Até hoje me lembro do barulho do pessoal dos circos, muitos circos, que aportavam naquela esquina¹, alguns até com animais, inclusive um com um bitelo elefante. E quando tinha o tal globo da morte, ouvia daqui o ronco das motos. Bão demais da conta era a risaiada das crianças com os palhaços, os gritinhos de sustos no momento dos trapézios. Bons tempos que jamais e em tempo algum voltarão. Nessa época dos circos, era o tempo em que por aqui a maioria das ruas não era asfaltada e os moradores tinham por hábito, na final da tarde e boquinha da noite, sentarem-se em cadeiras nos passeios para longos bate-papos, porque o país não era dominado pela bandidagem como hoje. É, hoje, se um policial matar um bandido, tadinho, tá fú. Ao invés, se um bandido matar um policial, tudo normal, porque o cara é bandido. Deixando esse nojo de lado, faço questão de esclarecer que a minha fachada original não é essa aí. Depois de anos aconchegando almas como simples residência, não faz muito tempo transformei-me em espaço para negócios imobiliários, e por isso minha fachada foi adequada a esses negócios. Pra mim, tanto faz, o que importa é que estou sendo útil. Só que a coisa está mudando demais da conta, sô, surgindo edifícios nos lugares das casas. O trem tá rápido demais. Não tenho a mínima ideia de quem é meu atual proprietário e por isso sei lá o que se passa pela cabeça dele. Quanto a esse pessoal que está me ocupando atualmente, também sei lá por quanto tempo. Enquanto isso, os edifícios estão chegando, estão chegando, chegando perto demais. Tá vendo o edifício aí à esquerda? Te pergunto: a casa que estava lá teve chance? Lógico que não, né. Te pergunto só mais essa vez: se resolverem construir um edifício no meu lugar, terei chance? Não precisa responder. Tchau e bença, já faço parte da História de Patos de Minas e quando chegar a minha vez, deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na esquina da Rua General Osório (à frente) com a Travessa Vítor Barcelos (à direita), em frente à Praça Josefina Mourão. A esquina citada pelo imóvel é a da Olegário Maciel com Tiradentes, onde hoje está o INSS. Naquele tempo, dali para baixo era um imenso terreno baldio onde muitos circos armavam as suas lonas.
* Texto e foto (25/02/2024): Eitel Teixeira Dannemann.
