laranjas, e, pego por minha mãe, tive que ir confessar. (Djalma Faria de Oliveira)

Quando não tinha funcionário o bastante para a obra, Frei João convidava o povo para buscar pedra. (Alderico Augusto da Silveira)

Frei João tinha um caminhão Ford antigo tocado à manivela e que apagava sempre. Ele usava o carro para buscar tijolos na olaria do Sr. Noraldino e areia no porto abaixo da ponte do Rio Paranaíba. (Zacarias Caixeta Ferreira)

Me lembro bem do terreno vago e eles furando as valetas para a construção. Eu ensaiava em casa com a Zoraida para cantar na missa, ainda na igrejinha. (Jesuína Alves Pereira Rosa)

Me recordo do que dizia meu pai Zacarias Caixeta, contando que os frades buscavam terra na Baixadinha. Eles mesmos, com a pá, enchiam o caminhão. As batinas e as barbas ficavam vermelhas de terra. (Marli Caixeta)

Tinha uns doze anos e já ajudava tirando areia do rio para os fiéis buscarem. Frei João sempre andava acompanhado de seu cachorro chamado Jiló. (Gaspar Pereira Silva)

Em 1962, as missas ainda na igrejinha eram celebradas com o padre de costas para o povo. Nessa época, era cozinheiro do convento Frei Geraldo de Cachoeira do Campo. Ele gostava de se sentar na porta da igreja para fumar seu pito de palha, por lá pastavam cabritos que acabavam lhe roubando o cigarro, em seus momentos de cochilo. (Geralda Maria de Miranda)

Frei Joaquim andava sempre de sandálias, tinha os pés trincados pelo trabalho na construção da nova igreja. A alimentação dos frades era muito precária. Naquela época não tinha geladeira e, quando chegava a época das barraquinhas, eles tinham que tomar muito cuidado para os alimentos não perderem. Uma época fiquei magoada com Frei Joaquim devido à não celebração da missa marcada em memória de meu esposo, naquela época se celebrava uma única intenção por missa. No dia seguinte, Frei Joaquim chegou à minha casa às 6 horas da manhã para pedir perdão pela falha. (Maria Vitória Faria Bernardes)

Depois da construção da igreja com muro na frente, as festas passaram para o pátio interno. Eu ajudei durante muitos anos, como garçonete. (Belchiolina Gnçalves Pinheiro)

Frei David de Bronte, um grande admirador de música, sempre falava de seu desejo de formar, em Patos de Minas, um coral. Dizia ele que aqui encontrou belas vozes masculinas e femininas. Pensou então em uma banda musical, pois sempre estava em contato com vários músicos: Sr. Zico Campos, seus irmãos Alino José e outros irmãos da família Campos, o professor Ita, Sr. Messias, Sr. José Cotote, Sr. Severo etc. Após reuniões com um grupo que envolvia Zico Campos, Alino José Santos, os irmãos Lopes, João da Estatística, José Dutra do Cartório, Antônio Pereira, Jonas Soares da Cunha, eu e outros, formou-se a primeira diretoria. Tempos depois vieram os carnês para contribuição com grande aceitação por parte de todos. Os ensaios começaram na antiga Igreja de Santo Antônio. Logo se ouviam os belos “dobrados” e as belas peças musicais. Estava nascendo uma nova banda em Patos. Que nome dar a ela? Várias sugestões. Um dia, em conversa com Frei David, dei-lhe um palpite, que tal Lira Mariana Patense? Ele sorriu e disse: “É isso!”. Registramos o nome e tivemos tempos áureos com a banda sempre solicitada para cidades vizinhas. Aos poucos tínhamos anexo à banda um pequeno coral masculino. Em 1960, abrilhantamos noites dos novenários em Belo Horizonte no Convento Nossa Senhora da Pompeia e depois tivemos uma surpresa com apresentação na TV Itacolomi, um sonho para todos. (Erasmo Tolentino Gonçalves)

* Fonte: Livro “Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus: uma história de amor franciscano em terras de Patos de Minas”, de Marques Selma Helena.

* Foto: Do livro “Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus: uma história de amor franciscano em terras de Patos de Minas”, de Marques Selma Helena, publicada em 30/10/2024 com o título “Convento e Igreja dos Capuchinhos no Início da Década de 1960”.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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