CONFLITO ENTRE MARCOLINO DE BARROS E JOÃO DA COSTA RIOS – 6

Postado por e arquivado em HISTÓRIA.

Perante o tribunal severo e imparcial da opinião publica, está julgado o acto da politica do dr. Marcolino de Barros contra mim. O meu intuito escrevendo estes artigos, outro não foi senão mostrar o valor moral do pedido de minha não reconducção para o Termo de Patos, não me movendo o despeito nem a desconfiança de que o acto da politica marcolinéa pudesse me desprestigiar. Depois de relatar os deprimentes factos que bem definem o valor moral do pedido contra mim feito, devo declarar que jamais me incommodei, não me incommodo e não me incommodarei com reconducções, para os logares em que estive, em que estou e em que porventura estiver, desde que tenha cumprido os meus deveres. Pedidos de não reconducção como o feito pelo Sr. dr. Marcolino de Barros, honram muito os não reconduzidos. Na opinião do dr. Marcolino de Barros, era eu um pessimo juiz a ponto de S. Sa. […] Presidente do Estado […] pedido contra mim, pedido que não passou de um verdadeiro estendal de miserias humanas, reflexos de mesquinhas e desarrazoadas vinganças. No entanto, possuindo eu pessimas qualidades (na opinião da politica marcolinéa), não encontrei a minima difficuldade em vir para o Termo e Comarca de Patrocinio visinho de Patos. Não de demovi do modo de agir que será sempre o mesmo, isto é, procurando cumprir o meu dever. Dizem-me que a preoccupação do dr. Marcolino de Barros é chamar-me de “bôbo”.

Tem razão o dr. Marcolino de Barros: o cargo de Juiz Municipal, dizem é um cargo apagado, em que a gente não pode revelar atividades, tanto é certo que felizmente em Patos, nunca pessôa alguma levantou bandeira vermelha no Largo da Matriz dedicada ao Juizado Municipal. Sei a razão porque o irrequieto advogado chama-me sempre “bobo”; foi por ter eu dito (e não nego) sempre em Patos, que conhecendo o caracter puro, recto, justiceiro do Presidente Bueno Brandão e tendo eu cumprido o meu dever, esperava confiante, que o mesmo Presidente me reconduzisse no cargo, embora fôsse minha intenção retirar-me mais tarde d’aquella cidade, onde conto, mercê de Deus, numerosos amigos, estando todavia, enojado com certas […] embora restritas. Ora, tendo o Presidente Bueno Brandão deixado de me reconduzir no logar, o dr. Marcolino de Barros e talvez algum imbecil resolveram pretender ridicularizar-me. Fallei e felizmente vi em Bello Horizonte, que o Presidente reconheceu ter eu cumprido o meu dever, achando porém, como medida de prudencia não convir eu continuar em Patos, dizendo e a mim e a outras pessôas que se me reconduzisse haveria de manter-me no logar que o municipio estava em paz, que não convinha, etc.

Fallei que contava com a minha reconducção porque sabia ter cumprido o meu dever e tinha certeza de que se fôsse reconduzido, teria a força moral precisa para desempenhar o meu cargo. Quem conhece a situação de Patos tem me asseverado que o Governo prestou-me um beneficio, pois embora eu tivesse a força de que fallo, não poderia ter mais tranquilidade.

O dr. Marcolino de Barros não respondeu os meus artigos, pela razão muito simples de serem os mesmos irrespondiveis, pois estive longe de calumniar ou de injuriar aquelle cavalheiro, escrevendo o que escrevi, numa linguagem tal, que aqui alguem chegou a dizer-me que eu estava elogiando o dr. Marcolino de Barros.

Emquanto a magistratura estiver debaixo de mandonete semi-selvagem, emquanto as autoridades que abnegadamente cumprem seus deveres tiverem por parte delle, o premio da deslealdade, das pequeninas vinganças, a justiça ha de viver de rastros, a tutella juridica dos fracos será sempre uma mentira.

Felizmente, dia a dia, vae ficando mais patente a sem razão de ser do acto do dr. Marcolino de Barros. Falla-se que a sua intenção verdadeira, não foi afastar do Termo um máo juiz, mas sim mostrar ao povo de Patos, principalmente aos Borges, que a sua politica (do dr. Marcolino) tem força, tem prestigio !!!!

Falla-se tambem, abertamente, que não se desejava somente isso, o “Struggle for life” entrava em acção: era intenção da politica do dr. Marcolino de Barros collocar um parente ou correligionario (que talvez não se empenhasse por isso) na promotoria effectiva da Comarca, tendo se feito uma viagem à Bello Horizonte expressamente para esse fim, conferenciando-se com alto personagem politico. Para se conseguir isso, pediu-se a nomeação do Promotor dr. Fellipe de Medeiros (sem ouvil-o, sem consultal-o) para o meu logar de Juiz Municipal afim de se verificar a vaga suspirada.

A Promotoria effectiva não foi possivel se conseguir, mas firmou-se na interina, dizendo-se mesmo que prestigioso cidadão patense chegou a vestir sobrecasaca afim de ir á casa do dr. Juiz de Dereito da Comarca pedir a nomeação. Mas, o plano estrategico de Von Kluck Marcolino falhou não se tendo rendido o forte da “Promotoria”. Dizem de Patos, que canhões de grossos calibres, de sitio, continuam assestados contra o forte “Promotoria” sendo impossivel este cahir em mãos do inimigo emquanto não se completarem quatro anos, si o Exmo. Sr. dr. Presidente do Estado estiver pelos autos. No meio de tudo isso, o que me fez cahir em triste descrença foi o acto do sr. cel. Farnese Dias Maciel, que se dizia muito amigo do meu sogro, parecendo meu amigo e a quem devotei sempre a mais elevada consideração e grande estima, a respeito de quem ouvi de meu sogro apreciações, julgando-o incapaz de qualquer acto contra mim, dizendo-me que eu não precisava ir a Bello Horizonte tratar de reconducção porque o coronel Farnese Dias Maciel era meu amigo. Nem uma palavra contra o sr. coronel Farnese quero proferir, mas não posso deixar de confessar que me senti contristado, quando soube que o mesmo cavalheiro se empenhava perante o Governo pela minha não reconducção para o Termo de Patos, sendo que ao espirito de S. Sa. Eu não podia deixar de ser tido como cumpridor de meus deveres. Vendo em S. Sa. um espirito superior, incapaz de servir-se de seu prestigio para actos menos dignos, senti, confesso, não odio, mas tristeza.

Quanto ao Sr. dr. Marcolino, nada a se admirar. Fiquei convicto em Bello Horizonte que S. Sa. pouco influe, perante o Governo, pelo que ouvi sabe redigir pedidos “Solemnes” contra colega.

Esteja descançado o Sr. dr. Marcolino de Barros, o seu pedido “Solemne” não me desprestigiou (e nem era possivel) e eu, com toda a minha ingenuidade poderia escrever grosso volume sobre as actividades que conheço em Patos. Muita coisa inedita e deprimente eu poderia escrever sobre a minha não reconducção, mas dou por terminada a minha explicação ao povo, salvo si tiver necessidade de voltar ao assumpto sobre que tive, a contra gosto, de tratar nestes artigos. Motivos varios determinaram a demora deste artigo.

Patrocinio, Outubro de 1914.

JOÃO DA COSTA RIOS.

* Fonte: Texto publicado com o título “Termo de Patos VI” na edição de 08 de novembro de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.

* Foto: Início do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

Compartilhe