PITI DO TONHO DA NICOTA, O

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À esquerda, na BR-365, poucos metros antes da entrada para o Paraíso Camping Clube na região conhecida como Vieiras, tinha um boteco que, depois da proibição da venda de bebidas alcoólicas às margens das rodovias federais, virou uma lanchonete e pamonharia. Naquele tempo, Zé Pedro, Venâncio e Tonho da Nicota, três amigos que trabalhavam num empreendimento agropecuário não muito longe de lá, tinham por hábito, toda sexta-feira pós-expediente, bater ponto no tal boteco para uma prosa amena, pitar uns cigarros de palha e bebericar umas pingas de alambique. Depois de umas três horas de papo, cada um pegava sua bicicleta e se mandava para o lar ali nas redondezas.

Certa vez, estacionou uma moto daquelas de alta cilindrada e dela apeou um casal. Os dois entraram, fizeram um rápido lanche e saíram em direção a Patos de Minas. Os três amigos continuaram a prosa pitando o cigarro de palha e saboreando a pinga de alambique. Meia hora depois, o Zé Pedro se lembrou da moto:

– Eita moto chique aquela da Yamaha, e a moça é bonita demais da conta, sô.

Os outros dois não comentaram e, parecendo não ter dado atenção à opinião do amigo, reiniciaram o papo sobre a próxima colheita de milho. Só meia hora depois, o Venâncio atinou com o comentário do Zé Pedro sobre a moto e a moça:

– Num era moto da Yamaha, e sim da Honda, e não tem nada de chique naquela zuêra, e você deve estar com problema de visão, onde já se viu achar aquela moça bonita.

Ficaram pelo menos dois minutos em silêncio, até que um deles começou a imaginar o quanto de sacas daria a colheita de milho e a conversa rendeu um mundaréu de palpites entre os três, e até o dono do boteco deu o seu pitaco. Mais uma meia hora, resolveram pedir outra dose caprichada de pinga alambicada para arrematar o cigarro de palha. Nesse exato momento, o Tonho da Nicota, que ainda não tinha opinado sobre a moto e a moça, levantou e disse que ia embora. Os dois amigos estranharam e insistiram que era a saideira e logo também iriam embora. Mas não teve jeito, o Tonho da Nicota pagou a sua parte e já saindo para montar na bicicleta os outros dois lhe perguntaram:

– O que aconteceu, ficou chateado com o que?

Tonho da Nicota olhou os dois amigos, deu uma arrumada no boné, ajeitou a mochila nos ombros e arrematou:

– Não vou ficar aqui ouvindo vocês dois nessa bestaiada sobre marca de moto e se a moça é ou não é bonita, porque se tem um trem que detesto é essa lereia de bate-boca.

Dito, montou na magrela e deixou o Zé Pedro e o Venâncio sem entender bulhufas do porque do piti do Tonho da Nicota.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 06/06/2014 com o título “Antiga Rodoviária no Final da Década de 1970 − 1”.

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