Indo para Presidente Olegário, a entrada do sítio-moradia do Alfredinho fica mais ou menos uns dois quilômetros depois do Posto Cometa, um cantinho aprazível no meio de uma natureza garbosa e pertinho do Ribeirão da Mata. Caboclinho ajeitado de bom, mas tremendamente sistemático, tão sistemático que quando está assistindo TV e ouve o repórter falar câmera de segurança ao invés de câmera de monitoramento, fica fulo da vida, porque para ele nenhuma câmera oferece segurança alguma e simplesmente registra imagens. E quando ouve um tutor do pet ao invés de dono do cão ou gato, aí ele vai à Lua.
Quem não sabia dessa característica do Alfredinho é um estudante de engenharia amigo de seu filho, que apareceu por lá num sábado de manhã. Recebido pela mãe, esta disse que ele estava com o pai no curral. Chegando lá, foi informado pelo Alfredinho que o filho tinha ido num pasto adiante e que logo estaria de volta. Então, ficaram os dois conversando. Nisso, o jovem começou a apontar alguns defeitos do curral que poderiam facilmente ser corrigidos e foi seguindo até com sugestões para melhoria na casa e etc. e tal. Aquilo foi enervando o Alfredinho até que ele enfezou:
– Ô jovem, quero te mostrar uma coisa muitíssimo interessante. Essa bitela árvore aqui, se eu te contar você não vai acreditar, mas vou contar assim mesmo, ela dá uns potinhos de tinta roxa.
Era um enorme pé de jambolão já no final de safra, com uns poucos frutos escondidos no alto, mas que o Alfredinho sabia perfeitamente que tinha pelo menos uns quatro ninhos de sanhaço, que são loucos pelo frutinho, para aproveitar até o último. O jovem, ao ouvir aquilo, não sabia se ria ou se debochava do coroa. E o Alfredinho insistindo:
– Encosta no tronco e repara bem lá no alto que você vai ver os potinhos de tinta roxa.
Para não evidenciar que considerava aquilo uma insanidade, o jovem fez exatamente o que o Alfredinho pediu, só para não aborrecer o pai de seu amigo. Olhou bem para cima e como não viu nada, clamou:
– Não estou vendo nada, Seu Alfredinho, venha aqui me mostrar.
– Corre bem os olhos lá em cima com calma que você vai acabar vendo pelo menos um.
Não deu nem um minuto e recebe no ombro as descargas intestinais de dois sanhaços, deixando duas marcas roxíssimas em sua camisa branca como a neve. Não deu tempo nem para o jovem questionar o que era aquilo e o Alfredinho explicou:
– Ó jovem, deu azar, hêim, é que essa árvore já é muito idosa e de umas safras pra cá deu pra produzir potinhos com vazamento.
É certo que nunca mais o jovem buliu com o Seu Alfredinho.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.