Inaugurado em 27 de setembro de 2009, o Galpão do Produtor Rural foi construído ao lado do Terminal Rodoviário José Rangel, num espaço aberto e coberto com cerca de 1200 m² para os produtores rurais venderem seus produtos, com a feira funcionando aos sábados¹. Um dos frequentadores assíduos é o Zeca do Tinoco, que faz questão de se deslocar de ônibus do bairro onde mora, o Alto Limoeiro, para se encontrar com um tio feirante e ainda colaborar no que for possível.
Certo sábado de janeiro, lá pelas oito horas de uma manhã com o sol reluzente, o Zeca do Tinoco, antes de se encontrar com o tio, resolveu pitar um cigarro de palha encostado num caminhão com caixas de verduras e legumes estacionado em local proibido no outro lado da pista da Avenida Piauí. Foi nesse exato momento que, fazendo a sua ronda rotineira, uma viatura com dois policiais, percebendo o ilícito de trânsito, resolveu fazer a abordagem, imaginando que o Zeca do Tinoco fosse o motorista do dito caminhão:
– Parece que o senhor feirante aí ainda não notou aquela placa informando que é proibido o estacionamento de caminhões nesse lado da pista. O senhor vai ser multado e espero que depois dessa aprenda que nesse espaço aqui é proibido estacionar caminhão.
O sagaz Zeca do Tinoco, nascido e criado na comunidade da Rocinha, distrito de Pilar, nos áureos tempos da FOSFÉRTIL, nada devendo a ninguém, deu duas baforadas no pito de palha e calmamente respondeu:
– Ora, seu polícia, essa placa que informa que é proibido estacionar caminhões nesse lado da Avenida Piauí eu conheço há muito tempo, por isso sei perfeitamente que é proibido o estacionamento de caminhões nesse lado da Avenida Piauí.
Irritado com a petulância do Zeca do Tinoco, o policial, energicamente, exigiu:
– Identidade, carteira de motorista e documento do caminhão.
O Zeca do Tinoco, depois de mais duas baforadas no pito de palha, entregou a carteira de identidade ao policial, que, já com a voz alterada, imediatamente retrucou:
– Cadê a carteira de motorista e o documento do caminhão?
Mais duas baforadas no cigarro de palha, com um sorriso maroto no rosto, o Zeca do Tinoco, pescador nos áureos tempos do Córrego Brejão quando era córrego com C maiúsculo, mansamente declinou:
– Seu policial, não tenho documento do caminhão porque não tenho nada a ver com esse caminhão. Nem carro eu tenho e me desloco pela cidade em ônibus. Só estou encostado nesse caminhão pra fumar meu pito de palha e agora mesmo vou lá pra feira encontrar com meu tio. Por favor, a minha carteira de identidade.
Dito e feito, Zeca do Tinoco foi se encontrar com o tio e os policiais ficaram esperando a chegada do real motorista.
* 1: Leia “Galpão do Produtor Rural Adelino da Mota Magalhães (Adelino Madrugada”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.