Desta vez, fui¹ pescar com uma turma totalmente diferente da costumeira. Foi quase um picnic. Fomos passar um fim de semana às margens do Rio Paracatu. A turma era Vanir, Rômulo, Alonsinho, Teotônio, Rufino do Clóvis, Eli da Fiat e Eloísio da Agropec.
Saímos para acampar próximo ao rancho do Dominhas, mas, não fomos para lá, porque ele estava com a família e resolvemos ir para outro local para não tirarmos a liberdade dele e a nossa. Ficamos de baixo para cima, tentando um lugar para acampar e nada. O jeito mesmo foi ficarmos próximo à ponte velha. Lugar bonito, mas com um defeito: cheio de penetras-filantes de pinga. Arrumamos a barraca e fomos providenciar a janta. Teotônio pôs o macarrão para cozinhar para Rômulo fazer a macarronada à moda Aeroporto. Os penetras começaram a chegar. Quando a boia ficou pronta, já tinha uns quinze criolos beirando as panelas. Aí eu chamei a turma nossa a um canto e falei:
– Vamos fingir que vamos nos deitar, e quando os pretos forem embora a gente levanta e vai comer sossegado. Tudo bem!
Ficamos dentro da barraca despistando e, Rômulo olhando no buraco da lona. A turma ia perguntando:
– Cumé, Rômulo, quantos ainda tem?
– Uns seis ainda, mas parece que dois tão indo.
Foi passando o tempo e a fome aumentando. E a turma:
– Cumé, Rômulo?
– Tem só um agora, mas ele parece que não vai embora não, ele até sentou.
Aí Alonsinho falou:
– Arreda daí, deixa eu ver.
Alonsinho deu aquela gargalhada e disse:
– Esse nêgo é nosso, sô! É o Rufino. Vamos comer!
* Fonte: Texto originalmente publicado na coluna “Pesca & Prosa” (Tião Abatiá) em 24/07/1993 e republicado na edição de 28 de junho de 2014 do jornal Folha Patense.
* Foto: Muraljoia.com.
* 1: A narrativa é de Vanir Amâncio.